Longe de mim afirmar que isso aconteceu nesse caso, mas nada como os projetos cripto segurando as notícias sensacionais para anunciar assim que começam os indícios de bull market, vide a subida de 20% no mercado nos últimos 7 dias.
Dessa vez, foi a Arbitrum, um dos principais projetos de escalabilidade do Ethereum, anunciando o lançamento dos seus tokens de governança (ARB) para 23 de março — com mais de 600 mil carteiras elegíveis.
Antes de mais nada, um lembrete rápido: atualmente, o Ethereum processa cerca de 14 transações por segundo. Dada essa limitação, os projetos de camada 2 pretendem ajudar o Ethereum a processar mais transações e, por isso, absorvem em suas próprias redes parte da “carga operacional”. Idealmente, isso é feito de uma forma dá alívio para a rede principal ao mesmo tempo em que mantém vivas as principais premissas de segurança da rede principal.
No nosso mundo de trabalho remoto, a analogia mais próxima que consigo pensar envolve o Google Meets. Sabe quando seu time está no meio de um assunto complexo e decide se dividir em múltiplas salas por alguns minutos? Cada grupo consegue avançar separado no seu tema e depois todos se reúnem novamente na sala principal para “publicar o resultado final”? É exatamente isso que as camadas 2 fazem com o Ethereum.
Em resumo (se você acha que minha analogia não ajudou em nada), peço um voto de confiança: é um dos segmentos mais promissores de toda a indústria, sendo afirmado pelo próprio criador do Ethereum, Vitalik Buterin, que “o futuro do Ethereum é camada 2 por meio de rollups”.
Onde a Arbitrum se encaixa em tudo isso?
Desenvolvida durante anos e com mais de 18 meses de rede em produção, o projeto já conta com mais de 55% do market share no segmento de “camadas 2” — maior que a soma de todos os seus concorrentes. A segunda maior camada 2, a OP, lançou seu token em maio do ano passado e foi catapultado pra top #57 com mais de de US$ 10 bilhões de capitalização de mercado.
Com os tokens $ARB lançados, o projeto pretende descentralizar seu processo de decisão e colocar o poder de voto na mão do token holder com a criação da Organização Descentralizada da Arbitrum (DAO). Com isso, os participantes poderão votar no futuro no futuro da rede e ter mais controle sobre seus direcionamentos estratégicos.
Inclusive, parte do valor futuro do token pode vir justamente do seu direito de conceder (ou não) licenças comerciais para usos da propriedade intelectual da tecnologia Arbitrum, modelo semelhante ao que o Uniswap implementou em sua versão 3.
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Agora, vamos aos pontos positivos. Na minha visão, a Arbitrum conseguiu:
i) encontrar um timing relevante de mercado;
ii) casar o lançamento com anúncio também de uma tecnologia nova (Arbitrum Orbit) em que outros projetos conseguirão usar parte de sua tecnologia pra criar suas PRÓPRIAS redes escaláveis (sim, vamos falar em breve de camadas 3);
iii) deram uma aula sobre democracia líquida, implementando o processo de governança 100% on-chain, ao invés de depender de implementações manuais após o voto da organização descentralizada e;
iv) equilibraram métodos para decisões com prazo mais longo de implementação (21-37 dias com a Arbitrum DAO) e outras mais rápidas em casos de vulnerabilidade crítica (Arbitrum Security Council).
Pra não parecer que sou fã incondicional do projeto: manter um segredo desses guardado por muito tempo é desafiador, mas claramente tiveream insiders que se beneficiaram da informação do lançamento com antecedência, vide o mercado de previsão da Polymarket triplicando a probabilidade do lançamento antes do anúncio público oficial.
De qualquer forma, além do marco histórico pra um dos projetos mais fundamentais do mercado, se seguir a valorização do seu concorrente Optimistic (OP), acompanharemos na próxima semana o nascimento de mais um projeto de valuation bilionário no mercado cripto.
Sobre o autor
Lucas Pinsdorf é responsável por novos negócios no Mercado Bitcoin desde 2017, teve participação no lançamento dos primeiros ativos alternativos digitais brasileiros. No passado, participou de operação de gestão de ativos alternativos e trabalhou no Pinheiro Neto Advogados. É formado em Direito pela USP.