Anulação de votações coloca em xeque “democracia” das DAOs

“A tribo falou”. Quer dizer, a menos que a liderança da “tribo” anule a votação inicial dos membros e repita o processo eleitoral até chegar ao resultado desejado pelos líderes
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(Foto: Shutterstock)

Em tempos de questionamentos à democracia, a história da anulação dos desejos de uma comunidade descentralizada mostra que o problema pode estar chegando ao universo da web3.

Em abril, um protocolo de concessão e tomada de empréstimos chamado Rari foi hackeado e perdeu aproximadamente US$ 80 milhões, entre sete pools de liquidez diferentes.

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Após a invasão que fez o Rari perder US$ 80 milhões, comunidades envolvidas se reuniram para apresentar uma solução. As três opções que surgiram giravam em torno da possibilidade de reembolsar usuários afetados, não recompensar usuários ou propor uma alternativa.

As opções foram colocadas em votação na Snapshot, plataforma de votação para organizações autônomas descentralizadas (ou DAOs).

Após as votações terem sido encerradas no dia 16 de maio, a comunidade havia votado unanimemente a favor de reembolsar os usuários afetados, com quase 34 milhões de votos expressos.

Já que o desejo da comunidade foi manifestado e uma direção havia sido estabelecida, os próximos passos eram bem evidentes, certo?

Não foi bem assim.

Resultado da primeira votação na Tribe DAO (Imagem: Snapshot)

Uma segunda votação no dia 12 de junho vetou a proposta inicial de reembolsar os fundos hackeados.

Jack Longarzo, membro da Rari e contribuidor principal da Tribe DAO — resultado da fusão dos protocolos Rari e Fei em dezembro de 2021 —, argumentou que a votação original em maio não era muito clara “sobre como o pagamento seria implementado”.

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Uma semana depois, uma terceira votação foi realizada, basicamente perguntando a mesma coisa: A comunidade deve pagar as vítimas do hack ao Fuse? Desta vez, a comunidade votou em peso contra a ideia.

Resultado da terceira votação na Tribe DAO (Imagem: Tally)

Naturalmente, a terceira votação gerou muitas críticas por haver tanto dinheiro em jogo.

“Existem histórias dramáticas em CeFi [finanças centralizadas/tradicionais], mas esse é um novo ponto baixo para DeFi [finanças descentralizadas]”, tuitou o fundador da Frax Finance, Sam Kazemian.

A Frax havia apoiado Fei e Rari inicialmente e também perdeu cerca de US$ 13 milhões no hack.

Além disso, parece que havia bem mais dinheiro do que o necessário para dar às vítimas. Kazemian citou outros dados mencionados durante discussões que mostravam que o projeto teria bastante dinheiro (e mais ainda) para pagar completamente as vítimas.

Sem governo

Sem dúvidas, é complicado. Mas deixando o drama de lado, existe outra grande vítima nessa situação: governança em uma DAO.

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Ao voltar atrás no desejo inicial da comunidade naquela votação inicial de maio, a liderança da Tribe DAO basicamente disse: “Seus primeiros votos não contam porque vocês não votaram pelo resultado que queríamos”.

E além do dano reputacional a esses indivíduos em posições de liderança — que, certamente, têm seu valor em ouro digital nessa indústria —, existem poucos recursos para membros da comunidade.

O que pode ser feito quando você descobre que seu voto não vale nada?

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.