Apesar dos sinais positivos no mercado brasileiro com o avanço do marco regulatório das criptomoedas, temas como inflação global, Covid na China e juros mais altos ainda dominam as negociações. O Bitcoin (BTC) tem queda de 3,2% nas últimas 24 horas, para US$ 39.082, segundo dados do CoinGecko. O Ethereum (ETH) registra baixa de 3,1%, negociado a US$ 2.903.
No Brasil, o Bitcoin recua 0,9%, para R$ 195.692, segundo o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
A inflação pesa sobre companhias e consumidores, enquanto a promessa do Federal Reserve de apertar a política monetária em ritmo mais acelerado ameaça minar o crescimento da maior economia do mundo. Na segunda maior economia, a da China, o avanço da Covid levou o governo a decretar lockdowns rigorosos, em contraste com a aparente normalidade em outros países após o choque da pandemia que começou em 2020.
Outro fator que preocupou investidores foi o anúncio da Rússia de que irá cortar o fornecimento de gás para a Polônia, segundo o New York Times.
Os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq podem fechar abril com perdas de pelo menos 4%, segundo cálculos do Wall Street Journal. E essa pressão sobre o mercado acionário americano se reflete no desempenho das criptomoedas.
“Do ponto de vista de dados na blockchain, temos um aumento considerável de liquidação dos investidores posicionados em venda, mas com aumento também das posições de compra, o que se refletiu numa redução da alavancagem do mercado”, disse Humberto Andrade, analista de trading do Mercado Bitcoin, em entrevista ao Valor.
Tom Dunleavy, da Messari, acredita que o Bitcoin pode se “desgarrar” das ações americanas e melhorar o desempenho, apesar das perspectivas de desaquecimento econômico.
As principais altcoins também revertem os ganhos da terça-feira e operam no vermelho nesta manhã, com perdas para Binance Coin (-1,8%), XRP (-4,1%), Solana (-0,7%), Terra (-6,7%), Cardano (-4,5%), Polkadot (-4%), Avalanche (-1,6%) e Shiba Inu (-2,4%), mostram dados do CoinGecko.
Nem Dogecoin, que chegou a subir 30% após o anúncio da compra do Twitter por Elon Musk, resiste ao mau humor dos investidores e tem queda de 11,6% nas últimas 24 horas.
O diretor-presidente da Coinbase Global, Brian Armstrong, disse que o acordo entre Musk e o Twitter é “uma grande vitória para a liberdade de expressão” e prevê que a aquisição pode ser mais transformadora do que as pessoas pensam, de acordo com a Bloomberg.
Marco das criptomoedas
Em meio ao cenário macro desafiador, o Plenário do Senado aprovou na terça-feira (26) o PL 3.825/2019, que regula o setor de criptomoedas no Brasil. O texto original é de autoria do senador Flávio Arns (Podemos/PR) e teve relatoria do senador Irajá Abreu (PSD/TO). Como o senador Irajá reuniu propostas em tramitação na Câmara e no Senado, o PL será agora avaliado pelos deputados e terá que ser aprovado pela maioria dos 513 parlamentares da Casa.
Os principais pontos do projeto incluem diretrizes para a regulamentação infralegal, proteção e defesa do consumidor, prevenção da lavagem de dinheiro e combate a crimes financeiros, promoção da transparência das operações com criptoativos e mineração verde.
Vanguarda do mercado
Em entrevista ao Valor, Julien Dutra, diretor de relações governamentais da 2TM, dona do Mercado Bitcoin, disse que o projeto aprovado coloca o Brasil na “vanguarda” das nações que regularam o mercado para estimular e não cercear. No entanto, questões relacionadas à isenção fiscal na compra de computadores por mineradores, que inclui um incentivo para o uso de energia limpa, podem gerar polêmica, já que as contas do governo estão em uma situação delicada.
Mas, mesmo que esse ponto seja vetado, Dutra não acredita que isso afetará a legislação como um todo, destacando que o projeto “vai proporcionar conforto para as pessoas operarem. Tem muita gente, muitos operadores, inclusive lá fora, esperando que a regulamentação aconteça para que possam ganhar clientes”, afirmou na entrevista.
Mineração verde
De acordo com estudo do Bitcoin Mining Council (BMC) publicado pela Exame, a rede Bitcoin reduziu o consumo energético em 25% no primeiro trimestre de 2022 na comparação anual, e 58,4% da energia utilizada por mineradores da principal blockchain do mundo atualmente já vem de fontes sustentáveis.
Em Nova York, por exemplo, a assembleia estadual aprovou um projeto de lei para impedir que novas instalações de mineração de criptomoedas que usem fontes de energia não renováveis se estabeleçam no estado, de acordo com o CoinDesk.
