O mercado de bitcoins (BTC) continua caindo ainda mais, atingindo US$ 33.424 na última segunda-feira (24), o preço mais baixo desde julho de 2021.
Agora, preços estão em uma tendência de baixa estabelecida há 82 dias e o sentimento negativo aumentou ainda mais, principalmente entre mercados de derivativos.
Fluxos líquidos para swaps perpétuos negociados em território negativo e vimos uma reversão notável nos mercados de opções, onde volumes de opções “put” (de venda) aumentaram bastante.
Na newsletter da semana passada, a Glassnode analisou as dinâmicas predominantes de fornecimento e rentabilidade da rede, argumentando que se assemelham a uma clássica tendência de baixa do bitcoin.
Na edição desta semana, a Glassnode migra seu foco para uma avaliação da demanda para capturar o outro lado da equação.
Ferramentas em blockchain podem fornecer percepções tanto sobre a oferta como sobre a demanda e, com o panorama macro de baixa já estabelecido como contexto, agora busca identificar se o perfil implícito de demanda é suficiente para começar a estabelecer um fundo de mercado.
A negatividade entra para os mercados de derivativos
Ao longo de 2021, volumes negociados em mercados de futuros estão em declínio macro, caindo mais de 50% de US$ 80 bilhões/dia em março de 2021 para abaixo de US$ 40 bilhões/dia em janeiro de 2022.
Por ser algo comum durante eventos de alta volatilidade, a liquidação da semana passada para US$ 33 mil encontrou uma elevação significativa no volume negociado, atingindo pouco menos de US$ 60 bilhões/dia.
A Binance continua sendo a plataforma dominante, tendo a maior participação do volume de futuros negociados, representando mais de 52,5% de todos os contratos na última semana.
Mesmo com volumes de negociação relativamente baixos, posições abertas de futuros continuam bastante elevadas, principalmente para swaps perpétuos.
Como uma porcentagem da capitalização do mercado de bitcoins, posições abertas em swaps perpétuos (cor roxa) estão pairando em cerca de 1,3%, uma porcentagem historicamente alta e, geralmente, precursora de um evento de desalavancagem.
Posições abertas, entre todos os mercados futuros (incluindo swaps perpétuos), estão elevadas em 1,9% da capitalização de mercado (cor laranja).
No entanto, estão mais próximas do meio da faixa de valores comuns. Essa observação indica que a grande maioria da atual alavancagem de futuros é mantida por traders de contratos perpétuos (bastante concentrada na Binance).
Com essa alavancagem elevada e a relevância dos mercados de swaps perpétuos, pode-se analisar os fluxos líquidos para obter uma noção do viés de mercado e a direção em que a alavancagem é bastante aplicada.
Fluxos líquidos foram negociados negativamente durante grande parte de janeiro, indicando que um viés modesto de venda existe nos mercados de swaps perpétuos.
Uma negatividade similar é vista em mercados de opções, conforme a proporção “Put”/“Call” (ou Venda/Compra) aumentou para 59%, uma alta de vários meses.
Isso indica que traders mudaram sua preferência de compras para compras de seguros decrescentes, mesmo conforme o mercado é negociado em baixas de seis meses.
Com essa mudança observável de um viés de compras para um de vendas entre mercados de derivativos, a dominância de liquidações de futuros começou a avançar para o lado de vendas.
Com alta negatividade, alavancagem elevada e um viés geral de vendas, um argumento razoável pode ser feito sobre um possível “short squeeze” (quando o preço aumenta muito rápido) de contratendência a curto prazo.
Avaliando a demanda em blockchain
Avaliar a demanda do mercado usando ferramentas em blockchain possui nuances e exige uma compreensão dos participantes de mercado e os destinos do volume de moedas gastas (dentro/fora de corretoras, dentro/fora da carteira de HODLers etc.).
Esta semana, a Glassnode foca na demanda de três setores fundamentais:
– crescimento de carteira e tendências de acumulação/distribuição;
– fluxo de fundos que entram/saem das reservas de corretoras;
– utilização da rede como uma camada de liquidação para medir o “valor justo”.
Primeiro, analisa-se uma métrica bem fundamental e simples: o número carteiras com saldo superior a zero.
