Um resumo sobre o caos bancário nos Estados Unidos e seu impacto no setor cripto | Opinião

Especialista do MB conta como a tensão no setor bancário americano afeta os projetos cripto e no que o investidor precisa ficar de olho ao longo da semana
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Foto: Shutterstock

Pessoas melhores que eu já abordaram o tema no final de semana, por isso recomendo esta leitura pra entender um pouco mais sobre a corrida bancária recente no Silicon Valley Bank e, se tiver com coragem, o cenário macro preocupante da administração atual norte-americana em relação a cripto.

Pincelada rápida: quando você compra um título de renda fixa pré-fixado (ex. 1% a.a) e os juros repentinamente sobem pra 4% a.a, seu título vale muito menos se tentar vender em qualquer lugar (mercado secundário). Como esse aumento de juros aconteceu recentemente nos Estados Unidos, quando os clientes começaram a sacar recursos em massa das instituições bancárias, os bancos se viram sem recursos disponíveis pra honrar os pagamentos e sem a possibilidade de vender os ativos de médio/longo prazo dado o prejuízo bilionário que isso traria.

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Depois de especulação e pânico com o possível efeito dominó, o Banco Central norte-americano (FED) decidiu intervir e honrar os saques em qualquer medida, não apenas os protegidos pelo fundo garantidor de crédito deles (US$ 250 mil)… se você estava com saudades, 2008 mandou um abraço apertado.

Apesar de já ter sido um capítulo à parte no mercado financeiro tradicional, esse episódio repercutiu também em cripto! Claro, sem impacto direto em protocolos nativamente descentralizados e que não dependem de pontes com o sistema bancário tradicional pra sua existência, como Bitcoin.

MAS, também existem ativos digitais representativos de bens e direitos do mercado tradicional, como foi o caso da USDC emitida pela Circle, que para cada 1 ativo digital emitido deve haver 1 dólar equivalente depositado em conta bancária.

Como parte dessa reserva da USDC estava justamente com o Silicon Valley Bank e, como não se sabia se o FED entraria salvando os bancos em dificuldades, o valor de USDC colapsou pra US$ 0,88 ao longo do final de semana.

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Como diversas aplicações descentralizadas usam USDC como parte das suas operações e garantia de empréstimos, não é de se surpreender que os principais projetos tiverem que tomar medidas urgentes pra tentar conter efeitos mais graves.

MakerDAO (segundo maior DeFifoi levada a aprovar um voto de governança emergencial reduzindo as possibilidades de se tomar empréstimo usando USDC (que não chegou a ser executado porque o protocolo exige dias entre aprovação e execução) e participantes da governança da Aave (terceiro maior DeFi) chegaram a propor que seus mercados fossem paralisados durante a incerteza com USDC.

Minha tentativa triste de ver o copo meio cheio… espero que esse movimento reforce o posicionamento de um dos fundadores da MakerDAO de reduzir a dependência estrutural com a USDC e também deixe a comunidade mais atenta a outros potenciais riscos sistêmicos no mercado (alô alô oráculos que cuidam de praticamente todos os protocolos).

O preço do USDC deve se normalizar assim que o expediente bancário nos Estados Unidos começar, já que os fundos serão devolvidos corretamente após intervenção do FED e o mercado vai continuar a arbitrar o ativo até o preço fechar, comprando 1 USDC no mercado pelo preço atual (USD 0,98) e recebendo 1 USD na conta bancária.

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Nem TUDO é crise: melhoria relevante no Ethereum!

Não é nenhuma novidade que a experiência de usuário em cripto poderia ser melhorada. Perder os fundos da sua vida porque você esqueceu algumas palavras da sua chave privada não parece… razoável. Com o EIP 4337 (nome formal chique pra descrever a iniciativa no processo de governança do Ethereum), ficou mais fácil ter uma carteira “inteligente” com funcionalidades mais flexíveis do que as que conhecemos hoje, como configuração de permissões e recuperação social dos fundos da conta (ex: seus amigos assinam transações e recuperam o acesso da conta pra você).

Entrando um pouco no tecniquês, o que você tem hoje com uma carteira padrão de mercado (Metamask, por exemplo) é uma Externally Owned Accounts (EOAs) que depende de uma chave privada e pode, basicamente, apenas assinar transações. Com a mudança para as “carteiras inteligentes”, você pode configurar basicamente qualquer coisa que o código aceita.

A bem da verdade, algumas carteiras como a Argent, já tinham suas próprias versões de carteiras inteligentes, mas que dependiam de sua implementação própria na rede. Foram (e são) importantes inovações no mercado.

Com a formalização desse padrão (EIP 4337) para as carteiras inteligentes, devemos ver ainda mais inovações no segmento, melhoria na experiência do usuário e mitigação dos riscos de segurança envolvidos na criação de uma carteira.

Outros temas quentes

  1. Infraestrutura de mercado cripto bombando! As instituições tradicionais não precisam ser nativamente cripto pra oferecer produtos cripto aos seus clientes ou desenvolver absolutamente tudo dentro de casa. Existem empresas cripto que facilitam o uso das suas capacidades internas por terceiros, como o Mercado Bitcoin possibilitando a venda de cripto para os clientes da Magazine Luiza e a Coinbase lançando um serviço de Wallet-as-a-service.
  2. Liquidez para staking no Ethereum chegando! Hoje, quem realiza o staking no Ethereum tem sua posição travada e é remunerado pela rede com aproximadamente 5% a.a em ETH. MAS, o usuário não tem visibilidade sobre quando poderá sair da posição em staking, já que essa parte ainda não foi desenvolvida pelo protocolo.
    Com a atualização da rede de testes Goerli marcada para terça-feira (14), estamos cada vez mais próximos da sonhada possibilidade de sacar ETH em staking da rede. Se tudo se desenrolar bem amanhã, devemos ter a mudança na rede principal do Ethereum na primeira quinzena de abril! Se quiser se aventurar, essa é a bíblia sobre a próxima grande melhoria no Ethereum.

Sobre o autor

Lucas Pinsdorf é responsável por novos negócios no Mercado Bitcoin desde 2017, teve participação no lançamento dos primeiros ativos alternativos digitais brasileiros. No passado, participou de operação de gestão de ativos alternativos e trabalhou no Pinheiro Neto Advogados. É formado em Direito pela USP.

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