Uma das reflexões mais interessantes no mundo das criptomoedas — que é usada como um reduto da transparência e do código aberto — é se uma plataforma descentralizada se qualifica com um bem público.
Se é um bem público, então o serviço deve estar disponível a toda e qualquer pessoa. Além disso, o uso de tal serviço não o torna escasso para outras pessoas e, geralmente, um bem público é benéfico para todos. Exemplos incluem ar puro ou a internet.
O oposto de um bem público é um bem privado: um pedaço de pizza de um restaurante italiano próximo à sua casa ou um ingresso para o cinema. Você precisa pagar por isso. Existem muitos pedaços de pizzas e ingressos para “Top Gun”.
Na indústria cripto, principalmente no setor de Finanças Descentralizadas (ou DeFi, na sigla em inglês), essa distinção é bem menos clara.
Lido decide não apoiar o Terra
Veja, por exemplo, a recente iniciativa do Lido Finance em não apoiar a nova blockchain do Terra.
“Após uma discussão sobre o lançamento do Lido na segunda versão do Terra , a Lido DAO votou CONTRA a reinicialização do Terra”, tuitou o projeto na quarta-feira (25).
Lido oferece um serviço de staking para diversas blockchains proof of stake (ou PoS), como Solana, Ethereum, Polygon e, anteriormente, Terra. Qualquer pessoa com uma conexão à internet pode usá-lo e as redes que se integram com o Lido também ganham mais stakers (e mais segurança).
Neste momento, por exemplo, a plataforma promete juros entre 4% e 22,6% por staking com o serviço. Esses rendimentos também são pagos com os tokens nativos em staking, ou seja, você pode ganhar 4% em ether (ETH) do que em uma altcoin que está em queda.
A plataforma deslistou LUNA em meio à sua implosão e, agora, votou para não reintegrá-lo após sua reformulação.
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Bloqueou acesso à sua plataforma — no caso, a comunidade Lido votou no bloqueio do relançamento.
Isso significa que Lido Finance é ou não é um bem público? A resposta depende de como você analisa a situação.
Quem se beneficia?
Grande parte dos bens públicos, como fontes de água e parques, são mantidos graças a impostos pagos pelos cidadãos. Mas podem ser aproveitados por todos — até por turistas de outros países. Você pode não ser um holder do token LIDO, o token nativo de governança do Lido, mas você com certeza pode utilizar seu serviço de staking.
Então quem paga por Lido? Usuários, é claro.
A plataforma obtém 10% de suas recompensas por staking e as divide entre operadores de nós — como validadores no Solana e no Ethereum, que operam máquinas 24/7 para manter Lido funcionando —, a organização autônoma descentralizada (ou DAO) e o fundo de seguros do projeto.
Agora, se esses turistas que aproveitam bens públicos quiserem que haja mudanças, então vão precisar ser expatriados. Em termos cripto, neste caso, significa adquirir tokens LDO e entrar para a DAO do projeto pois, embora qualquer pessoa possa entrar no debate informal sobre a votação do Terra, apenas holders de LDO podem votar via Snapshot.
Nesse sistema, você tem todos os componentes de um bem público: um serviço disponível para (quase) todo mundo que, sem dúvidas, serve a um bem maior (mantém a segurança de redes PoS) e é mantida por “impostos”.
Talvez cripto seja dinheiro privado, mas as economias da internet que gera pareçam bem mais com parques nacionais.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.