O Nubank fez uma nova rodada de demissões nesta sexta-feira (10) e incluiu uma cláusula de não difamação da empresa em um contrato enviado aos funcionários. Quem assina o documento — ao qual o Portal do Bitcoin teve acesso — recebe um salário adicional e uma extensão de três meses do plano de saúde.
No texto, consta que o empregado não poderá difamar o Grupo Nu. “Difamar significa, sem limitação, fazer comentários ou afirmativas sobre qualquer pessoa ou entidade, inclusive, mas sem limitação, à imprensa, à mídia, em redes sociais diversas […]”, diz o texto que inclui Linkedin, Facebook, Instagram e Twitter como locais nos quais o funcionário não deve se expressar de maneira que prejudique a “honra, boa fama ou reputação” do empregador.
Caso o funcionário descumpra alguma das regras estabelecidas, o contrato prevê uma multa de 50% do valor total contemplado.
Para a advogada especializada em direito do trabalho, Cíntia Fernandes, trata-se de um dispositivo incomum no Brasil. “A empresa está vinculando as duas coisas. Só quem assina e concorda com a cláusula de não difamação é que vai receber o salário a mais e os meses a mais de plano de saúde. Isso é uma vinculação”, diz.
Cortes no Nubank
As demissões não são mais novidade no mercado de fintechs e startups. A diferença é que a maior parte das empresas passaram a demitir de forma rápida e em massa. O Nubank vem fazendo cortes pontuais desde dezembro. Uma funcionária demitida hoje, que conversou com a reportagem, estima que foram cerca de 30 desligamentos nesta sexta-feira.
No Linkedin, onde se tornou uma prática comum relatar a demissão como forma de encontrar novos postos de trabalho ou expressar o descontentamento com o antigo empregador, há pelo menos três relatos de funcionários do Nubank — dois ligados ao setor de contratações e um ligado à área de design de produto.
“Nas demissões anteriores, a orientação da empresa já era de não interagir com o conteúdo postado nas redes sociais para não gerar engajamento. Eu não reagia, por exemplo”, relata a antiga funcionária.
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Ela afirma que sempre gostou de trabalhar na fintech, mas que o clima começou a mudar a partir de outubro de 2022.
“Foi se criando um clima tenso. Cortavam coisas pequenas do orçamento como voucher do Ifood em ações internas. Cancelaram até mesmo a festa de final de ano da empresa, mesmo com local marcado. A partir de dezembro, os cortes começaram. Aos poucos, mas de maneira recorrente. Quando marcaram a reunião hoje de manhã, eu sabia que tinha chegado a minha vez”, conta.
Um dos setores mais atingidos foi o de recrutamento. O primeiro corte foi de 22 pessoas em um grupo de 100. A estratégia mostra uma desaceleração também no quadro de contratações. O Nubank nega e diz que seguirá contratando (ver nota abaixo).
A ex-funcionária relatou que recebeu dois documentos. O primeiro continha apenas uma linha e sinalizava o desligamento. O segundo falava de um pacote de benefícios que deveria ser assinado até às 18h de hoje. É neste documento que consta a cláusula de não difamação.
O que diz o Grupo Nu
Por meio da assessoria de imprensa, a empresa enviou a seguinte nota:
O Nubank, como todas as empresas, avalia constantemente sua estrutura e realiza contratações, desligamentos e transferências internas de acordo com as demandas do negócio, performance, necessidade de equipe, entre outros motivos. O Nubank segue contratando, no ritmo adequado para seus planos de negócios em 2023. Em respeito ao sigilo e proteção de dados dos seus funcionários, a empresa não comenta publicamente casos específicos, mas reitera que segue à risca a legislação trabalhista. As obrigações de confidencialidade e de não-difamação são recíprocas e praticadas por diversas empresas do setor. Elas constam nos nossos contratos de trabalho desde o momento de admissão, e são reiteradas nos acordos de desligamento.
*Atualização: a reportagem foi atualizada com uma segunda nota da assessoria de imprensa do Nubank enviada na terça-feira (14). O texto foi alterado.
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