Geralmente falando, quando a rede Bitcoin passa por uma eliminação de investidores em grande escala (como a alta em 2017), investidores desembolsam muitas transações não gastas (ou UXTOs) de suas carteiras, depositam moedas em corretoras que, por sua vez, consolidam esse fornecimento em um menor número determinado de carteiras com grandes saldos.
Tal “limpeza” de carteiras é bem óbvia após o auge de 2017 e uma eliminação menor pôde ser vista em maio de 2021.
Em ambos os casos, o número de carteiras com saldo superior a zero resumiu uma tendência de alta quando a poeira baixou, geralmente em torno da fase média do mercado de baixa que se seguiu conforme compradores recomeçaram a acumulação.
A atual trajetória de alta de contagens de carteiras com saldo superior a zero parece não ter sido bastante afetada pelos últimos três meses de preços em queda, apresentando similaridades na minitendência de baixa de 2019 e atingindo uma nova alta recorde de 40,16 milhões de endereços.
Carteiras do varejo, que possuem menos de 1 BTC (“camarões”), também parecem inabaláveis com essa correção, pois o fornecimento mantido por essas carteiras continua a subir.
A taxa de crescimento do fornecimento para esse grupo passou por dois aumentos macro (primeiro após março de 2020 e, novamente, após maio de 2021).
Dado o histórico do Bitcoin como um fenômeno popular, isso tem a ver com a crescente classe de “sat stackers” (termo dado a pessoas que compram pequenas quantias de bitcoin) e HODLers que continuam ao longo de todas as condições de mercados.
Para classificar o fornecimento de moedas, utiliza-se agrupações denominadas como fornecimento Ilíquido, Líquido e Altamente Líquido, com base nos padrões de gastos de carteiras (confira a metodologia).
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Quando mapeado como uma proporção da capitalização de mercado, a porcentagem de fornecimento Ilíquido (cor azul) agora atingiu 76,2% da circulação, voltando a níveis registrados em dezembro de 2017.
Essas moedas são mantidas em carteiras com pouquíssimo ou inexistente histórico de gastos e, assim, reflete um grupo de carteiras que, provavelmente, está em modo de acumulação.
– Períodos de baixa (zonas vermelhas), como o de 2018 e entre maio e julho de 2021, são pontuados por enormes quedas no fornecimento Ilíquido. Isso significa que um enorme volume de moedas foi gasto fora do armazenamento “frio” (off-line) e, posteriormente, deve ser absorvido por nova demanda de compra.
– Períodos de alta (zonas verdes), como em depois de março de 2020, geralmente têm aumento no fornecimento Ilíquido conforme a acumulação acontece e a demanda absorve moedas vendidas.
Curiosamente, preços no atual mercado estão caindo (em baixa) enquanto o fornecimento Ilíquido está subindo (em alta). Apenas na última semana, mais de 0,27% do fornecimento (cerca de 51 mil BTC) foi movimentado de um estado Líquido para Ilíquido.
Em uma queda macro, pode haver a possibilidade de uma divergência de alta no fornecimento, similar àquela entre maio e julho de 2021, está em andamento.
Saldos de corretoras são um dos maiores constituintes das métricas de fornecimento Líquido e Altamente Líquido e, por isso, faz sentido analisar os fluxos de entrada e saída para validar as observações feitas acima.
A mudança na posição líquida de corretoras é uma métrica que mostra esse fluxo líquido mensal de moedas que entram (cor verde) e saem (cor vermelha) das corretoras rastreadas.
Na última semana, houve um fluxo líquido de saída de uma magnitude razoavelmente alta, com taxas entre 45 mil e 59 mil BTC por mês.
Esse fluxo se converge com o fornecimento Ilíquido (cerca de 51 mil BTC), indicando que certa porção de moedas sacadas de corretoras podem ter sido movidas para armazenamento frio.
Como resultado, reservas totais de corretoras caíram para baixas multianuais, atingindo 13,27% do fornecimento em circulação. É importante destacar que isso é bem diferente à reação de mercado observada na queda entre maio e julho de 2021:
– ambos os períodos passaram por quedas de mais de 50% no preço desde a alta recorde;
– entre maio e julho de 2021 tiveram mais de 164 mil BTC (0,84% da circulação) em fluxos de entrada para corretoras, junto com uma queda no fornecimento Ilíquido igual a 1,5% no fornecimento de circulação;
– a atual queda fez saldos em corretoras caírem para 42,9 mil BTC (0,28% da circulação) desde a alta recorde em novembro enquanto o fornecimento Ilíquido aumentou em 0,86% do fornecimento em circulação.
