Na semana passada, o banco digital Nubank recebeu um novo aporte, desta vez de US$ 750 milhões. O principal investidor, com US$ 500 milhões, foi a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett.
Após essa rodada, a dona do cartão de crédito “roxinho” foi avaliada em US$ 30 bilhões, posicionando-se à frente do Banco do Brasil e XP Inc. Cabe lembrar que o Nubank possui mais de 40 milhões de clientes, e adquiriu a corretora de valores Easynvest no final de 2020.
Nubank dá lucro?
Não. Perdeu R$ 230 milhões em 2020, porém a receita de intermediação financeira cresceu 79%. Além disso, atingiu 20% de todas as chaves PIX emitidas no país, com uma carteira de empréstimos de R$ 1 bilhão e inadimplência de 3,7%.
Ou seja, quem compra participação no banco digital está mirando no crescimento da base de clientes, que inclui expansão para outros países da América Latina, além da oferta de novos serviços após a integração da corretora de valores.
O que daria para comprar com US$ 30 bilhões?
A Telefonica (TEF.US), empresa de telecomunicações da Espanha, dona da Vivo no Brasil, está avaliada em US$ 29 bilhões. A empresa apresentou lucro de U$ 2,4 bilhões nos últimos 12 meses, embora sem crescimento anual, por ter operações maduras.
A gestora de investimentos State Street (STT.US), possui 40 mil funcionários, e administra U$ 3,3 trilhões. A empresa teve lucro de U$ 2,36 bilhões nos últimos 12 meses, enquanto suas ações estão avaliadas em US$ 29 bilhões. Novamente, trata-se de uma empresa sem crescimento, porém diversificada e com sólidos fundamentos.
Em resumo, o lucro dessas empresas acima é suficiente para comprar a Nubank em 12 ou 13 anos.
Mas e o crescimento, o potencial do “roxinho”?
A verdade é que nenhum desses bancos digitais dá lucro hoje, por isso é difícil entender o potencial desse mercado. Bancos com perfil média-alta renda, como a XP Inc, conseguem arrancar R$ 1.200 por ano de cada cliente.
Assumindo que o Nubank consiga atingir 40 milhões de clientes ativos, e atingindo 10% do que faz a XP Inc por cliente, estamos falando num lucro anual de R$ 4,8 bilhões. Isso equivale a um preço/lucro (P/E) em 2 ou 3 anos de 32 vezes, em linha com seus concorrentes.
Enfim, não é nada impossível a Nubank entregar as promessas, mas, acho um doido varrido quem abre mão de receita diversificada em moedas fortes como Telefonica e State Street.
Resumo da ópera
Quando medimos no relativo, nada está “caro”. É tanto dinheiro sendo injetado com juros baixos, que tudo é oportunidade de crescimento. A dúvida é quanto disso sobrevive sem tanto estímulo.
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Desde maio de 2017, faz arbitragem e trading de criptomoedas.