A tecnologia Blockchain é frequentemente criticada com base em impressões de suas insuficiências. Por exemplo, em 2019, houve relatos generalizados subestimando a blockchain como uma tecnologia marginal não merecedora de atenção e investimento.
Após inúmeras startups de blockchain de pequeno e médio porte fecharem as portas em 2019. A justificativa de que essas ocorrências se deram devido a uma ‘fadiga da blockchain’ é somente parcialmente verdadeira.
Em 2020, as primeiras indicações são de que as grandes empresas começaram a perceber a tecnologia blockchain como uma solução real e aplicável a diversos pontos problema em seus modelos de negócios.
Walmart, IBM, Maersk, Facebook, FedEx e Salesforce são somente algumas das empresas que confirmaram seu objetivo de adotar a tecnologia blockchain. E, de fato, alguns já lançaram soluções baseadas nessa tecnologia.
A parceria da IBM e da Maersk, que utiliza blockchain numa solução de logística, conquistou seu primeiro acordo com novos gigantes do transporte ainda este ano.
Por outro lado, o Walmart Canadá abriu recentemente a maior rede de frete e pagamento baseada em blockchain do mundo, o qual aborda pontos problemáticos da cadeia de suprimentos da gigante do varejo.
O Facebook propôs a Libra, o ativo estável em moedas, com potencial para transformar o conglomerado de mídia social em uma instituição bancária global.
Da mesma forma, o Banco Popular da China indicou que seu yuan digital soberano está quase pronto para uso global. A esse respeito, o líder chinês Xi Jinping incentivou o resto do país a abraçar as oportunidades geradas pelo blockchain para impulsionar a inovação do país.
Desafios blockchain e criptomoedas
Independentemente das tendências positivas quanto a adoção de blockchain em 2020 até o momento, a tecnologia blockchain e as criptomoedas enfrentam alguns desafios consideráveis que precisam ser superados antes de sua adoção em massa.
Neste artigo, exploramos os três principais desafios que a tecnologia blockchain e as criptomoedas enfrentam em 2020. Estes incluem:
- A imaturidade da tecnologia blockchain e criptomoedas
- Má reputação
- Embate com leis, regulamentações e outros sistemas de controle da sociedade
A imaturidade da tecnologia blockchain e criptomoedas
Quando se trata de tecnologia, existe uma tendência natural para superestimar o efeito da tecnologia emergente a curto prazo e subestimá-lo a longo prazo.
Com isso em mente, a imaturidade da tecnologia blockchain e das criptomoedas cria desafios significativos que precisam ser superados antes que a adoção em massa seja concretizada.
Os problemas de imaturidade estão conectados:
- Usabilidade
- Interoperabilidade
- Segurança
- Escalabilidade
Usabilidade —É amplamente reconhecido que a compra e venda de criptomoedas ainda é um desafio.
Essencialmente, se você deseja atuar no ecossistema de cripto precisa participar de um processo de verificação, o qual muitas pessoas consideram ser um impedimento para sua participação neste meio.
Procedimentos de segurança complicados não são atrativos para uma adoção em massa.
Por esse motivo, a necessidade de desenvolver procedimentos intuitivos para a compra e o armazenamento de moedas digitais continua sendo uma questão crucial para esse setor.
Interoperabilidade — Semelhante aos dias de surgimento da Internet, quando as intranets privadas eram mais populares, o blockchain é caracterizado pela ausência de interoperabilidade entre diferentes plataformas.
No entanto, parcerias como a Ethereum e a Hyperledger podem inspirar a interoperabilidade entre diferentes blockchains para o futuro.
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A adoção no mundo real da tecnologia blockchain e criptomoedas depende fortemente dessa capacidade.
Segurança — Normalmente, os sistemas blockchain são mais seguros em comparação com as estruturas de computador convencionais.
No entanto, os hackers ainda podem violar aplicativos, sistemas e empresas que oferecem serviços de blockchain, como as carteiras de criptomoedas.
Por exemplo, em 2019 uma plataforma de troca de cripto, a QuadrigaCX, perdeu US$ 250 milhões para hackers devido ao seu modelo de negócios centralizado.
Escalabilidade — Embora algumas plataformas, como o Ripple, indiquem que têm capacidade para lidar com o grande volume de transações, a maioria das plataformas ainda tem um longo caminho a percorrer em termos de dimensionamento de suas soluções.
Por exemplo, o Ethereum, a plataforma pioneira de contratos inteligentes e aplicativos descentralizados (dApps) processa apenas 15 transações por segundo.
Embora a plataforma esteja explorando atualizações como a de Istambul, a questão não está totalmente resolvida porque essa atualização ainda enfrenta vários atrasos.
A interoperabilidade pode desempenhar um papel crucial ao enfrentar esse desafio, pois permitiria que os usuários aproveitassem diferentes blockchains e obter escalabilidade.
Má reputação
Menção aos termos blockchain e criptomoeda nos faz pensar em atores desonestos, criminosos e esquemas Ponzi de enriquecimento rápido que empregam tecnologia emergente para perpetuar fraudes milionárias.
Da mesma forma, disputas e discussões calorosas entre plataformas blockchain darem origem a uma má impressão global relativo aos ecossistemas de blockchain e criptomoeda.
No entanto, estamos vendo parcerias empolgantes, como a Token Taxonomy Initiative, uma plataforma neutra que está sendo testada pela Enterprise Ethereum Alliance.
Embora este seja um passo para a construção de uma reputação, ainda não é suficiente.
É necessário que haja mais colaborações para que essa transformação se efetive. Melhorar a percepção pública dos ecossistemas blockchain e de criptomoeda é parte primordial na busca pela sua adoção em massa.
Embate com leis, regulamentações e outros sistemas de controle da sociedade
Uma das principais razões pelas quais a tecnologia blockchain e as criptomoedas estão tendo que se empenhar tanto para alcançar a adoção em massa se deve ao fato de que eles representem um confronto aos modelos convencionais da economia e da sociedade.
A regulamentação é o obstáculo mais notável para os inovadores de blockchain. Essencialmente, os reguladores favorecem os operadores convencionais em detrimento dos disruptores.
Obviamente, a tecnologia blockchain e as criptomoedas apresentam novos desafios para os reguladores que procuram proteger consumidores e mercados.
No entanto, as agências estatutárias das maiores economias do mundo têm, em grande medida, negado a atuação dessa tecnologia. Isso acaba por sufocar as tentativas de inovação e o crescimento.
Por esse motivo, a primeira grande economia que abraçar a blockchain de forma significativa e criar um sistema regulatório que promova a inovação, salvaguardando os usuários ao mesmo tempo, impulsionará o crescimento previsto da blockchain.
Em conclusão, como é o caso de algo tão transformador quanto o blockchain, o futuro não pode ser previsto, mas alcançado.
Agora, mais do que nunca, projetos de blockchain ou criptomoeda tomarão frente para construção e transformação desse ambiente.
Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Desde janeiro de 2019, atua na empresa de criptomoedas Changelly como gerente geral para a América Latina.