Na última semana, o mercado de bitcoins (BTC) caiu, tendo começado com uma alta de US$ 47.102 e terminando em US$ 42.183. Esse enfraquecimento de mercado segue uma faixa de consolidação mensal que foi estabelecida desde janeiro.
A atividade em blockchain e o comportamento de gastos sugere que investidores realizaram lucros durante o recente rali de preços e que ainda não há muitos sinais de um fluxo de entrada de novos usuários ou demanda.
Nesta análise, a Glassnode explora a natureza da recuperação de mercado entre a atividade em blockchain e a rentabilidade da rede como uma medida de crescimento e saúde da base de usuários do Bitcoin.
Também irá analisar alguns dos mecanismos que possibilitam à dicotomia de taxas de transação e recompensas por bloco denominadas em bitcoin, que estão próximas de suas baixas recordes, enquanto a competição na indústria de mineração atinge altas recordes.
Síntese desta análise
– O mercado de bitcoins caiu na última semana enquanto sofre para ganhar força para uma eventual recuperação.
– A atividade em blockchain continua bastante moderada, sugerindo que houve pouco crescimento na base de usuários, fluxo mínimo de nova demanda e que o mercado continua bastante dominado por “HODLers”.
– O comportamento de gasto por investidores parece estar migrando da dominância de realização de prejuízos para uma de realização de lucro. 58% do volume de transações está em realização de lucro.
– Taxas de transação agregadas do Bitcoin estão próximas de suas baixas recordes — uma consequência de fatores, incluindo a adesão do SegWit (ou “testemunhas segregadas”, em tradução livre, que se referem à exigência de assinaturas por várias chaves privadas), agrupamento de transações e a falta de demanda por espaço em blocos na rede Bitcoin.
– Apesar disso, a receita por mineradores, denominada em dólares, subiu 150% em comparação ao evento pós-halving — em que a recompensa concedida aos mineradores foi reduzida pela metade, passando de 12,5 BTC para 6,25 BTC — e tanto a taxa de hashes — velocidade de processamento de dados — como a dificuldade — quantidade exata de energia gasta para minerar cada bloco — do protocolo estão atingindo altas recordes.
Atividade em blockchain continua lenta
Um conjunto poderoso de ferramentas para rastrear a natureza periódica dos ciclos de Bitcoin é a atividade em blockchain, amplamente descrita como a utilização de espaço em blocos por meio de participantes ativos da rede, que enviam transações e processam valores.
São métricas que descrevem esses endereços/entidades ativas, contagens de transação, congestionamento de mempool e taxas pagas.
Dentre esse conjunto de métricas, é difícil encontrar muitas observações que sugerem que essa base de usuários está se recuperando ou crescendo com força.
O número de entidades ativas (ou usuários diários ativos) continua dentro da situação de mercado de baixa estabelecido nos últimos seis anos. Dito isso, a atual contagem de entidades ativas de 296 mil/dia está na extremidade superior desse canal e uma contínua e maior expansão seria algo positiva.
A contagem de transações também está relativamente fraca — atualmente em 225 mil transações por dia —, algo similar, em termos de magnitude, ao mercado de baixa de 2019.
Em relação a transações ativas, essa métrica se recuperou das baixas do colapso entre meio e julho de 2021, mas é um contraste gritante do ciclo de alta observado durante mercados de alta (cor verde).
Algo interessante a observar é que, ao longo da escala de tempo macro, ambas essas métricas de atividade em blockchain continuaram subindo, mesmo durante tendências de mercado.
Isso sinaliza um crescimento persistente na base de usuários de HODLers. HODLers são investidores relativamente insensíveis a preços e são usuários e acumuladores ativos do Bitcoin, independente das condições de mercado.
Um resultado dessa demanda relativamente baixa para espaço por blocos no Bitcoin é que existe pouco congestionamento na rede e, assim, uma menor quantia de taxas de transação pagas.
Taxas totais de transação pagas a mineradores de Bitcoin estão se aproximando de suas baixas recordes desde maio de 2021, sustentando as observações mencionadas acima de que a recuperação da atividade em blockchain está, no máximo, enfraquecida.
Deve-se notar que existem inúmeros fatores que impactam o congestionamento da rede e o total de taxas pagas, que incluem a adesão de atualizações eficientes, como SegWit, e o agrupamento de transações.