Apesar de quedas de escalas equivalentes, as tendências nas reservas de corretoras e na liquidez de moedas têm tendências em direções opostas. O atual ambiente tem um aspecto mais positivo de absorção do fornecimento e bem menos moedas estão sendo gastas e vendidas por medo.
Auge na utilidade da rede
O bitcoin significa muitas coisas para muitas pessoas e nenhuma dessas coisas é uma camada de liquidação. Na teoria, quanto mais valor o Bitcoin liquida como uma rede, mais utilidade existe, maior será o valor da rede e vice-versa.
A alta em 2017 foi marcada por uma explosão nos volumes liquidados, atingindo acima de US$ 10 bilhões/dia. Isso foi rapidamente seguido por uma queda igualmente incrível de 80% de volta aos US$ 2 bilhões/dia – tudo em pouquíssimos meses. A fase da febre veio e se foi com gosto.
Desde outubro de 2020, o mercado está bem diferente.
Durante tanto as quedas acima de 50% mencionadas acima, volumes de liquidação caíram drasticamente de seus auges. No entanto, o preço mínimo continuou a subir, mesmo durante tendências de baixa (zonas vermelhas).
Isso tem a ver com uma utilidade mais sustentada e até crescente do Bitcoin conforme a capitalização de mercado, base de holders e o valor armazenado aumenta.
A constituição desses volumes de liquidação também passou por uma mudança inegável desde outubro de 2020, longe das transações de varejo (menos de US$ 100 mil) e em direção a valores de alto patrimônio e institucional (acima de US$ 1 milhão).
Transações superiores a US$ 10 milhões agora dominam 45% do volume liquidado enquanto transações acima de US$ 1 milhão dominam mais de 70% (em uma base ajustada por entidades).
Enormes transações sustentaram essa dominância elevada ao longo de 2021 e atingiram um auge maior ao longo desta correção.
Finalmente, podemos construir um modelo de precificação implícito usando a Proporção do Valor de Rede/Transações (ou NVT), que mapeia o volume de liquidação da rede (utilidade) para um preço implícito (metodologia de Willy Woo).
Atualmente, o preço de mercado está sendo negociado entre os modelos de preço NVT mais rápidos de 28 dias (cor verde) e mais lentos de 90 dias (cor rosa), indiscutivelmente colocando Bitcoin em uma zona de “valor justo” agora.
Uma proporção de preço NVT de 90 dias fornece um “Prêmio NVT” que, atualmente, está sendo negociada em baixas que são historicamente consideradas como subavaliadas.
Exemplos anteriores em que volumes de liquidação estiveram tão altos assim em relação à capitalização de mercado precederam fortes impulsos de alta em mercados de baixa ou em fundos macro de mercado, como os de dezembro de 2018 e março de 2020.
No relatório da semana passada, a Glassnode explorou as atuais dinâmicas de fornecimento e determinou que são características dos mercados de baixa do bitcoin mais históricos.
Esta semana, mudou de foco para analisar o lado da demanda implícita da equação, que revela uma diferença marcada entre a atual estrutura de mercado e o período mais baixo mais recente entre maio e julho de 2021.
Enquanto ambos os períodos de queda de mais de 50%, o atual mercado parece ter uma classe resiliente e persistente de HODLers, que parecem estar no modo de acumulação faça sol ou faça chuva.
Volumes de liquidação em blockchain caíram, mas estão aumentando em relação à avaliação de mercado, sugerindo que, agora, o bitcoin está próximo de um “valor justo” do que de um topo de ciclo.
Enquanto isso, mercados de derivativos parecem estar apostando em ainda mais quedas.
No contexto de uma queda macro, a pergunta é a seguinte: o mercado está atrasado para se proteger do risco ou é por conta de uma correção ascendente para agitar esse auge na negatividade alavancada?
Sobre o autor
A Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.