Desde que li, em outubro de 2024, a manchete do Valor Econômico que dizia “Investidores não sabem diferença entre ações e dívida”, essa ideia não me saiu da cabeça.
Com o início de 2025, decidi que era o momento certo para refletir sobre esse tema e compartilhar aqui alguns pontos que considero fundamentais. Afinal, como podemos falar em avançar no mercado financeiro e em tokenização, se os conceitos básicos do mercado ainda são um desafio para tantos investidores?
Por isso, decidi trazer aqui para nosso espaço as diferenças entre ações e títulos de dívida, os papéis de cada um no mercado e como essas duas modalidades se complementam. Mais do que isso, quero reforçar por que esse entendimento é tão crucial para o investidor do futuro.
Ações: uma porta de entrada para o capital social
Quando você compra uma ação, está adquirindo uma pequena fração de propriedade de uma empresa.
Isso significa que você passa a ser um acionista, com direito a participar nos lucros (por meio de dividendos, caso a empresa os distribua) e, em alguns casos, até mesmo influenciar as decisões da companhia por meio de votos em assembleias.
Porém, também é importante entender os riscos envolvidos. A valorização de uma ação está diretamente ligada à performance da empresa e às expectativas do mercado.
Isso significa que, se a companhia tiver problemas financeiros ou não corresponder às expectativas, o investidor pode sofrer perdas significativas.
Assim, investir em ações costuma ser mais adequado para quem tem tolerância ao risco e busca ganhos no longo prazo.
Títulos de dívida: uma relação de credor
Diferentemente das ações, títulos de dívida representam um empréstimo feito pelo investidor à empresa ou ao governo.
Exemplos incluem debêntures, notas comerciais, CDBs e até mesmo os títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional.
Ao adquirir um desses títulos, você está emprestando dinheiro em troca de um rendimento previamente acordado, que pode ser fixo ou atrelado a algum índice, como o CDI ou a inflação.
A grande vantagem desse tipo de investimento é a previsibilidade. Você sabe (ou tem uma boa ideia) de quanto receberá ao final do período.
Por outro lado, os retornos tendem a ser menores em comparação às ações, justamente porque o risco também é mais baixo.
Nesse caso, investir em dívida pode ser uma escolha interessante para quem busca estabilidade ou quer equilibrar a carteira com ativos de risco reduzido.
Porém, é necessário atenção, já que nem sempre os títulos de dívida serão realmente menos arriscados. É sempre fundamental, seja no caso das ações ou do empréstimo, pesquisar sobre a instituição na qual você vai investir.
Rivais ou complementares?
No mercado de capitais, entendemos que ações e dívida não são concorrentes, mas complementares.
Enquanto as ações permitem às empresas captar recursos sem a obrigação de reembolso imediato, os títulos de dívida oferecem um caminho para levantar fundos com a promessa de devolvê-los no futuro, com juros.
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Para os investidores, o segredo está em entender o papel de cada um dentro de uma carteira diversificada.
Jovens com horizonte de longo prazo podem priorizar ações, aproveitando o potencial de crescimento e a possibilidade de ganhos expressivos.
Já investidores mais conservadores, ou que estão próximos da aposentadoria, podem se beneficiar da previsibilidade e segurança dos títulos de dívida.
Sempre vai depender da operação e dos objetivos de quem está investindo!
Conexão com o mercado macro
No contexto macroeconômico, a escolha entre ações e dívida também pode ser influenciada por fatores externos.
Por exemplo, em cenários de alta taxa de juros, os títulos de dívida tendem a se tornar mais atrativos, pois oferecem rendimentos elevados com menor risco.
Em contrapartida, em períodos de crescimento econômico e juros baixos, as ações podem se destacar, impulsionadas pelo aumento da lucratividade das empresas.
Entender essa dinâmica é essencial não apenas para o investidor individual, mas também para o desenvolvimento do próprio mercado de capitais.
Quanto mais pessoas compreenderem essas diferenças e souberem utilizar esses instrumentos de forma inteligente, maior será o impacto positivo na economia como um todo.
Educação como pilar fundamental
A reportagem do Valor que mencionei no início da nossa conversa evidencia um problema que vai além da falta de conhecimento: mostra como a educação financeira ainda é negligenciada no Brasil.
Investir não é apenas uma questão de sorte ou palpite; é sobre tomar decisões informadas e alocar recursos de maneira estratégica.
No momento em que o mercado financeiro discute tokenização e transformação digital, entender as diferenças entre ações e títulos de dívida é mais importante do que nunca.
A tokenização traz novos formatos para investimentos, mas a base é a mesma: compreender como funcionam os ativos e como eles se encaixam em uma carteira.
Investidores bem-informados são fundamentais não apenas para tomar decisões inteligentes, mas também para impulsionar a evolução do mercado como um todo.
A tokenização não é um bicho de sete cabeças. Ela é, na verdade, uma extensão do que já conhecemos, com mais eficiência e flexibilidade. Mas para que esse ecossistema prospere, é essencial que investidores — de iniciantes a experientes — entendam os principais conceitos.
Neste espaço, continuarei trazendo reflexões que ajudam a descomplicar o mercado financeiro e a transformar conhecimento em resultado. Nos vemos por aqui!
Sobre o autor
Daniel Coquieri é CEO da empresa de tokenização de ativos Liqi Digital Assets. Empreendedor do ramo da tecnologia, foi fundador da BitcoinTrade, uma das maiores corretoras de criptomoedas do Brasil.
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