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No Texas, a prefeitura de Fort Worth aprovou a mineração de Bitcoin e irá usar três máquinas do modelo S9 da série Antminer, da Bitmain, doadas pelo Texas Blockchain Council. A cidade estima que cada uma das máquinas de mineração irá consumir “a mesma quantidade de energia que um aspirador doméstico”.
Já a corretora cripto Bitso anunciou uma parceria com a “climatech” Moss para compensar toda a emissão das transações com bitcoin e tokens ERC-20. A plataforma conta com 300 clientes, entre eles o iFood e a Hering.
Pagamento de impostos
Assim como o Rio de Janeiro, outras cidades implementam medidas para aceitar criptomoedas para o pagamento de impostos. Horacio Rodríguez Larreta, prefeito de Buenos Aires, disse na segunda-feira (25) que a prefeitura tem planos nesse sentido. “A ideia é receber os pagamentos em pesos. São as plataformas que vão implementar as mudanças de criptomoedas para pesos.”
Em El Salvador, apenas quatro dos 10 salvadorenhos que baixaram a carteira cripto estatal Chivo disseram que ainda a utilizam depois de obter o incentivo de US$ 30 em bitcoins do governo, de acordo com relatório do National Bureau of Economic Research dos EUA divulgado pelo CoinDesk.
Na quinta-feira (28), começam as negociações envolvendo o parlamento, a comissão e o conselho da União Europeia sobre as polêmicas regras contra lavagem de dinheiro para transações de criptomoedas.
Em Cuba, o banco central anunciou que vai emitir licenças para provedores de ativos virtuais, que serão válidas por 12 meses e podem ser renovadas por um segundo ano, conforme o CoinDesk.
Outros destaques
O Mercado Bitcoin e a EQI se uniram numa nova empresa: a EQI vai levar o cardápio de criptoativos para a sua base de clientes, e o Mercado Bitcoin estender sua oferta para as classes de ativos tradicionais, conforme o Valor. “O cliente ganha muito quando há parcerias envolvendo ‘equity’, as companhias ficam de fato alinhadas, não é só uma linha de receitas dentro do produto”, afirma o CEO do Mercado Bitcoin, Reinaldo Rabelo.
A Lumy, incorporadora focada em empreendimentos imobiliários de baixo custo, passou a aceitar pagamentos em Bitcoin e Ethereum para apartamentos em São Paulo e avalia adotar outras moedas digitais, incluindo stablecoins, de acordo com o Valor Investe.
A Revolut quer se expandir no segmento de carteiras de criptomoedas descentralizadas e também mira o setor de hipotecas, disse Nik Storonsky, CEO da plataforma digital bancária britânica, em entrevista à Reuters.
O primeiro produto negociado em bolsa (ETP) que combina ouro e bitcoin em um único fundo deve estrear nesta quarta-feira (27) na suíça SIX. O 21Shares ByteTree Bold Index ETP será lançado pela ByteTree Asset Management, informou o Financial Times.
A Oddity Tech, varejista online de produtos de beleza de Nova York, oferecerá a investidores um novo tipo de token de segurança que automaticamente se converte em ações caso a empresa decida abrir o capital, informou o Wall Street Journal.
Estudo realizado com 28 mil pessoas pela corretora Bitstamp revelou que 8 entre 10 investidores institucionais acreditam que, na próxima década, o setor cripto vai destronar os meios de investimento tradicionais. Países emergentes, como o Brasil, confiam mais na nova tecnologia do que países desenvolvidos – 80% contra 62%, respectivamente, conforme a Exame.
Mais de um terço dos brasileiros que são bancarizados têm relacionamento com fintechs, de acordo com levantamento da Zetta publicado pelo Estadão. A entidade representa startups do setor financeiro como o Mercado Bitcoin.
O primeiro fundo de índice de criptomoedas do Brasil, o HASH11, completou um ano na terça-feira (26) e está de olho na liderança do mercado de ETFs. Em entrevista ao InfoMoney, Marcelo Sampaio, CEO da Hashdex, acredita que o objetivo deve ser atingido até o segundo aniversário do ETF, em abril de 2023.
Metaverso, Games e NFTs
Uma nova plataforma de negociações de NFTs desembarcou no Brasil. Desde o domingo (24), já está em operação a NFTexperience, que permitirá aos usuários comprar tokens não fungíveis usando a criptomoeda BNB.
A LOUD, uma das maiores organizações de games do Brasil com mais de 300 milhões de seguidores, levantou R$ 50 milhões em uma rodada em parceria com a Snackclub, startup especializada em Web3. O objetivo é investir em jogos blockchain na América Latina, de acordo com a Forbes.