O criador da falida corretora FTX, Sam Bankman-Fried (SBF), segue está no centro das atenções—mas não por bons motivos.
A reguladora de mercado dos EUA, a SEC, e o Departamento de Justiça do país continuam investigando o fundador e ex-CEO da exchange. O empresário também tem sido chamado para depor perante a Câmara dos Deputados americana.
Depois de bilhões de dólares de clientes terem sumido como fumaça em “um dos colapsos mais abruptos e difíceis na história da América corporativa”, a exchange deve US$ 3,1 bilhões aos seus 50 principais credores.
Portanto, não é de se surpreender que as pessoas se perguntem: por que SBF ainda não está atrás das grades?
A resposta simples é que—embora possa parecer que SBF fez algo errado—ainda não sabemos se algo criminoso de fato aconteceu no colapso da FTX.
O sucessor de SBF, John Jay Ray III, mais conhecido por ter ajudado a desvendar o colapso da Enron, disse que a liderança da FTX era grosseiramente incompetente, se não criminosa. Em um pedido de recuperação judicial, Ray comentou que ele “nunca tinha visto uma falha tão grande dos controles corporativos e uma ausência tão completa de informações financeiras confiáveis.”
Várias investigações estão em andamento e, até que sejam concluídas, está claro que SBF não estará atrás das grades, disseram especialistas jurídicos ao Decrypt.
Este também não é um caso simples: a FTX não é uma empresa típica, e o mundo cripto raramente é simples.
Embora os americanos tenham perdido dinheiro (apesar dos regulamentos e restrições conhecidos como “geofencing”, algo como cercas virtuais ou zonas de influência das regras financeiras de outros países), apenas 2% dos clientes FTX eram dos EUA, com a FTX—uma grande holding com mais de 100 entidades relacionadas—sediada nas Bahamas.
“Em primeiro lugar, o fato de SBF e a FTX terem laços nas Bahamas acrescenta mais uma camada de complexidade à investigação dos EUA”, disse o advogado cripto, Charles Slamowitz. “Em segundo lugar, os promotores não são tão familiarizados com fraudes de criptomoedas em larga escala, que é um tema com desenvolvimento mais recente.”
“Reunir as informações certas para apresentar acusações é, portanto, algo mais complexo e opaco”, continuou ele. “Portanto, embora uma acusação contra SBF seja apenas uma questão de tempo, as investigações para acusação geralmente demoram um pouco mais.”
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The full GMA SBF interview. @GStephanopoulos did a good job pressing Sam. Sam did himself zero favors with this. “I wasn’t even trying to manage risk.” Sam feels the need to speak and is going against all legal counsel — a huge mistake born from hubris.
— Autism Capital 🧩 (@AutismCapital) December 1, 2022
pic.twitter.com/s5iBFiqkOs
Thomas Gorman, sócio da Dorsey & Whitney, especialista em defesa de investigações e ações de execução da SEC e casos criminais de Valores Mobiliários de colarinho branco, concordou que a sede da FTX nas Bahamas complica as coisas.
“Isso cria alguns problemas, porque você tem leis diferentes que regem diferentes aspectos da organização”, disse ele ao Decrypt. “Isso acabará impactando quem é cobrado pelo que—supondo que alguém será cobrado.”
De qualquer forma, as Bahamas têm um tratado de extradição com os EUA, caso as coisas cheguem a esse ponto.
Gorman disse que, apesar do fato de que SBF está sendo investigado por “todo mundo que você pode imaginar em Washington”, ninguém ainda fez uma determinação sobre se as acusações criminais precisam ser apresentadas. E se forem apresentadas acusações criminais, levará algum tempo até que alguém esteja atrás das grades.
Nesse meio tempo, enquanto SBF tem o direito de permanecer em silêncio para evitar incriminar a si mesmo, ele tem sido tudo menos silencioso, concedendo várias entrevistas de alto visibilidade, fortemente escrutinadas, além de continuar fazendo posts no Twitter.
Uma possibilidade é que SBF esteja fazendo uma “campanha de relações públicas” para minimizar sua culpa, afirmando que ele não sabia ou não entendia o que estava acontecendo. Em declarações ao New York Times, ele disse que “não misturou fundos conscientemente.”
“A ótica e a opinião pública continuam sendo parte integrante do ecossistema cripto para determinar se devem processá-lo”, explicou Slamowitz.
Se SBF está a usar a incompetência como desculpa, será que as autoridades vão comprar essa? Os analistas da indústria terão de esperar para ver. “É uma grande história que vai durar muito tempo”, acrescentou Gorman.
*Traduzido por Gustavo Martins com autorização do Decrypt.
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