Há muito em jogo para a indústria das criptomoedas em torno da briga da Kraken com a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC).
Na última quinta-feira (9), a SEC anunciou que a exchange de criptomoedas Kraken concordou em pagar uma multa de US$ 30 milhões por não registrar a oferta e venda de seu programa de staking de criptoativos. Apenas um dia antes, o CEO da Coinbase, Brian Armstrong, alertou no Twitter que tinha ouvido “a SEC gostaria de se livrar do staking de criptomoedas nos EUA para clientes de varejo”.
À primeira vista, parece algo que deveria ter sido ruim para todos os serviços de criptomoedas. Mas não foi bem assim que a notícia repercutiu. Os tokens de governança da Lido e Rocket Pool, dois dos maiores serviços de pool de staking, subiram 11% em um único dia.
Isso é um sinal de que o mercado acha que as exchanges centralizadas como intermediárias de staking, como Kraken e Coinbase, devem se preocupar, mas não o resto da indústria.
No último dia, o volume de vendas do Coinbase Wrapped Staked ETH (cbETH) ultrapassou as compras em uma proporção de quase 3:1, de acordo com o GeckoTerminal.
As diferentes formas de fazer staking
Ativos travados em blockchains proof-of-stake (PoS), como Ethereum, ajudam a manter as redes funcionando. Eles são como os validadores, cujo hardware armazena dados e processa novas transações, provam que estão no jogo. Os validadores recebem recompensas por participar das redes, mas podem perder alguns de seus ativos travados por inatividade ou outras infrações.
Tornar-se um validador autônomo no Ethereum, que agora é a maior rede proof-of-stake do mundo, não é uma tarefa fácil para a maioria dos investidores de varejo. Um usuário precisaria ter 32 ETH, equivalente a cerca de R$ 250 mil nas cotações atuais, para fazer staking por conta própria.
A alternativa encontrada por usuários com quantidades mais modestas de ether para participar do staking, é recorrer a provedores de staking-as-a-service e pools de staking.
Esses pratos vêm em dois sabores diferentes: staking direto ou líquido. Este último destina-se a oferecer aos usuários o melhor dos dois mundos: eles recebem uma parte das recompensas do validador por seu ETH depositado e um token, resgatável por seus ativos em staking, que pode ser negociado ou usado como garantia.
Como categoria, os 65 protocolos de staking líquido rastreados pelo DeFi Llama representam US$ 12 bilhões, ou 26%, dos US$ 47 bilhões em ativos no ecossistema DeFi.
Isso significa que eles são a terceira maior categoria desse setor, atrás de US$ 13 bilhões que circulam em empréstimos e US$ 19 bilhões em exchanges descentralizadas (DEX).
Mais de US$ 11 bilhões em ativos em protocolos de staking líquido estão no Ethereum. E entre os 16 protocolos que suportam o staking de ETH, a Lido é de longe a maior. É responsável por US$ 8 bilhões, ou 75%, dos fundos depositados.
As preocupações da SEC com staking
Parece que pelo menos parte do problema que os reguladores da SEC tiveram com o programa da Kraken foi uma simplificação exagerada do staking para torná-lo menos intimidador para os clientes de varejo.
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Uma seção da reclamação da SEC questiona o fato de que a própria Kraken determinou os retornos que seus clientes receberiam, em oposição à taxa variável de recompensas projetada pelo protocolo.
“Os réus determinam esses retornos, não os protocolos de blockchain subjacentes, e os retornos não dependem necessariamente dos retornos reais que a Kraken recebe do staking”, escreveu a SEC.
Ao fazer isso, a Kraken “intermediou demais”, avaliou Alex Mogul, diretora sênior de staking e infraestrutura da Republic Crypto, ao Decrypt.
“Quando você está depositando no Kraken e, em seguida, o Kraken lida com a matemática, é muito mais fácil do que tentar mudar a rede com a qual você está se envolvendo e, em seguida, pressionar transacionar para delegar a participação. É muito complicado”, disse ela.
Coinbase pode virar alvo da SEC?
De sua parte, a Coinbase disse que seu programa de staking não é como o da Kraken.
“O staking na Coinbase continua disponível e os ativos travados em staking continuam a ganhar recompensas de protocolo. O que está claro no anúncio de hoje é que a Kraken estava essencialmente oferecendo um produto de rendimento”, disse Paul Grewal, diretor jurídico da Coinbase, em comunicado.
“Os serviços de staking da Coinbase são fundamentalmente diferentes e não são valores mobiliários. Por exemplo, as recompensas de nossos clientes dependem das recompensas pagas pelo protocolo e das comissões que divulgamos”, acrescentou.
Mogul, que lidera a oferta de staking-as-a-service na Republic Crypto, disse que espera ver softwares, como carteiras mais bem projetadas, preencher a lacuna que agora pode ser deixada por corretoras centralizadas em opções de staking.
“Ainda acho que podemos criar produtos de software que abstraiam essa complexidade sem sacrificar quem está sob a custódia dos ativos”, disse.
No outro extremo do espectro de investidores, Jaydeep Korde, cofundador e CEO da Launchnodes, disse que o acordo da Kraken levará os negócios a alternativas descentralizadas.
Sua empresa oferece soluções de staking sem custódia para instituições ou indivíduos com alto patrimônio líquido que possuem os 32 ETH necessários para executar seu próprio nó, mas não querem lidar com a tecnologia por conta própria. O usuário possui a infraestrutura usada para operar um validador, mas o Launchnodes cuida de toda a manutenção.
“Ao executar suas operações de staking na infraestrutura que você possui, evita a necessidade de confiar em empresas de cripto, reguladas ou não, que estão apresentando falhas operacionais e de governança cada vez maiores”, avaliou.
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.co.
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