Quem é o acusado de criar uma pirâmide financeira que atirou em uma vítima do golpe

Fabricio Ramos e Claudio Silva eram os responsáveis pela Orion Partner
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Fabrício Ramos, à direita, com José Cláudio explicando sobre esquema Orion Partner. Reprodução/Youtube

Fabrício Ramos, líder de uma suposta pirâmide financeira chamada ‘Orion Partner’, atirou contra Edivaldo da Silva na última quarta-feira (16), no bairro Berta, em Itamonte, Minas Gerais. Silva estava acampado em frente da casa do suposto estelionatário para cobrar uma dívida de seus investimentos em bitcoin quando houve uma discussão e a tentativa de homicídio.

O caso se espalhou rapidamente nas redes sociais. Com a repercussão, o golpe também veio à tona. O Portal do Bitcoin conversou com duas pessoas que também tomaram calote no negócio que prometia um lucro de 150% em 30 dias.

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À reportagem, eles confirmaram que Fabrício Ramos era um dos responsáveis pela empresa. Outra pessoa envolvida é José Cláudio da Silva, morador em Cachoeira Paulista (SP) e suposto mentor do esquema.

Ambos aparecem em um vídeo no Youtube denotando total responsabilidade pelo negócio.

Pirâmide financeira

“Foi um golpe perfeito. Tudo tramado, esquematizado”, disse à reportagem o administrador de empresas Neydson Carvalho Ferreira, morador de Recife.

Ele disse que fez seu primeiro aporte na Orion em julho do ano passado. O rendimento prometido foi de 50% sobre os bitcoins aportados, pagos a cada 10 dias.

De acordo com ele, o negócio foi apresentado como um sistema de ajuda mútua. Seu primeiro investimento foi de R$ 2.200 e depois foi escalonando até um montante de cerca de R$ 17 mil, divididos entre sua conta e de mais quatro pessoas da família.

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“Os depósitos a gente fazia em bitcoin, depositando na nossa carteira. Nada de Real”, afirmou.

Quando a Orion parou, disse, o grupo no Telegram mudou de nome e ficou bloqueado para comentários. José Cláudio foi o primeiro a sumir;  Fabrício, só reapareceu agora.

Questionado pela reportagem sobre o que teria aprendido com a experiência na Orion, Neydson disse que “foi uma boa lição”.

“Esse dinheiro é sujo e maldito, essas pessoas têm que ser presas e incriminadas, e que a justiça Divina caia sobre elas, pois mexeram com pais de famílias, pessoas humildes que venderam tudo acreditando num sonho. Vida que segue”, concluiu.

Investidor de SP perdeu R$ 90 mil

O autônomo Jéferson Pereira dos Santos, de Itupeva, interior de São Paulo, afirmou à reportagem que não conseguiu nenhum retorno após investir cerca de R$ 90 mil. 

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“Hoje eu entendo como funciona esse sistema. Todos pregam o marketing que não se trata de uma pirâmide, que não existe uma conta central”, disse.

Ele agora faz outros negócios com ativos digitais, mas afirmou que jamais participará de novo de um negócio como o da Orion.

Assim como Neydson, Jéferson afirmou que os investimentos eram feitos em bitcoin. No seu caso, comprou os ativos em uma corretora e os enviou para uma conta do negócio.

Segundo ele, a plataforma foi retirada do ar provavelmente porque a certa altura os clientes começaram a tirar prints para servir como prova num eventual processo.

Os dois acreditam que os donos esconderam os bitcoins. Neydson disse que quando a Orion recebeu os ativos a moeda valia cerca de R$ 40 mil. Hoje, 1 Bitcoin vale cerca de R$ 60 mil.

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“Eles são os responsáveis pelo prejuízo de todos e eles têm sim condições de ressarcir todo mundo e ainda ficariam milionários”, comentou Jéferson.

Chefe da pirâmide

Fabrício não tem mais contas nas redes sociais, o que dificultou saber mais do seu passado e em quais atividades ele trabalha, além de se envolver com a pirâmide financeira. Conforme relatos, ele ainda leva uma vida simples em Itamonte, provavelmente para não chamar a atenção.

Acerca de José Cláudio, uma imagem obtida pela reportagem sugere que no passado ele prestou serviços para uma famosa empresa de telecomunicação. Ao contrário de Fabrício, Cláudio teria mudado completamente de vida, inclusive adquirido alguns imóveis.

“Mudou-se pra Cachoeira Paulista, mansão de jogador de futebol”, comentou Neydson.

R$ 5 milhões ‘parados’

O esquema da dupla pode ter arrecadado vários milhões em bitcoin. Conforme revelaram os áudios obtidos pela reportagem, houve um período que só de saldo parado em contas havia R$ 5 milhões.

Conforme começaram os atrasos nos pagamentos, os associados questionaram Fabrício sobre o montante, possivelmente esquecido por investidores.

“Não é tão simples assim, tá invadindo a conta das pessoas. Não é bem assim”, revela um áudio atribuído à voz de Fabrício. Conforme é explicado, havia no sistema mais de 50 mil contas, sendo 10 mil “paradas”.

“Aqui é Fabrício falando”

A Orion Partner começou a ruir em agosto do ano passado, quando vários associados ficaram sem receber. Mesmo com o momento negativo, em novembro, Cláudio e Fabrício reformularam o negócio e conseguiram angariar mais dezenas de milhares de pessoas até quebrar de novo.

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Em um dos áudios, ao explicar sobre ‘problemas nos sistema’, Fabrício se identifica como “um dos fundadores da Orion” e solta a velha desculpa usada pela maioria dos estelionatários que atuam nesse tipo de golpe.

“Aqui é Fabrício falando. Sou eu um dos fundadores da Orion. Como todos sabem, aconteceram uns imprevistos onde acabou acontecendo esses atrasos. Ninguém perdeu dinheiro aqui dentro, o negócio é sério. A gente tá fazendo de tudo para o melhoramento da Orion”.

Tiro pelas costas

No dia da ocorrência, a reportagem falou com a delegada do caso, Camila Pacheco Monteiro, titular da Delegacia de Polícia Civil em Itamonte.

Na ocasião, ela disse que o inquérito ainda estava em fase inicial e que o crime ocorreu por volta das 7h. Fabrício se apresentou à delegacia 10 horas depois do ocorrido; Edivaldo, que levou um tiro no ombro — supostamente pelas costas — não corre risco de morte. 

O filho de oito anos que Edivaldo levou consigo ao local foi acolhido pelo Conselho Tutelar. A entidade registrou queixa contra a mãe de Fabrício por ela ter ameaçado a criança com um pedaço de pau, conforme registrado em vídeo.