Imagem da matéria: A volta dos NFTs do Coachella e a máxima da isca de engajamento
(Foto: Shutterstock)

Aparentemente, o Coachella parece ter superado o trauma do colapso da FTX. Depois de escantear seus colecionáveis digitais oriundos da parceria com a falida corretora da edição do ano passado, o festival voltou a falar em “fornecer experiências exclusivas na vida real e online por meio dos NFTs” para 2024.

O Coachella Keepsakes, o primeiro de três coleções, foi lançada no último dia 5 via OpenSea. Vendido a US$ 1.499, ele dá acesso a um Vip Pass para o Oasis Lounge, “um um espaço tranquilo que oferece uma variedade de bebidas de cortesia.”

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As demais séries entregam “mercadorias de edição limitada exclusivas para titulares” e “uma lembrança da colaboração artística.”

Os organizadores dizem estar “entusiasmados em trabalhar em novos casos de uso”. Pergunto: quais seriam?

Sinto informar-lhe, Coachella, mas você está apenas replicando os mesmos formatos fracassados na tentativa de levar os ativos digitais para o mainstream em iniciativas pontuais com o pretexto de oferecer benefícios por meio de tokens. Não há novidade!

E as frases aspeadas propositalmente evidenciam o quão enraizado segue aquele discurso clichê e vazio sobre usar a tecnologia para “aumentar as conexões entre fãs e marcas” e blá, blá, blá…

Quer entender como o jogo pode mudar um pouco de figura?

No início de fevereiro, a Mastercard promoveu um quiz sobre a UEFA Champions League liberado todas as terças-feira 30 minutos antes dos jogos da competição. Os participantes têm seu desempenho elencado em um raking e tornam-se elegíveis para concorrer a ingressos, incluindo o da grande final no Estádio de Wembley, em 1º de junho.

Fãs dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Espanha e Brasil podem participar do torneio desde que tenham coletados “passes NFT da marca por meio da plataforma Pass to Priceless.”

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As funcionalidades de gamificação como a proposta pela Mastercard despontam como uma sobrevida aos produtos digitais na busca pelo apreço do fandom esportivo – favor não confundir esta categoria ampla e não nativa com especuladores que se passam por torcedores.

Esta abordagem foi sugerida por Scott M. Lawin para atingir a classe definida por ele como “crypto curious” e “no-coiners alike”. E há um tom de apelo feito pelo cofundador e CEO da Candy Digital, a plataforma blockchain para esportes usada pela Major League Baseball (MLB):

“Os fãs querem ser jogadores, não apenas proprietários. Os fãs querem se conectar, e não apenas colecionar.”

Lawin se apega ao 2023 Future of Sports Fandom da Deloitte para reforçar sua crença que ainda em 2024 os “projetos Web3” para esportes poderão ganhar tração a partir da entrega de plataformas que geram mais interações. Será?

A Altman Solon 2023 Global Sports Survey conversou com 150 executivos de esportes sobre o impacto das novas tecnologias na indústria. E a principal conclusão da maioria (79%) é de que a produção automatizada de conteúdo puxará a fila entre as grandes inovações. Do total, 52% acreditam no aumento de conteúdo a partir da gamificação, estatísticas e AR/VR.

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Em relação à Web3, só 26% a enxergam como uma “tecnologia que fará a diferença” nos negócios.

É bem provável que o resultado reflete não só a falta de conhecimento sobre como de fato usar a blockchain, como também sinaliza o atropelo que a pauta Web3 sofreu a partir das conversas incessantes sobre inteligência artificial.

Como mostrei em meu último artigo aqui, a pregação teórica e exaustiva ainda não superou o desinteresse e o repúdio do mainstream em relação à criptografia e blockchain.

Ao contrário de Lawin, não enxergo 2024 – e nem os próximos – como o ano da retomada, especialmente considerando esta toada carente de criatividade e de uma real utilidade que quebra ao meio a fadiga do discurso para nativo digital ver.

Resgato o que Thomas Euler escreveu há quase um ano em artigo publicado no SportsPro Media: os fãs não desejam pseudo-interações ou ‘iscas de engajamento’ que carecem de sinceridade.

Para o dono da Liquiditeam, plataforma blockchain usada pelo Borussia Dortmund em 2021, “a impressão geral é que tudo o que a Web3 tem a oferecer são lançamentos vazios de NFT e projetos de token.”

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Por ora, a tônica é a mesma, e a definição de Euler não irá envelhecer tão cedo. Os novos (?) NFTs do Coachella e a enxurrada de fan tokens e figurinhas digitais com as quais você já se deparou estão aí para ratificar essa máxima.

Sobre o autor:

Eduardo Mendes é consultor para cultura e inovação. Cofundador da The Block Point (TBP), a primeira newsletter em português sobre Web3 no Brasil, ele é co-criador do Território Alvinegro, a plataforma que reúne as iniciativas digitais do Atlético-MG. Também foi responsável pelo primeiro case do uso de produtos digitais em um festival de live música no Brasil com a T4F, e desenvolveu o projeto piloto de Web3 da OneFootball no país com a TBP.

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