“Não faz sentido corretoras pedirem ajuda do governo contra a concorrência”, diz diretor da Binance no Brasil

Executivo também falou sobre planos de expansão, KYC para contas antigas e disputas no mercado brasileiro
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Diretor da Binance no Brasil, Ricardo Da Ros, assumiu o cargo em janeiro (Foto: Divulgação)

O executivo Ricardo Da Ros mal começou como diretor da Binance do Brasil e já está em meio a uma polêmica com as principais corretoras brasileiras de criptomoedas, que acusam a multinacional de não seguir a legislação brasileira. Em conversa com o Portal do Bitcoin, Ros abordou polêmicas como KYC de clientes antigos, falou dos planos para o futuro e deu algumas repostas mais indiretas como sobre a relação com a Capitual.

Confira abaixo a entrevista completa:

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A Binance te contratou para ajudar a estruturar a operação brasileira. O que significa isso exatamente? 
Para o ‘conceito Binance’, que é uma mundial, a empresa mal começou a operar direito aqui. Agora quer montar uma equipe, listar as coisas necessárias da operação, os profissionais que a gente precisa e tudo que tem a ver com regulação, como as outras empresas do mercado. É mais ou menos o que aconteceu quando me contrataram na Ripio. Eles já tinham dado um passinho no Brasil e aí eu entrei. Acho que isso já diz tudo sobre as intenções da Binance no Brasil.

Quais foram os primeiros passos e quais serão os próximos?
Obviamente eu não vou poder dar detalhes de ações ou de planejamento, mas como a empresa é muito grande e tem muitas áreas, ainda estou numa fase de entender todos os fluxos de todas as áreas. E agora, com minha atuação mais pública, começa uma atividade mais externa também, interagir com as empresas, o mercado, reguladores, etc. Lembre que foi só em em outubro de 2020 que começou a aceitar depósitos em reais. Claro, um passo inicial pequeno da Binance para outras empresas pode parecer um passo gigante, tanto é que a gente tá brigando pelo número um em termos de volume negociado.

Quantos funcionários a empresa tem hoje e quantos planeja ter até o final do ano? 
Isso é relativo. Tem gente que atua no mundo todo ajudando com a iniciativa no Brasil. Não consigo te dar um número exato de funcionários que estejam atuando diretamente no país. Em relação a contratações por aqui, não tenho um número, mas vamos expandir. Até o final deste ano, a empresa vai ter outra cara em relação ao Brasil.

Nós encontramos um CNPJ da Binance no Brasil. Ele será usado nas novas operações? 
Não posso comentar sobre os planos internos. O que posso dizer é que parte do meu trabalho é ajudar a empresa tanto a entender o mercado brasileiro quanto a se estruturar da melhor forma. Pode pegar como exemplo o que já fiz na minha carreira: ajudei outras empresas estrangeiras a se estabelecerem no Brasil.

Você pertencia à ABCripto quando comandava o Ripio no Brasil. O que você acha das alegações da associação contra a Binance?
Eles podem pedir o que eles quiserem para os órgãos públicos. O mais interessante de tudo isso foi a reação da comunidade, de quem acompanha as notícias de cripto, que foi basicamente 100% contra a ação da associação. Foi até engraçado ler alguns comentários nas redes sociais, onde ninguém deu apoio para esta iniciativa. Acharam que foi um ato basicamente para tentar impedir a concorrência. A atitude mais saudável seria sentar para conversar, as empresas se coordenarem para avançar. Quando eu estava na Ripio, se alguma coisa como esta viesse para o debate eu votaria contra. Não faz sentido empresas de criptomoedas pedirem ajuda do governo contra a concorrência. Se gente trabalhar junto, a gente cria uma regulação mais saudável para o mercado todo.

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Mercado futuros da Binance, embora proibido pela CVM, segue disponível para os usuários brasileiros. Como resolver esse problema?
Isso foi resolvido. Quando teve a ordem, eu acho que a Binance parou de promover esse tipo de serviço e tirou a disponibilidade. Não tenho mais comentários a respeito.

