Pilha com varias moedas de Ethereum
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Agosto foi um mês complicado para o mercado de criptomoedas, que sofreu com o mercado tradicional e temores de recessão e juros nos Estados Unidos. Mas uma cripto em especial parece que tem sofrido mais que as outras, o Ethereum (ETH).

Com uma queda de 22%, agosto foi o pior mês do token desde junho de 2022, quando desabou 45% em um cenário de colapso do ecossistema Terra (LUNA). Para se ter uma ideia, mês passado o Bitcoin (BTC) recuou 8%, enquanto o valor de mercado total do setor cripto caiu apenas 5%.

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E as comparações ficam ainda piores olhando o acumulado do ano. Enquanto o ETH registra uma leve queda de 1% até o momento em 2024, cotado a US$ 2.300, concorrentes como o Bitcoin já valorizaram 28% no ano, por exemplo. Dentre as dez maiores criptos em valor de mercado, apenas o XRP, com queda de 15%, está com desempenho pior em 2024.

Gráfico de desempenho do Ether em 2024 (CoinGecko)

Por que o Ethereum está indo tão mal?

O primeiro — e talvez principal e mais controverso — ponto de análise é o lançamento dos ETFs de Ethereum à vista nos EUA, que foram aprovados em maio e começaram a operar na Bolsa americana no dia 23 de julho. Assim como aconteceu com o Bitcoin no começo do ano, a expectativa era que o início fosse conturbado, e foi.

Isso ocorre porque, inicialmente, há um ajuste no mercado devido à entrada de investidores institucionais, e a existência do fundo da Grayscale tem um impacto significativo nos preços. Tanto para os fundos de BTC quanto de ETH, a Grayscale fez a conversão para ETF, mas com taxas mais altas do que seus concorrentes, o que levou a uma forte venda dos ativos e, consequentemente, pressionou os preços para baixo.

“Estamos vendo um resultado extremamente negativo em termos de procura dos ETFs de ether. A gente esperava que no início, nas primeiras duas ou três semanas, tivesse um movimento de venda muito forte, e isso realmente aconteceu. Só que a partir da quarta semana de negociação, começamos a ver uma falta de procura muito forte, ou seja, um desinteresse do investidor institucional”, explica Rony Szuster, analista do Mercado Bitcoin (MB).

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No primeiro mês de negociação, os ETFs de Ethereum registraram, juntos, saídas líquidas de cerca de US$ 476 milhões. Como comparação, os fundos de BTC, em seu primeiro mês, tiveram entradas de mais de US$ 3,7 bilhões, o que mostra como o sentimento do mercado com o ETH está pior.

Para piorar, o lançamento do ETF também coincidiu com um recente pânico no mercado de criptomoedas por conta do cenário macroeconômico depois do banco central do Japão aumentar os juros e sinais de indicadores nos EUA apontarem para uma possível recessão na maior economia do mundo.

Isso derrubou os preços não só de ações nas Bolsas ao redor do mundo, mas dos ativos digitais, incluindo o Ether. E mesmo que o mercado tenha recuperado boa parte das perdas, o clima atualmente ainda é de cautela, principalmente considerando que no próximo dia 18 ocorre a decisão de juros nos EUA.

Ether não é mais deflacionário

E não é apenas o investidor institucional que não parece interessado no Ethereum: esse é um sentimento mais amplo. “O sentimento ao redor [do ETH] está muito ruim”, disse Brian Rudick, pesquisador da empresa de negociação de criptomoedas GSR, em um recente post no X (antigo Twitter).

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Rudick disse que o declínio nas taxas de rede contribuiu para esse pessimismo. Isso porque mais atividade do Ethereum foi transferida para blockchains de segunda camada mais eficientes, como a rede Base, da Coinbase. Essas segundas camadas processam mais transações a um custo menor, o que significa que as taxas na rede principal do Ethereum despencaram.

Essa situação tornou o token Ether, antes deflacionário, inflacionário novamente. “Desde a atualização Dencun, em abril, temos o ETH performando todas as semanas de forma inflacionária, e com uma inflação parecida com a do Bitcoin depois do halving, cerca de 0,7% ao ano”, explica Szuster.

O problema nisso tudo é que o mercado passou a precificar que o Ether seria um ativo deflacionário, ou pelo menos com uma inflação muito próxima de zero, e esse cenário muda um fundamento do ativo e, portanto, suas perspectivas, afirma o analista do MB.

O problema é que até então, o mercado precificava o Ether como um ativo deflacionário, ou pelo menos com uma inflação muito próxima de zero. Esse cenário de volta de inflação da criptomoeda altera um de seus fundamentos e, consequentemente, suas perspectivas, afirma o analista do MB.

