Mulher desesperada
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No momento delicado em que milhares de investidores brasileiros temem ter perdido para sempre o dinheiro investido na BlueBenx após a empresa bloquear os saques, outro grupo de golpistas está à espreita para tirar proveito da situação.

Nas últimas semanas, clientes que tiveram dinheiro retido na BlueBenx foram vítimas de diversas tentativas de golpes de vários tipos. Os criminosos atuam principalmente em grupos do Telegram, onde clientes e advogados se reúnem para compartilhar informações sobre o caso na esperança de reaver o investimento.

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Um exemplo dessas tentativas de golpe foi dado ao Portal do Bitcoin por um dos clientes da empresa, que compartilhou com a reportagem o histórico das mensagens que dão um panorama de como acontece essa fraude.

No dia 19 de agosto, uma pessoa supostamente chamada “Lucy”, cuja foto do perfil mostrava uma mulher loira que também estava em grupo aberto com mais de 700 investidores da BlueBenx, enviou ao cliente uma mensagem privada no Telegram.

Ela queria mais informações sobre a BlueBenx e saber quanto dinheiro esse cliente, que pediu para não ter seu nome divulgado, tinha parado na plataforma.

Tudo na troca de mensagens é suspeito, começando com a forma como “Lucy” escrevia – como um texto tirado direto de um tradutor, um sinal que indicaria que ela não era brasileira. Ela também dizia ter 300 mil libras esterlinas (R$ 1,8 milhão) investidos na BlueBenx, uma empresa que não operava com essa moeda.

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Troca de mensagens de vítima da BlueBenx com golpista no Telegram

Jogando a isca 

Papo vai, papo vem, “Lucy” finalmente soltou a isca: “um amigo disse que tem um insider que me ajudará a recuperar o valor total. Até amanhã eu saberei… apenas mantenha isso baixo, não deixe os outros saberem primeiro para evitar pressa”.

Três dias depois ela voltou a fazer contato, comemorando ter recebido todo o dinheiro de volta, e se comprometeu a ajudar o outro investidor a recuperar seu investimento também.

Troca de mensagens de vítima da BlueBenx com golpista no Telegram

Para fazer isso, ele deveria entrar em um site fraudulento (bluebenx.remittan.io) e fornecer os mesmos dados usados para acessar a plataforma da BlueBenx: nome completo, endereço, e-mail e senha, além de foto da identidade, passaporte ou carteira de motorista.

Segundo a página, os dados eram necessários para verificar a identidade e fazer o reembolso.

Mais uma vez, sinais de fraude eram visíveis logo no visual do site, que exibe textos em inglês e logos distorcidos da BlueBenx, ao lado de outras empresas que não tinham qualquer relação com a história, como a Coinbase e Citrix.

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De acordo com a plataforma ScamAdviser, o site “remittan.io” é malicioso por uma série de fatores, como o fato de que vários spammers e golpistas usam o mesmo registrador, há métodos de pagamento anônimos e a oferta de produtos frequentemente promovido por golpistas.

Site fraudulento se passa por serviço de reembolso da BlueBenx

Campanha de phishing

Desconfiado de que o reembolso era uma farsa, o cliente da BlueBenx tomou a decisão correta: parou de interagir com a golpista e não forneceu nenhum dado pessoal.

Ao que tudo indica, ele estava sendo alvo de uma campanha de phishing. Esse tipo de golpe tenta enganar um usuário através de mensagens nas redes sociais que parecem vir de uma fonte confiável, seja uma empresa, uma equipe de suporte ou até mesmo um outro usuário comum, que finge passar pelo mesmo problema que você.

A vítima então é levada a algum site fraudulento para passar seus dados pessoais. No meio cripto, também é comum haver código de programação mal intencionado nesses sites que tentam roubar criptomoedas de uma carteira conectada a uma extensão de navegador.

Por isso é importante não passar dados pessoais em sites suspeitos, nem conectar carteira de criptomoedas em uma plataforma de origem desconhecida.

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Taxa de bitcoin para liberar saques

Na mesma época, surgiu outro perfil no Telegram chamado “BlueBenx Administrador” que afirmava representar a empresa. Esse perfil também contatou clientes de forma privada no Telegram na expectativa de aplicar o golpe.

Dessa vez, o golpista dizia para um cliente da Bluebenx que sua conta deveria ser reativada na plataforma. Fazer isso custaria US$ 300 (R$ 1,5 mil) que deveria ser pago em bitcoin, diretamente para o endereço do golpista.

Troca de mensagens de vítima da BlueBenx com golpista no Telegram

O cliente da BlueBenx disse que não conseguia enviar o valor, porque a plataforma que usava só permitia transferências acima de US$ 1 mil. “Ok, manda US$ 1 mil então”, respondeu o golpista, se comprometendo a devolver o troco de US$ 700.

Percebendo o esquema, o cliente não fez o pagamento. Ao checar o endereço de bitcoin que o golpista passou, não foi possível encontrar nenhuma transação registrada na blockchain.

Golpe no Facebook

Um outro cliente da BlueBenx que conversou com o Portal do Bitcoin também foi alvo de um golpe semelhante, mas dessa vez no Facebook.

Quando a BlueBenx parou de pagar os clientes no dia 12 de agosto alegando ter sofrido um ataque hacker — mudando depois a história dizendo ter sido vítima de um golpe de falsa listagem — a empresa excluiu às pressas suas contas no Facebook e Instagram.

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Isso abriu a brecha para que outros golpistas entrassem em ação e criassem perfis nessas redes sociais para se passar pela equipe da BlueBenx.

O cliente que conversou com a reportagem enviou mensagem para uma página da empresa no Facebook que acreditava ser a oficial, buscando informações sobre quando os saques voltariam ao normal.

Na conversa, o cliente descreveu sua situação: tem uma deficiência física e os R$ 70 mil que estão presos na BlueBenx representa todas suas economias. 

Mas isso não sensibilizou o golpista que prosseguiu com o ataque. Para ter o dinheiro de volta, o investidor deveria lhe enviar R$ 5 mil em bitcoin para pagar uma tal taxa de “saneamento”, mudando o termo em seguida para taxa de “higienização”.

“Há um problema que foi resolvido, mas você precisa pagar uma taxa de saneamento para recuperar sua conta. […] Você deve pagar uma taxa de higienização de 5000 BRL em bitcoin para recuperar sua conta com seus fundos completamente intactos”, escreveu o golpista.

Troca de mensagens de vítima da BlueBenx com golpista no Facebook

Ele garantiu que essa taxa seria devolvida depois. Quando a vítima disse que não tinha dinheiro suficiente para pagamento, o golpista diminuiu o valor pedido para R$ 4,5 mil e depois R$ 4 mil.

Outro empecilho era que a vítima nunca tinha usado bitcoin antes e não sabia como transacionar com a criptomoeda. O golpista então mandou um tutorial, incentivando a vítima a enviar o bitcoin através de um site chamado EasyCrypto.com.

Após comentar com outros investidores e um advogado sobre a conversa, o cliente da BlueBenx percebeu que a página do Facebook era falsa e que estava sendo alvo de um golpe, desistindo da negociação logo em seguida.

Leia também: As principais maneiras de tentar roubar as suas criptomoedas e saiba como se proteger

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