O setor de fundos negociados em bolsa (ETFs) dos Estados Unidos tornou-se um verdadeiro “mundo cão” nas últimas semanas, com vários gestores de ativos disputando para lançar ETFs de Dogecoin à vista.
Mas pelo menos um emissor de fundos não está entrando nessa briga. Para a empresa de investimentos em criptomoedas Canary Capital, a moeda meme inspirada no Shiba Inu é só latido e nada de mordida.
O CEO da Canary Capital, Steven McClurg, disse ao Decrypt nesta semana que sua empresa não tem planos de lançar um ETF de Dogecoin à vista, apontando tanto para a oferta ilimitada da moeda digital quanto para sua falta de utilidade.
A empresa é uma das várias emissoras envolvidas em uma corrida para expandir suas ofertas de investimentos baseados em criptoativos após a mudança dos EUA para um regime mais favorável aos ativos digitais sob o governo do presidente Donald Trump. A Canary já entrou com pedidos para lançar fundos de Solana, XRP, Litecoin e HBAR à vista — mas McClurg afirmou que a empresa não vai entrar na disputa pelo ETF de DOGE.
“Tenho dificuldade em colocar [Dogecoin] em um pacote de ETF, porque a moeda é literalmente projetada para perder valor e aumentar constantemente sua oferta”, disse McClurg ao Decrypt.
“Não há uma oferta limitada, então, essencialmente, você está colocando algo em um ETF que foi projetado para caminhar em direção a zero”, acrescentou.
O Dogecoin é a oitava maior criptomoeda por valor de mercado, de acordo com dados do CoinGecko. No momento da escrita, está sendo negociado a cerca de US$ 0,25, quase metade do seu preço máximo de três anos, de US$ 0,48, alcançado em dezembro.
O DOGE não tem um limite fixo de fornecimento, o que contrasta fortemente com outras criptomoedas como Bitcoin e XRP. A mineração na blockchain do Dogecoin gera 10.000 DOGE por bloco, com esses tokens sendo continuamente adicionados à oferta total em constante expansão.
É verdade que outras redes também possuem fornecimento ilimitado de tokens, incluindo a Solana — outro ativo para o qual a Canary pretende lançar um fundo. Mas, na visão de McClurg, há uma diferença fundamental: a utilidade.
Como um token de utilidade, o SOL é usado para pagar por transações na rede Solana. A rede e seu token nativo são utilizados para negociar moedas meme populares como Official Trump, BONK e Dogwifhat. Além disso, o token também é empregado para interagir com aplicativos descentralizados e uma variedade crescente de jogos na rede.
Por outro lado, as moedas meme são famosas por sua falta de utilidade — e o Dogecoin, a moeda meme original criada como uma piada em 2013, exemplifica bem esse conceito. Embora os fãs mais fiéis do DOGE tenham implementado protocolos para lançar moedas meme e colecionáveis na blockchain, semelhante ao que ocorreu no Bitcoin, essas iniciativas são nichadas e possuem uma base de usuários limitada.
O Dogecoin acumulou uma legião de detentores fiéis, incluindo alguns de destaque. O fundador da Tesla, Elon Musk, é um grande defensor do Dogecoin e defendeu a tokenomics única da criptomoeda em novembro passado, escrevendo em um post no X: “Acho que a inflação fixa do Dogecoin, que significa uma inflação percentual decrescente, é um recurso, não um defeito.”
Animados com a base de fãs leal do token, alguns gestores de ativos entraram com pedidos nas últimas semanas para lançar ETFs que acompanham o preço do Dogecoin. A Bitwise entrou com um pedido no mês passado para lançar um fundo baseado em Dogecoin, seguindo o exemplo das gestoras Osprey e Rex Shares. Enquanto isso, a Grayscale lançou na semana passada um Dogecoin Trust, logo após entrar com um pedido junto aos reguladores federais para converter o fundo em um ETF à vista.
De forma mais ampla, as empresas de investimentos aceleraram os esforços para lançar novos ETFs baseados em criptomoedas para investidores dos EUA, com emissores apresentando pedidos para oferecer fundos baseados em uma ampla gama de criptomoedas, como XRP, Solana, Official Trump e BONK.
Esses pedidos surgem em meio a uma onda de mudanças regulatórias e políticas nos EUA para ativos digitais, incluindo a nomeação de um novo presidente da Comissão de Valores Mobiliários (SEC) favorável às criptomoedas. A SEC também lançou uma força-tarefa para criptoativos, com a comissária Hester Peirce afirmando que o regulador precisa “resolver a bagunça” criada pela administração anterior.
Essa mudança de postura — combinada com a aprovação de ETFs de Bitcoin e Ethereum à vista no ano passado — despertou as esperanças dos emissores de que os reguladores federais possam aprovar uma série de veículos de investimento em cripto nos próximos anos.
Embora McClurg tenha justificado o pedido da Canary para um ETF de Solana com base no fato de que o SOL tem uma utilidade mais substancial do que o DOGE, ele admitiu que esse não é um foco central para a empresa.
“É tipo: ‘Bem, se já estamos fazendo esses outros, podemos muito bem entrar na onda e aproveitar caso algo aconteça'”, disse McClurg ao Decrypt sobre o pedido do ETF de SOL.
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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