O criador do Ethereum, Vitalik Buterin, surpreendeu a comunidade cripto ao publicar na manhã desta sexta-feira (1º) uma carta em defesa dos maximalistas de Bitcoin — grupo formado por ferrenhos defensores da criptomoeda líder do mercado e que não aderem a qualquer outra altcoin, inclusive ether.
As discussões entre maximalistas do Bitcoin e fãs do ethereum são intermináveis. Existem — e vão continuar existindo — desde que Buterin anunciou seu projeto em 2014.
De um lado os maximalistas argumentam que o BTC é a moeda nativa da internet, o primeiro e o mais descentralizado criptoativo que existe. Do outro lado, há aqueles que defendem a superioridade do Ethereum por criar os contratos inteligentes e sustentar as principais inovações lançadas no mercado cripto nos últimos anos, como DeFi, DAO, NFT, entre outros.
Na carta desta manhã, Vitalik defendeu os maximalistas do Bitcoin, mas sem desconsiderar o mérito de outros projetos sérios existentes no mercado, como o Ethereum, e que servem a propósitos diferentes.
Buterin inicia seu texto refletindo se as criptomoedas que hoje dominam o mercado podem ter um futuro incerto, no qual ativos mais novos e mais “enérgicos” podem atrair as novas ondas de usuários que querem apenas DeFi e jogos blockchain e que não se importam com a ideologia libertária ou verificação auto-soberana.
“Mas e se essa narrativa estiver toda errada, e as ideias, hábitos e práticas do maximalismo do Bitcoin estiverem de fato bem perto de serem corretas? […] E se os maximalistas do Bitcoin realmente entenderem profundamente que estão operando em um mundo muito hostil e incerto, onde há coisas pelas quais precisamos lutar, e suas ações, personalidades e opiniões sobre o design do protocolo refletem profundamente esse fato? E se vivemos em um mundo de criptomoedas honestas (das quais existem muito poucas) e criptomoedas vigaristas (das quais existem muitas), e uma dose saudável de intolerância é de fato necessária para evitar que as primeiras deslizem para as últimas?”, escreve Buterin ressaltando que esses são os argumentos que defende.
Liberdade é um negócio sério
A guerra provocada por Vladimir Putin contra a Ucrânia só tornou mais óbvio que a proteção da liberdade das pessoas é um assunto sério, na visão de Buterin.
Ele ressalta que criptomoedas estão sendo usadas todos os dias por “pessoas com e sem conta bancária, por ativistas, por profissionais do sexo, por refugiados e por muitos outros grupos que são desinteressantes para instituições financeiras centralizadas”.
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Para entregar isso, um projeto requer dois ingredientes principais: uma tecnologia robusta e defensável e uma cultura robusta e defensável.
E é aí que o Bitcoin se consolida como a melhor opção, com uma comunidade sólida e que não abre mão da simplicidade e pureza matemática da criptomoeda: um tamanho de bloco de 1 MB, um limite de 21 milhões de moedas e um mecanismo de consenso de prova de trabalho (PoW) que até um estudante do ensino médio pode entender.
Para proteger esses fundamentos intocáveis do Bitcoin é que Buterin defende a cultura do minimalismo intransigente e firme dos maximalistas:
“Essa deve ser uma cultura que pode se defender inflexivelmente contra atores corporativos e governamentais que tentam cooptar o ecossistema de fora, bem como maus atores dentro do espaço cripto tentando explorá-lo para lucro pessoal, dos quais existem muitos”.
Bitcoin vs Ethereum
Buterin não tentou defender o Ethereum como um concorrente que pode entregar as mesmas coisas que o Bitcoin. Pelo contrário, fez questão de trazer à tona a diferença de cultura entre as duas comunidades, tirando sarro de si mesmo.
Ele também incluiu imagens de seus encontros com políticos, como Mauricio Macri e Vladimir Putin, trazendo o seguinte questionamento:
“Pergunte a si mesmo: quando chegar a hora, coisas realmente importantes estão acontecendo na blockchain — coisas realmente importantes que ofendem pessoas poderosas — qual ecossistema estaria mais disposto a colocar o pé no chão e se recusar a censurá-los, não importa quanta pressão é aplicada sobre eles para fazê-lo? O ecossistema com nômades itinerantes que realmente se importam em ser amigos de todos, ou o ecossistema com pessoas que tiram fotos de si mesmas com um AR-15 e um machado como hobby?”.
Buterin faz diversas outras observações ao longo da carta para defender que o maximalismo do Bitcoin é uma percepção muito genuína de que a maioria dos outros criptoativos são fraudes, e “uma cultura de intolerância é inevitável e necessária para proteger os novatos e garantir que pelo menos um canto desse espaço continue sendo um canto que vale a pena viver”.