A capitalização de mercado do Bitcoin está encolhendo em relação a outras criptomoedas populares à medida que o presidente dos EUA, Donald Trump, continua a recuar da sua antes vertiginosa guerra comercial. Mas isso não significa que a “temporada das altcoins” esteja chegando, segundo analistas.
Eles afirmam que a recente mudança para ativos de risco — que impulsionou o Ethereum e outras altcoins — pode não durar diante das incertezas macroeconômicas em curso, e que os investidores podem voltar a favorecer o Bitcoin, considerado um ativo de porto seguro, caso a volatilidade retorne.
“Quando os mercados estão focados na instabilidade macroeconômica e nos riscos ao dólar americano, a dominância do Bitcoin provavelmente aumentará”, disse Zach Pandl, chefe de pesquisa da gestora de ativos cripto Grayscale, ao site Decrypt. “Quando os mercados estão focados em todas as aplicações da tecnologia blockchain e na inovação no setor cripto, a dominância do Bitcoin tende a cair.”
No sábado, a capitalização de mercado do Bitcoin estava acima de US$ 2 trilhões. Os indicadores de dominância variam de acordo com o número de moedas analisadas, mas mostram de forma consistente que o BTC está em seu maior nível em quatro anos, tanto em relação às principais altcoins quanto ao mercado total.
Dados da TradingView mostram que, entre as 125 principais criptomoedas por capitalização de mercado, o Bitcoin representa cerca de 63,5% do valor total combinado. No início deste mês, a dominância do Bitcoin chegou a 64,89%, seu nível mais alto desde janeiro de 2021. Já os dados do CoinGecko indicam dominância de 60,4% em comparação com todas as outras moedas acompanhadas no mercado.
Nas últimas duas semanas, o preço do Ethereum subiu 36%, alcançando cerca de US$ 2.485, superando o crescimento do Bitcoin e causando um pequeno, mas perceptível, impacto na dominância do BTC, juntamente com outras altcoins que também dispararam mais do que o Bitcoin no mesmo período.
O Ethereum foi uma das criptos mais afetadas pelos esforços iniciais de Trump para reformular o comércio global, com seu preço despencando 45% no primeiro trimestre e caindo abaixo de US$ 1.500 em abril, segundo dados do CoinGecko.
O Bitcoin se beneficiou de sua imagem como um ativo não soberano, semelhante ao ouro, atraindo a maior parte dos fluxos de capital para o setor cripto por meio de produtos como os fundos negociados em bolsa (ETFs), aprovados no ano passado, disse Pandl.
Em ciclos anteriores de mercado, a dominância do Bitcoin caía após o pico de seu preço, quando os traders passavam a investir em altcoins com maior risco — uma narrativa antes dominante na indústria. No entanto, os ETFs de Bitcoin à vista podem contrariar essa dinâmica, por serem produtos que não permitem ao investidor buscar ativos alternativos diretamente na blockchain.
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Pandl afirma que, no intervalo de nove a doze meses, a dominância do Bitcoin tende mais a se estabilizar entre 60% e 70% do mercado total, do que a cair bruscamente. “É uma decisão difícil”, acrescentou, “considerando que o Bitcoin e as altcoins têm vetores distintos de valorização que podem atuar ao mesmo tempo.”
“Estamos, de certa forma, igualmente otimistas em relação ao Bitcoin, por razões macroeconômicas, e às altcoins, por motivos tecnológicos e de adoção”, disse ele. “Minha hipótese de trabalho é que a dominância se estabilize a partir de agora.”
Juan Leon, estrategista sênior de investimentos da gestora cripto Bitwise, disse ao Decrypt que a queda na dominância do Bitcoin reflete o aumento do apetite por risco dos investidores. A pausa de 90 dias nas tarifas anunciada por Trump, combinada com a queda na inflação, está aliviando as preocupações mais amplas com uma possível desaceleração na economia dos EUA e aumentando as esperanças de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve, afirmou ele.
Taxas de juros mais baixas tendem a beneficiar ativos de risco, como ações e criptomoedas, devido ao crédito mais barato e à maior liquidez. Quando o Fed reduziu os juros no ano passado, os preços das criptos dispararam — embora isso tenha ocorrido antes da eleição do primeiro “presidente pró-cripto” dos EUA.
O sentimento de Leon foi compartilhado por Greg Magadini, diretor de derivativos da provedora de dados cripto Amberdata, que disse ao Decrypt que o mercado tem tido “uma forte recuperação em ativos de risco durante toda a semana, o que foi ótimo para as altcoins”.
Magadini observou que o preço do ouro caiu à medida que as negociações comerciais entre EUA e China avançaram. O Bitcoin, que “oscila entre um ativo de risco e um ‘ouro digital’”, perdeu terreno para as altcoins, que são “uma aposta puramente de risco”, acrescentou.
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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