O serviço segue disponível no Brasil.
Isso é uma questão do departamento jurídico. Mas a intenção da Binance é colaborar com o regulador local, com as autoridades… Então se tem alguma coisa que precisa ser feita, a gente vai fazer, não vejo problema. Ainda mais agora que eu entrei, isso é foco 100%. Até onde eu sei não está disponível, mas se você está dizendo que está, depois eu gostaria de ver.

Nos Estados Unidos, onde a Binance também não pode operar futuros, o cliente americano não consegue nem acessar a plataforma, pois é bloqueado pelo IP. 
Olha, isso eu vou ter que investigar, conversar internamente. Mas, a princípio, até onde eu sei, a gente não está promovendo isso, não está adquirindo clientes para Futuros.

Sobre a IN 1888, houve várias idas e vindas na comunicação da Binance. Afinal, a empresa vai enviar os reportes para a Receita Federal ou não? 
Atualmente, a Binance não existe no Brasil, então ela não tem essa obrigatoriedade na forma atual. Eventualmente isso pode vir a acontecer.

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Hoje existem muitos brasileiros na Binance com contas antigas feitas sem KYC. Há previsão de recadastramento? 
Isso está sendo conversado internamente. A ideia é ter as informações necessárias para o cliente poder operar, mas ainda não há prazo. A Binance está dando o primeiro passo no Brasil e está se estruturando para poder operar. Então, isso é natural que vá acontecer. As coisas estão caminhando e tudo que precisa ser feito está sendo feito, respeitando a regulação. A Binance não está operando de forma ilegal.

Nas últimas semanas, as queixas contra a Binance no Reclame Aqui dispararam. O que aconteceu? 
No último mês, até um pouco mais, houve um interesse muito grande de clientes novos e recentes para o serviço da Binance. Então teve também uma sobrecarga do suporte, o que causou alguns atrasos nas respostas. Isso gera reclamações públicas. A empresa não estava preparada para a demanda e teve uma sobrecarga. Vamos resolver isso, colocar recursos, melhorar sistemas, mudar processos para que o suporte volte a ser 100% para os usuários.  

Sobre a parceria da Binance com a Capitual, ainda tem coisas que não estão muito claras. A Capitual recebe e faz os pagamentos, mas não vende criptomoedas. Porém, a Binance não opera fiat no Brasil. Como que os reais vão para a Binance se ela não tem conta bancária no Brasil? 
Vou me reservar ao direito de não responder porque é uma questão mais até jurídica de como as coisas estão estruturadas e não quero correr o risco de dizer algo errado. Mas tudo está sendo feito de forma correta e funciona bem assim. 

Advogados vêm dizendo que há fraudes envolvendo criptomoedas que acabam indo para Binance, mas eles têm dificuldade de acionar alguém na empresa para fazer o alerta. Tua chegada soluciona isso? 
A gente tem canais de comunicação no suporte onde vai cair para as pessoas adequadas dentro da estrutura. Inclusive a empresa atende solicitações de qualquer órgão do governo para assuntos desse tipo. A última coisa que a Binance quer é ver um crime sendo cometido e os fundos indo para na Binance. Se parar lá, temos como agir. 

Na tua leitura, 2021 é o ano da chegada das empresas estrangeiras no Brasil? 
Começa a ter esse movimento sim. Já houve tentativas no passado de algumas estrangeiras, mas parece estar voltando. Nada mais natural para o Brasil, que é um mercado grande e interessante. E essas empresas têm produtos bons olham para o mercado e veem que têm oportunidades. 

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Mais a instabilidade política…
[Risos] Claro, tem prós e contra vir para o Brasil. Para uma empresa estrangeira, tem o lado cultural, regulatório. É tudo novo, diferente do que estão acostumados, então tem um período de adaptação. Mas é um mercado promissor. Quanto mais empresas profissionais e grande vierem, melhor para o mercado local. Vai ajudar a criar até uma regulamentação mais adequada. O Brasil tem essa oportunidade agora de os reguladores trabalharem muito perto das empresas e aproveitar a expertise da Binance, que já fez isso em vários países. Regulação sem conhecimento suficiente podem atrapalhar todo mundo. A ideia é ajudar os reguladores com a nossa experiência para criar as regras certas que vão criar a proteção necessária dentro do país e ao mesmo tempo vão fomentar o crescimento, a inovação e a atração de investimentos.

*Colaborou Wagner Riggs