Os últimos meses estão sendo difíceis para o mercado de criptomoedas e os mineradores de bitcoin estão entre os grupos mais afetados. Segundo dados anunciados pelo The Block Research nesta quinta-feira (2), a receita dos mineradores em maio foi de US$ 906 milhões – a menor em 11 meses.
O número negativo quebra uma tendência de alta que vinha acontecendo desde julho de 2021; todos os meses seguintes, a receita de mineração de bitcoin superou a faixa de US$ 1 bilhão.
Aliás, a receita dos mineradores em maio é quase a metade dos US$ 1,72 bilhão que os profissionais conseguiram lucrar em outubro do ano passado — uma queda de 47,3% em sete meses.
Somado à fatores como o aumento da concorrência e a necessidade de pagar por investimento anteriores, a queda na receita jogou os mineradores para o centro da crise das criptomoedas. Agora, os players do setor enfrentam a necessidade de tomar decisões drásticas para sobreviver, como a fusão com empresas maiores e a venda de tokens recém-minerados.
A queda do faturamento das mineradoras listadas em bolsas de valores também está prejudicando o preço das ações. A quarta-feira (1º) foi um dia particularmente difícil em que algumas companhias apresentaram quedas de dois dígitos, como foi o caso da Core Scientific (-14,1%) e Hut 8 (-11,3%), relatou o The Block.
Outros nomes mais famosos no setor também enfrentaram quedas ontem, entre elas a Riot Blockchain (-9,3%), Argo Blockchain (-4,8%) e Bitfarms (-6,4%).
Entendendo a queda
A atual crise que afeta os mineradores de bitcoin é precedida de um grande aumento na concorrência no setor.
No mês passado, a dificuldade de mineração do bitcoin chegou ao nível mais alto da história como resultado do tanto de poder computacional dedicado à rede por mineradores mundo afora, inclusive da China, onde a atividade é proibida.
Assim uma situação complexa se forma: enquanto cresce a concorrência no setor — o que significa que um minerador deve investir mais dinheiro em máquinas para sair na frente dos concorrentes —, o lucro das operações diminui por causa da desvalorização do bitcoin.
Nesta quinta-feira (2), a criptomoeda registra uma queda de 5% que mais uma vez derruba seu preço para baixo da linha dos US$ 30 mil, para US$ 29.850. No mês, a desvalorização do bitcoin chega a 22%, segundo o CoinMarketCap.
Neste cenário, prevalece os mineradores que já enfrentaram outros “invernos cripto” no passado e possuem experiência e fundos suficientes para se manter vivo no momento de crise.
Uma solução encontrada por players menores que estão fora desse grupo tem sido unir forças com outras empresas que passam pela mesma dificuldade em acordos de fusão (M&A), como explicou ao CoinDesk a chefe de mineração da Galaxy Digital, Amanda Fabiano:
“Acho que nos próximos seis meses provavelmente veremos algumas atividades de fusão acontecer. Isso porque alguns mineradores que entraram no setor durante o pico, simplesmente não serão capazes de atender às suas necessidades”.
Decisões difíceis
Quando o bitcoin atingiu seu topo histórico de US$ 68 mil em novembro passado, muitos mineradores do mercado aproveitaram o momento para expandir as operações e máquinas de alto desempenho e, consequentemente, alto custo, foram encomendadas aos montes.
Contudo, a queda do bitcoin e o aumento da concorrência podem estar atrasando o retorno de investimento para esses mineradores.
“Muitos mineradores não têm capital suficiente para terminar o que começaram”, disse Mike Levitt, CEO da Core Scientific, ao CoinDesk, apontando que a situação é mais delicada para empresas que entraram no setor nos últimos 12 meses e sem um “balanço sólido”.
“Essas empresas se encontraram em uma posição em que fizeram planos e compromissos e assumiram que o capital externo, seja do mercado público ou privado, estaria sempre disponível. Agora, o custo do capital, se disponível, ficou mais caro, e alguns mineradores não têm dinheiro suficiente”, avaliou.
Nesse cenário, empresas de maior porte, como a Core Scientific e Bitfarms, diminuem suas expectativas de crescimento para os próximos meses.
Enquanto isso, as empresas menores abrem mão da independência dos negócios para tentar se fundir com players maiores. “As empresas que não se prepararam para essa crise têm decisões estratégicas muito difíceis de tomar”, concluiu Levitt.
Entre essas decisões difíceis está a venda das reservas de bitcoin recém-minerado no mercado. De acordo com a Compass Mining, o fluxo de bitcoin sendo enviado para corretoras por mineradores chegou ao nível mais alto desde janeiro.
“Eles estão sentindo a dor após a última grande queda no preço. Junte isso com um ajuste de dificuldade para baixo – indicando que os mineradores estão desligando as máquinas – e parece que os mineradores podem estar atingindo uma barreira na questão de lucratividade”, escreveu a companhia.