O gráfico abaixo mostra que, desde junho de 2021, houve um aumento significativo na adesão e utilização de SegWit à medida que mais carteiras e corretoras implementam a tecnologia.
O gráfico abaixo também mostra a expansão de transações de gasto e que estão usando a tecnologia SegWit, com destaque para a alta em junho de 2021.
Transações que usam SegWit são mais eficientes em termos de dados, o que permite que mais transações caibam em cada bloco (e a congestão diminua) enquanto também apresenta taxas de transações mais baratas.
No atual mercado, isso faz parte de uma confluência de fatores que estão derrubando taxas, conforme Alex Thorn, da Galaxy Digital, deixou bem-explicado em uma série de tuítes.
Porém, é importante notar que uma baixa demanda por espaço em blocos de Bitcoin, e uma baixa atividade em blockchain como consequência de condições de mercado de baixa, são um dos principais fatores determinantes por trás das baixas taxas de transação.
A competição pela mineração atinge nova alta recorde
Apesar de as taxas de transação da rede estarem se aproximando de suas baixas recordes (em termos de denominação em bitcoin), a competição na indústria de mineração continua registrando altas recordes.
Agora, a dificuldade de mineração do protocolo atingiu uma nova alta recorde, pois cada bloco de Bitcoin exige 122,78 zettahashes (ou ZH) para ser solucionado.
Seria como se todas as 7,9 bilhões de pessoas no planeta Terra tentassem adivinhar qual é o hash SHA256 15,5 trilhões de vezes, a cada dez minutos, para solucionar cada bloco do Bitcoin. Isso é bem extraordinário.
Atualmente, a taxa de hashes estimada está variando entre 190 e 215 exahashes por segundo (ou EH/s) — uma alta de 20% da alta recorde registrada antes de a proibição à mineração de bitcoin entrar em vigor na China em maio de 2021.
A taxa de hashes continuou se expandindo desde junho de 2021 à medida que o crescimento não foi interrompido pelas recentes condições de mercado de baixa e obstáculos geopolíticos que estão acontecendo.
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A competição na indústria de mineração é bastante notória, pois mineradores visam arbitrar a proporção entre energia e preço do BTC ao encontrar os recursos de energia e financiamento de capital mais baratos disponíveis.
O gráfico abaixo mostra essa tendência a longo prazo, que ilustra, em escala de log, quão competitivo está o setor de aquisição da decrescente recompensa por bloco do Bitcoin.
Apesar da imensa competição e da recompensa por bloco denominada em bitcoin estar se aproximando de baixas recordes, a receita por mineradores denominada em dólares continua 150% maior do que no período após o evento de halving mais recente, em maio de 2020.
Atualmente, mineradores ganham US$ 270 mil por exahash aplicado à rede. Isso também é uma receita 40% maior do que a receita gerada durante o evento final de capitulação do mercado de baixa em 2018.
Na época, preços estavam variando entre US$ 3 e US$ 4 mil e a recompensa por blocos em bitcoin era duas vezes maior do que é atualmente.
Rentabilidade da rede
Avaliar a rentabilidade da rede Bitcoin é uma ferramenta útil para avaliar os possíveis riscos de venda e medir se o mercado está fazendo HODLing ou realizando lucros.
O gráfico abaixo apresenta a proporção do mercado que sofre uma desvalorização em sua posição. Aqui, a Glassnode utiliza a porcentagem de endereços (cor de rosa), entidades (cor verde) e fornecimento (cor azul) que estão gerando lucro como uma medida de rentabilidade total da rede.
É possível ver que o atual mercado de baixa não é tão severo quanto as piores fases de todos os ciclos anteriores, pois apenas 25% a 30% do mercado está em um prejuízo não realizado.
Ainda resta saber se uma maior pressão de venda fará o mercado cair e, assim, fazer o mercado registrar um prejuízo não realizado, assim como em ciclos anteriores.
Perceba que, ao longo do tempo, mais moedas e transações não gastas (ou UTXOs) terão sido movidas pela última vez a preços bem menores e, por isso, pode-se esperar por uma tendência de alta no longo prazo nessas métricas.
