Atualização: Após a publicação da reportagem, o criador da empresa entrou em contato e enviou um novo posicionamento.
A plataforma de criptomoedas Anubis Trade parou de pagar os clientes horas depois de ter sido vendida de surpresa para Atlas Quantum na quinta-feira (26). Sem qualquer solução apresentada pela empresa, investidores já falam em procurar o Judiciário para resolver o problema.
O prazo de saques que era de 24h já superou uma semana. Além disso, o criador da plataforma, Matheus dos Santos Grijó desapareceu das redes sociais e não vem dando informações sobre o que está acontecendo.
Questionado, Grijó disse via Whatsapp o seguinte:
“Assessoria de imprensa do grupo Atlas, assim como o setor jurídico, pediram gentilmente que eu não realizasse nenhuma entrevista, antes de um posicionamento prévio dos mesmos”.
Num grupo fechado do Facebook, foram contabilizadas 41 pessoas com saques atrasados. Um desses investidores, que preferiu não se identificar, contou ao Portal do Bitcoin que está com 1,3 bitcoin presos:
“Solicitei o saque quinta de noite, assim que eu soube da notícia da venda para Atlas. Eu não queria ser cliente dessa empresa”.
A maior preocupação dele era de ter as criptomoedas retidas igual ao que está acontecendo com os clientes originais da Atlas.
Segundo esse investidor, havia muita gente vendendo com deságio as criptomoedas da Atlas, as quais ficaram conhecidas popularmente como “bitatlas”.
Anubis sem solução
Ele relatou que após muita reclamação, Grijó chegou até a conversar com ele no privado pedindo o id e o número de saque. Entretanto, nada foi resolvido até então.
“Achei que ele iria agilizar alguma coisa, mas não fez nada. No outro dia, eu perguntei do meu saque e ele falou que estavam pagando por ordem de antiguidade e que a partir dali já não era mais com ele”.
Jogo de empurra
Uma outra pessoa que também solicitou que sua identidade não fosse revelada disse que entrará com uma ação judicial, pois não tem mais esperança alguma de receber espontaneamente os seus bitcoins.
Ela vem tentado conversar diariamente com o suporte da empresa, que nada resolve. Como o outro investidor que conversou com a reportagem, ela apenas recebeu uma mensagem afirmando que o “saque está na fila de processamento” e que “todos os saques estão sendo processados e enviados”.
Um terceiro investidor, com 0,3 btc na plataforma está com receio de não conseguir recuperar o que injetou na empresa.
“Tenho medo de que a Anubis tenha dado um golpe nos clientes. Estou providenciando minha entrada com a ação contra a Anubis e contra o Matheus (Grijó). Pelo que estão fazendo não tenho esperança”, disse.
Sob nova direção
Em uma mensagem de áudio divulgada por Grijó, ele buscou se isentar da responsabilidade pelos fundos dos que até então eram de seus clientes.
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“Eu não tenho mais responsabilidade nos fundos. A gestão agora é total da Atlas. Eu não posso roubar os bitcoins e entregar aos clientes na hora que eles querem”, afirmou.
Apesar de dizer que ainda está dando suporte, Grijó explicou que a empresa não mais lhe pertence.
“O que não entenderam ainda é que eu não sou mais dono. A empresa foi vendida para a Atlas. Ela é responsável legal por tudo”.
Segundo o criador da Anubis, estariam no contrato cláusulas que protegeriam todos os clientes, mas ele não especificou quais.
A Atlas Quantum foi procurada pela reportagem, mas a empresa não se manifestou sobre o assunto até o fechamento dessa matéria.
Analisando Direito
A advogada Rosine Kadamani, co-fundadora da Blockchain Academy, disse que “o caso contém diversos elementos de potencial questionamento de cunho legal, em diferentes níveis”.
Tendo em vista que a Anubis Trade foi adquirida pela Atlas Quantum, após essa empresa estar proibida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de fazer oferta pública de arbitragem com criptomoedas, a advogada apontou algumas responsabilidades por parte do antigo gestor da empresa adquirida.
Segundo Kadamani, o fato de expor os seus clientes a uma empresa que tem sua operação sendo questionada sem dar a eles a oportunidade de optar por outra via pode na perspectiva do direito consumerista acarretar sanções por infração penal previstas no Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078/90).
Como se isso não fosse o bastante, a advogada ainda pontuou sobre o risco que a Anubis Trade terá com a CVM, pelo fato de esses clientes também serem investidores.
“Em sendo tais clientes também investidores, é certo que esta ação da Anubis vai de encontro com as preocupações da autoridade de mercado de capitais, na medida em que está direcionando seus clientes para uma instituição cuja operação tem sido questionada por esta autoridade”.
Contraponto
Após a publicação da reportagem, Matheus Grijó enviou ao Portal do Bitcoin a mensagem abaixo:
A Anubis vinha sendo requisitada para diversas conversas desde cooperação técnica a eventuais aquisições. Como é normal nesse tipo de operação, todas exigiam acordos de confidencialidade, aos quais assinamos para iniciar as conversas e estes permanecem válidos.
A Transação está sob um contrato que requer uma série de confidencialidades e é regido pelas Leis do Brasil. Tudo foi feito conforme mandam as leis locais.
Transações desse tipo, que envolvem ativos financeiros e base de clientes, já ocorreram e ocorrem no Brasil e no mundo. Diversas transações no setor bancário seguiram exatamente o mesmo rito, início de conversa, acordo de confidencialidade, discussões e contrato final e somente a partir desse momento a divulgação, como pode ser observado em:
2017: Itaú compra pare da XP
2017: Itaú compra Citibank
2016: Bradesco compra HSBC
2009: Itaú funde com a Porto Seguro
2009: Banco do Brasil compra parte do Banco Votorantim
2008: Itaú funde com o Unibanco
2007: Santander compra Banco Real
2006: Itaú compra BankBoston
2003: ABN Amro compra o Sudameris
2003: Bradesco compra BBVA
2000: Santander compra o Banespa
O mercado de cripto moeda ainda está amadurecendo e a transação entre Atlas e Anubis é uma das primeiras no setor, porém seu formato no mundo de Fusões e Aquisições é corriqueiro.
Conforme comunicado da Atlas, “O objetivo das empresas é de unir as experiências em tecnologia e investimento para ampliar ainda mais a transparência das operações das empresas e oferecer oportunidades aos clientes.”, e este foi um dos meus maiores motivadores para seguir na transação.
Por força de contrato não posso dar mais detalhes no momento.
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