Durante um evento na plataforma Twitter Spaces na quinta-feira (12) sobre stablecoins e a recente volatilidade do mercado cripto, Paolo Ardoino, diretor de tecnologia da Tether, revelou que a fornecedora de stablecoins havia reduzido pela metade a quantidade de títulos comerciais que servem de lastro à sua stablecoin.
Ardoino também é diretor de tecnologia da corretora de criptomoedas Bitfinex.
“Nos últimos seis meses, [a Tether] reduziu em 50% o tamanho dos títulos comerciais. Tudo o que foi reduzido dos títulos comerciais foi convertido em títulos do tesouros americanos”, afirmou. “Nas próximas semanas, teremos novo testemunho que irá mostrar que esses títulos comerciais estão sendo cada vez mais reduzidos.”
Títulos comerciais são uma espécie de valor mobiliário emitido por grandes corporações para pagar obrigações de dívida a curto prazo, como estoques ou salários.
O evento no Spaces incluiu outros membros da indústria cripto, como Samson Mow da Jan3 e Adam Back da Blockstream. Michael Soetaert, candidato do estado americano do Kansas ao senado, também estava presente.
Lastro diversificado
Tether (USDT) é a maior stablecoin da indústria em termos de capitalização de mercado e é lastreada por diversos ativos finaceiros.
O lastro da USDT inclui criptomoedas, empréstimos, títulos corporativos, metais preciosos, dinheiro em espécie e equivalentes de dinheiro, de acordo com o relatório de transparência da Tether.
O testemunho formal mais recente da Tether indica que dinheiro em espécie, equivalentes de dinheiro, depósitos a curto prazo e títulos comerciais constituem 83,74% de todas as USDT em circulação no mercado.
Desse número, quase 37% é composto por títulos comerciais e certificados de depósito. Títulos do tesouro compõem quase 52%.
A porcentagem de 37% é de dezembro, então, devido aos comentários de Ardoino sobre uma redução em 50% nos últimos seis meses, ainda não se sabe se as alocações em títulos comerciais da Tether agora estão em aproximadamente 18,5% ou em outra quantia.
A Tether é conhecida pela falta de transparência em suas operações e sempre recusou a se sujeitar a uma auditoria pública por uma grande empresa de contabilidade.
A Tether não imediatamente respondeu ao pedido por comentário do Decrypt sobre por que o lastro da stablecoin mudou ou qual porcentagem das atuais reservas da empresa consiste de títulos comerciais.
Stablecoins devem “seguir os mesmos padrões”, afirma Ardoino
Além de destacar como o lastro da stablecoin mudou, Ardoino também destacou como o ecossistema deve avançar em meio ao colapso recente da stablecoin UST do Terra. “Na minha opinião, o que gostaríamos de ver são orientações mais claras sobre o tipo de informações que precisamos ter”, explicou.
“Todo mundo aponta para nós e diz: ‘OK, galera. Vocês precisam mostrar tudo para o público’. Bom, esse é um pedido justo da comunidade. Ao mesmo tempo, isso precisaria valer para todo mundo. Todo mundo teria de seguir os mesmos padrões.”
Ardoino continuou, afirmando que a tether não é mais “a única grande stablecoin” do mercado, sugerindo o rápido crescimento de sua adversária, a USDC da Circle.
Tanto a USDC como a USDT estão bem distantes das stablecoins descentralizadas e algorítmicas, que lastreiam suas stablecoins em outras criptomoedas ou contratos autônomos autoexecutáveis.
DAI, da MakerDAO, é um exemplo de stablecoin algorítmica sobregarantida enquanto UST, do Terra, é um exemplo de uma stablecoin algorítmica sem qualquer lastro além de poucas linhas de código de programação.
Porém, a UST entrou em colapso esta semana, atingindo uma baixa de US$ 0,15. USDT também perdeu seu lastro, caindo para US$ 0,95. Desde então, se recuperou e está sendo negociada a US$ 0,99.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.