Atualmente, holders a longo prazo (ou LTHs) possuem 13,66% do fornecimento em prejuízo não realizado, que é uma quantia aproximadamente igual, em termos de magnitude, à quantia de vendas aplicadas ao mercado de alta entre 2020 e 2021.
Com base em estatísticas, moedas de holders a longo prazo são as menos propensas a serem gastas ou vendidas e, com base em 2018 e em março de 2020, é perceptível que esses holders lidaram com prejuízos bem mais drásticos no passado.
A proporção de moedas armazenadas em prejuízo por holders a longo prazo atingiu 35% do fornecimento nos fundos de ciclos de baixa anteriores, que é um volume de moedas 2,5x mais relativo ao que existe no mercado atual.
Holders a curto prazo (ou STHs) possuem bem menos moedas em comparação a holders de longo prazo (18,74% do fornecimento). Porém, esse grupo registrou uma nítida e recente alta na rentabilidade.
Conforme o mercado saiu da faixa de consolidação, novos acumuladores (ou holders a curto prazo) que adquiriram moedas entre US$ 33 mil e US$ 42 mil voltaram a ter um lucro não realizado, mostrando que investidores visualizaram valor nessa faixa de preço.
Esse é um desenvolvimento positivo em comparação às baixas recentes do mercado em 22 de janeiro, quando 100% de todas as moedas de holders a curto prazo estavam em prejuízo.
A melhora na rentabilidade, principalmente nesse grupo de holders a curto prazo, que são mais sensíveis ao preço, tende a diminuir a probabilidade de uma pressão de venda gerada por pânico.
No entanto, vimos uma alta na realização de lucros e uma queda na realização de prejuízos durante este rali de preço. Prejuízos diários realizados caíram de 20 mil BTC/dia, durante a queda em janeiro, para cerca de 8,3 mil BTC/dia atualmente.
Períodos de alta e contínua realização de prejuízo são comuns em mercados de baixa e o mercado absorveu mais de 8,3 mil BTC em prejuízos todos os dias desde o fim de novembro.
Além de moedas em prejuízo, o mercado passou por 13,3 mil BTC em lucros realizados todos os dias desde fevereiro. Uma realização de lucros dessa magnitude não é historicamente extrema. No entanto, parece estar fornecendo obstáculos suficientes para os preços.
Uma realização de lucros mais forte é comum em condições positivas de mercado, em que um maior fluxo de entrada de nova demanda é capaz de absorver o fornecimento e fazer o mercado subir mais ainda.
Por fim, é possível ver que a dominância da rentabilidade do volume gasto se moveu para um viés de lucro. Em outras palavras, 58% do volume de transações está gerando lucro — uma mudança no viés de prejuízos realizados que aconteciam desde dezembro.
Períodos contínuos da dominância de prejuízo realizado são comuns em mercados de baixa e uma reversão a uma dominância de lucros realizados pode sinalizar que o sentimento está mudando e a demanda é capaz de absorver as vendas.
Porém, dado que preços continuam tendo dificuldade para registrarem altas, sugere que a demanda continua fraca e que investidores estão realizando lucros em qualquer força de mercado que possam encontrar.
Conclusões
Na última semana, o mercado de bitcoins caiu após uma leve tentativa de recuperar os preços consolidados ao longo dos últimos meses. Os preços também sofreram para encontrar uma força contínua e há indícios de um volume modesto de realização de lucro por investidores.
Principalmente entre métricas de atividade em blockchain, como contagens de transação e usuários ativos, a recuperação está, até agora, relativamente fraca e continua a sugerir que o bitcoin está em um mercado dominado por HODLers à medida que bem menos investidores novos estão entrando.
Dito isso, a rentabilidade da rede melhorou, indicando que uma reacumulação significativa acontece desde janeiro. A rentabilidade total da rede continua em uma posição bem mais saudável em comparação a ciclos de baixa anteriores.
A baixa demanda por espaço por bloco de bitcoin se manifesta como uma baixa taxa de transação paga a mineradores, que faz a atual recompensa por bloco, denominada em BTC, se aproximar de baixas recordes.
Apesar disso, a competição na indústria de mineração de bitcoin, está atingindo novas altas recordes conforme a receita de mineradores em dólares subiu 150% desde o halving e a taxa de hashes agora está 20% maior do que a alta recorde anterior, registrada em maio de 2021.
Sobre o autor
A Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.