Embora o uso de criptomoedas seja cada vez mais associado a investimentos ou proteção contra a inflação, a aplicação prática no dia a dia — como meio de pagamento — continua forte no Brasil. Segundo Thales Freitas, CEO da Crypto.com no país, os brasileiros estão usando cripto para fazer compras no supermercado, no e-commerce e até para controlar melhor as finanças pessoais.
“Os nossos clientes usam cripto para viver, e não só como investimento”, afirmou Freitas em entrevista concedida ao Portal do Bitcoin. Dados da empresa revelam que 65% dos gastos globais com o cartão da Crypto.com são feitos em supermercados. No Brasil, os principais estabelecimentos são Carrefour, Assaí, Magalu e Amazon.
“É um uso real. Muita gente transfere uma quantia por mês, gasta com o cartão e recebe cashback em cripto. Tem cliente nosso que fala: ‘Transfiro R$ 12 mil por mês, gasto e recebo R$ 400 de volta’”, conta.
Thales esclarece que a origem dos fundos repassados aos clientes por meio do cashback no cartão partem do caixa da própria empresa. “A gente investe muito em aquisição de usuários. Em vez de gastar com mídia, investimos no cliente diretamente. O cashback é uma forma de trazer pessoas para o ecossistema”, disse.
A Crypto.com relançou recentemente seu cartão, agora em versão global, com benefícios — nas versões pagas do cartão — como cashback, salas VIP, reembolsos em streaming e acesso a eventos. Emitido fora do país, o cartão permite que usuários façam compras no exterior com IOF reduzido, já que os pagamentos são feitos em stablecoins.
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O novo modelo também busca responder a críticas feitas ao cartão anterior, lançado em 2021, que exigia o bloqueio de tokens CRO por longos períodos.
Com a desvalorização do token ao longo do tempo — hoje CRO é negociado a 90% abaixo do seu recorde de preço —, muitos usuários relataram perdas. “A gente entendeu esse feedback. Por isso, reduzimos pela metade o valor necessário para o staking na nova versão, especialmente pensando nos clientes que estão com a gente desde aquela época”, afirmou Freitas.
Segundo o empresário, a ideia agora é oferecer mais flexibilidade. A versão gratuita do cartão continua disponível, sem necessidade de staking, mas com menos benefícios. “O cliente pode escolher o nível de envolvimento com o ecossistema. A proposta é dar autonomia, sem obrigar ninguém a travar ativos se não quiser”, explicou.
Freitas acrescenta que, além do Bitcoin como reserva de valor, o que tem crescido exponencialmente no Brasil é o uso de stablecoins. “Se tem um produto que encontrou ‘product-market fit’ no mercado cripto, são as stablecoins”, explicou.
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Participação no mercado brasileiro
A Crypto.com está desde 2021 no Brasil, e sua operação atual conta com 12 funcionários e escritório em São Paulo, além de suporte global. “Pouca gente sabe, mas um dos fundadores da Crypto.com é brasileiro”, destacou.
O empresário também garante que a empresa está participando ativamente das discussões regulatórias no Brasil. “A gente contribuiu com comentários técnicos nas consultas públicas 109, 110 e 111 do Banco Central. Existe uma abertura para o diálogo. O Banco Central quer construir junto, desde que você fundamente bem suas posições”, avaliou.
Segundo Freitas, a clareza regulatória que está sendo construída deve impulsionar ainda mais a adoção dos criptoativos no Brasil. “Estamos caminhando para um modelo em que a segregação de fundos será obrigatória e os direitos dos usuários estarão mais protegidos”, comentou.
Após o colapso da FTX, a confiança nas exchanges internacionais foi colocada à prova. Freitas reforça que a Crypto.com já praticava a segregação de fundos e passou a publicar provas de reserva. “A gente opera com hot, warm e cold wallets e está lançando também um serviço de custódia institucional nos Estados Unidos”, disse.
O futuro é cripto
Freitas é categórico ao dizer que a criptoeconomia será cada vez mais presente na vida das pessoas. “Eu vivo em cripto. Recebo em dólar digital, converto, gasto com stablecoin. Penso em dólar, penso em Bitcoin”, afirmou.
Para ele, o futuro passa por um mundo multipolar, com aumento da demanda por ativos alternativos como ouro e Bitcoin. “Não tenho dúvida de que o futuro do sistema financeiro passa por cripto. Já é uma realidade. Blockchain, smart contracts, staking… tudo isso resolve dores que eu mesmo via quando trabalhava no mercado tradicional.”
Freitas também vê com otimismo o cenário regulatório global. “Nos Estados Unidos, temos agora uma direção mais clara. O presidente quer colocar Bitcoin na reserva do governo. Isso é enorme. Nunca estive tão otimista”, concluiu.
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