O mercado de criptomoedas passou a ter uma capitalização de mercado menor que US$ 1 trilhão nesta segunda-feira (13), algo que não se via desde janeiro de 2021. Para entender o que está acontecendo, o Portal do Bitcoin conversou com quatro especialistas brasileiros.
O setor sofre com o cenário macroecônomico de inflação global e alta de juros nos Estados Unidos. Mas, somado a isso, a plataforma de empreśtimos de criptomoedas Celsius travou o saque de seus clientes e gerou pânico em uma parcela grande de pessoas. A companhia teria US$ 12 bilhões em ativos de investidores.
O analista de criptomoedas e trader Marcel Pechman fez uma análise dos motivos que levaram Celsius a interromper saques.
“Celsius é uma dessas empresas de ‘deposite aqui suas moedas pra ganhar yield’. Eles chegaram a passar de US$ 22 bilhões sob gestão e sempre operaram sem muita transparência, enfiando o dinheiro dos clientes no stake de ETH2.0, DeFi, e arbitragens. Chegaram a ter 0,7% dos BTCs em circulação e estima-se que ainda hoje tem mais de 100 mil BTC, além de outras moedas”.
Segundo o analista, o problema é que a maioria está ‘travado’ seja no ETH 2.0 ou colateral de alavancagem de DeFi:
“Como teve muito resgate, e a própria queda nas cotações, teve que puxar o fio da tomada. Resumindo: vai precisar de ajuda pra entregar DAI na MakerDAO e sair da alavancagem antes que caía abaixo do preço de liquidação. Talvez tenha dinheiro para pagar todos, não sabemos, mas a pirâmide Celsius está com saques bloqueados”.
Além disso, Pechman acredita que são infundados os rumores de que a Microstrategy, de Michael Saylor, esteja em perigo, já que o investidor poderia esperar até um preço de US$ 5 mil para ter que liquidar seus bitcoins que foram obtidos com empréstimos colateralizados.
Mercados globais pressionados
Segundo Lucas Passarini, trader do Mercado Bitcoin, os mercados globais seguem pressionados com o avanço da inflação. Para ele, a expectativa de um aumento ainda maior na taxa de juros dos bancos centrais tem impactado o comportamento dos investidores, que buscam liquidez e proteção de incertezas.
O especialista aponta para possíveis patamares próxiimos para a precificação do Bitcoin.
“O mercado cripto acelerou suas perdas nessa madrugada e sua capitalização de mercado está abaixo de 1 trilhão de dólares, nível visto apenas em janeiro de 2021. A volatilidade alta deve ditar o ritmo dos mercados, os pontos de controle estão em 22 mil dólares de suporte e 28 mil dólares de resistência para o BTC. As altcoins apresentarão movimentos ainda maiores nesse momento de stress”, afirma.
João Paulo Oliveira, da Nox Bitcoin, ressalta que o Bitcoin nunca viveu com um cenário de inflação e juros americanos em alta. Como muitos players, ressalta que os ativos de riscos estão sendo evitados e o Bitcoin entrou nesse balaio.
Porém, Oliveira lembra que o ecossistema de criptomoedas tem “fatores de risco adicionais”que são peculiares ao meio.
“Celsius é a maior plataforma de empréstimos de criptomoedas, de lending, e está insolvente e pode parar de honrar as dívidas. A plataforma tem mais de US$ 12 bilhões de dólares. Junto isso ao fato de terem congelado os saques e a gente viu essa queda expressiva do Bitcoin”, diz Oliveira.
Dominância do Bitcoin no mercado
Diretor de Investimentos da QR Asset Management, Alexandre Ludolf lembra que a invasão da Rússia na Ucrânia também tem seu papel no cenário desestabilizado.
Sobre o Bitcoin, lembra que a dominância do BTC sobre o restante do mercado vem aumentando, o que mostra uma busca por “qualidade” como ele mesmo define.
“Neste sentido, o bitcoin tem sofrido e se encontrado próximo à região da média móvel de 200 dias. O aumento da dominância do bitcoin denota uma busca por qualidade. Acreditamos que o bitcoin continuará sensível ao risco global, mas que, ainda assim, será o melhor projeto de tecnologia para os próximos meses devido às suas características de proteção inflacionária”, afirma.