“Por um lado, [a atualização] foi boa porque resolveu o problema da escalabilidade, algo que até era um problema bem grande, mas por outro lado acabou piorando os fundamentos da parte do tokenomics do ether, e isso causa um movimento de medo também por parte dos holders de longo prazo, o que é negativo para o ativo”, completa ele.

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Neste cenário, analistas da CryptoQuant apontaram não só que esta questão está realmente pesando para o Ethereum, mas que seu movimento pior que seus pares já vem desde a grande atualização Merge (Fusão, em inglês), que está prestes a completar dois anos.

Segundo eles, desde que o Ethereum mudou para o modelo prova de participação (PoS), ele já teve um desempenho 44% abaixo do Bitcoin. E que mesmo com o lançamento dos ETFs há pouco mais de um mês, o preço ETH/BTC está atualmente em 0,0425, o menor nível desde abril de 2021.

“O Ethereum também teve desempenho inferior a altcoins como Solana e BNB desde a ‘Fusão’, queda de 53% e 18% respectivamente”, disse o chefe de pesquisa da CryptoQuant, Julio Moreno, ao The Block.

Solana é alternativa ao Ethereum?

Falando em comparação com outras altcoins, é comum que investidores coloquem o Ethereum em competição com a Solana (SOL). Isso porque ambas as redes compartilham algumas características, como o uso de contratos inteligentes e a criação de diversos projetos que utilizam suas blockchains como base.

E neste cenário, a SOL está na frente em preço, acumulando em 2024 uma valorização de cerca de 28% até o momento e com um momento de grande empolgação diante da recente onda de memecoins usando sua rede, por meio da plataforma Pump.fun, que permite criar tokens pagando muito pouco.

Szuster concorda que o momento está melhor para Solana, com diversos projetos e novas tecnologias surgindo na rede, com desenvolvimento de mobile e pagamentos. “A Solana está em um movimento ascendente de modo geral, não só de preço, mas também de comunidade, aplicações, desenvolvimento, TVL (Valor Total Bloqueado), dados que são importantes para avaliarmos a saúde de uma blockchain”, afirma.

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Porém, para quem acredita que a Solana irá em breve superar o Ethereum como principal rede de contratos inteligentes, o analista do MB sugere calma. “A Solana ainda é relativamente pequena frente ao Ethereum. Ela hoje tem cerca de US$ 60 bilhões de valor de mercado, enquanto que o Ethereum tem quase US$ 300 bilhões, ou seja, o Ethereum ainda é cinco vezes maior do que a Solana”, explica.

Por isso, por mais que seja importante e positivo o crescimento da Solana, a rede ainda está longe de superar o Ethereum, mesmo que esse esteja em um momento ruim.

Além disso, assim como já vimos acontecer este ano, a Solana também deverá enfrentar seus momentos de baixa, problemas na rede, entre outros desafios. A valorização nunca ocorre em linha reta.

O que esperar do Ethereum agora?

Diante de tanta notícia negativa, o investidor tenta encontrar um apoio para uma reversão. Mas segundo os analistas isso não deve acontecer tão cedo. Para Szuster, o principal fator que poderia ajudar o ETH seria uma mudança de sentimento do investidor institucional, que voltaria a injetar capital nos ETFs.

“Pode ser que isso seja o remédio, mas, a princípio, não tem nada que nos indique que isso vá acontecer no curto prazo. Então, acreditamos que esse movimento [negativo] deva continuar por mais um tempo”, diz o analista ressaltando também a questão macroeconômica.

Atualmente o mercado já começa a ver que os EUA irão começar a cortar juros, o que seria positivo para o mercado cripto, que se torna mais atraente que os títulos do Tesouro americano. Porém, isso ajudaria todos os ativos digitais, ou seja, o ETH pode até melhorar em relação a dólar, mas seguiria atrás do Bitcoin e outras altcoins.

Os analistas da CryptoQuant também avaliam que o Ether pode cair ainda mais em relação ao Bitcoin. “O Ethereum pode cair ainda mais em relação ao Bitcoin, pois o Ether ainda está acima do território de subvalorização. Estimamos que o Ether precisaria cair para cerca de 0,02 na relação com o Bitcoin, uma queda de 50% sobre o valor atual, para entrar em território de subvalorização”, disseram eles.

A CryptoQuant também reforçou que os traders e investidores estão demonstrando uma preferência por Bitcoin em vez de Ether. Isso fica evidente com a queda do volume relativo de negociação à vista do ETH em comparação ao BTC, “com a relação do volume de negociação à vista ETH/BTC diminuindo de 1,6 para 0,76 na semana passada”, acrescentaram os analistas.

Portanto, o investidor não deve esperar uma melhora do Ethereum no curto prazo, sendo importante um acompanhamento do cenário institucional e novidades em relação a novas atualizações da rede, o que pode ajudar nos fundamentos do ativo, que só então poderia começar a ver dias melhores.

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