Em setembro, o Escritório de Ciência e Tecnologia da Casa Branca divulgou um relatório alegando que a mineração de Bitcoin, feita pelo mecanismos de consenso Proof of Work (PoW) impacta de forma negativa o meio ambiente, chegando a sugerir a proibição dessa atividade.
O documento diz que o uso de eletricidade para validação de ativos digitais contribui para emissões de gases de efeito estufa e poluição.
Segundo o relatório, caso necessário, o governo deve explorar ações executivas e o Congresso pode considerar uma legislação para limitar ou eliminar o uso de mecanismos de consenso de alta intensidade energética para mineração de criptoativos.
Ainda foi escrito que as fazendas de mineração criam estresse na rede elétrica. Isso então poderia levar a apagões, risco de incêndio e deterioração do equipamento utilizado, além de aumentar o custo médio de eletricidade para os consumidores locais.
Foi somente após várias críticas que o documento citou formas sustentáveis de mineração de criptomoedas.
Por exemplo, a mineração pode até mesmo beneficiar as metas climáticas americanas, se houver a instalação de equipamentos que usam o metano liberado na atmosfera para gerar eletricidade e alimentar as mineradoras. Isso teria maior probabilidade de ajudar do que atrapalhar as metas climáticas dos EUA.
Vale lembrar que um eventual banimento contra o sistema Proof of Work afetaria não só o Bitcoin, como também a Litecoin, DogeCoin, Ethereum Classic, Dash, Monero e mais uma gama considerável de moedas.
Já o Ethereum não seria afetada num cenário de aperto regulatório contra moedas mineradas, já que agora ela é uma moeda que tem como consenso o sistema de Proof of Stake (PoS).
Mas não se engane: o governo americano está discutindo se o Ethereum é um ativo mobiliário e se, portanto, também seria passível de regulação pela CVM dos EUA, a SEC.
Mas o Bitcoin e a mineração de criptomoedas são tão ruins assim para o meio ambiente?
Sempre que eu leio um estudo que tende a olhar demais para uma face da moeda e quase esquece a outra, a desconfiança é o principal sentimento que tenho. Desconfiança de que haja parcialidade aberta sobre o tema discutido.
Muitas vezes, isso acontece simplesmente porque um relatório foi feito com um viés bem definido, uma finalidade específica. No nosso caso, talvez a ideia já tenha sido simplesmente dar brecha para criticar e talvez proibir o maior ativo digital do mercado.
Mas vamos deixar de lado esse “estudo” e vamos a fatos.
De acordo com o Bitcoin Mining Council, estima-se que cerca de 60% da energia utilizada para a mineração de Bitcoin venha de energia sustentável.
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É bom ter em mente ainda que a China, que utilizava carvão como fonte de energia de parte de suas máquinas, baniu a atividade de mineração. O país já foi um grande minerador e sua fonte energética não era ecologicamente adequada.
No ano passado, um estudo da Galaxy Digital concluiu que o Bitcoin consome apenas metade da energia do sistema bancário atual. Além disso, o uso de energia para fomentar o mercado de ouro também é maior do que o Bitcoin.
Palavra de minerador
Para entender melhor como um minerador pensa em relação a esse embate sobre energia e Bitcoin, é interessante citarmos trechos da palestra de Jakov Dolic, fundador da Genesis Mining, no Evento Plan B, em Lugano, na Suíça.
Segundo Dolic, a energia verde, renovável, é a forma mais barata de toda a eletricidade do mundo. Então, pensando como um minerador, o melhor investimento que pode ser feito agora é em infraestrutura de energia renovável. E é isso que está acontecendo.
Estes investimentos não estão sendo feitos porque mineradores estão preocupados com causas ambientalistas ou políticas ESG. A decisão se torna fácil pelo custo reduzido da energia renovável.
Mais que isso, Dolic ele explica que o mundo não está ficando sem energia, mas sim sem formas de energia utilizáveis como eletricidade. Assim, tudo que precisamos é colher essa fonte sem fim de energia renovável (vinda do sol, lua, ventos e maré) e transformá-la em eletricidade, o que pode ser feito se construirmos usinas de energia novas e adicionais.
A pergunta que ficaria é: quem pagaria por essas construções? Ele, como minerador, explica que os próprios mineradores construirão o máximo de infraestrutura de energia renovável possível, seja eólica, solar ou qualquer outro tipo possível.
Isso é lucrativo agora e, se um dia a mineração não for mais vantajosa, as usinas criadas poderão vender a energia gerada para terceiros, continuando assim a fazer dinheiro.
A prova da fala de Dolic pode ser lida no Fórum Econômico Mundial, que destacou que as energias renováveis foram as fontes mais baratas de 2020.
Assim vemos que a desculpa da Casa Branca para procurar formas de coagir mineradores e participantes da rede Bitcoin não consegue emplacar mais.
Na sua opinião, qual vai ser o próximo pretexto que governos ao redor do mundo usarão como motivação para proibir as criptomoedas?
Sobre o autor
Fabrício Santos é especialista em blockchain e criptomoedas da Criptomaníacos, contribuindo no setor de conteúdo e pesquisa na empresa desde 2019.