Brasil
Shutterstock

O mercado de criptomoedas do Brasil diminuiu em um quarto de tamanho de 2021 para 2022, segundo os dados de declarações feitas para a Receita Federal. O conjunto de dados disponibilizados pelo governo permite observar uma outra tendência: a queda no interesse por Bitcoin e Ethereum, as duas principais criptomoedas do setor, e o aumento da busca pela dolarização por meio da stablecoin USDT da Tether.

O volume de transações comunicadas para a Receita Federal com USDT aumentou 57% entre 2021 e 2022. Em números absolutos, foram reportados R$ 63,8 bilhões em 2021, contra R$ 100,7 bilhões no ano seguinte.

Publicidade

A USDT é pareada ao dólar e, conforme dados do Coingecko, tem uma capitalização de mercado de cerca de US$ 69 bilhões.

Já o total das transações com Bitcoin sofreu queda de 68% no mesmo período: foram R$ 64,9 bilhões relatados a Receita Federal em 2021 contra R$ 20,2 bilhões em 2022. O BTC é cotado na terça-feira (14) a US$ 22.124, com alta de 2,5% nas últimas 24 horas. No Brasil, o Índice de Preço do Bitcoin (IPB) aponta o ativo em R$ 115.166. A capitalização de mercado do BTC é de US$ 426 bilhões.

O Ethereum teve desempenho muito semelhante: um volume de R$ 18,5 bilhões em 2021 que caiu para R$ 6,6 bilhões em 2022 — uma diminuição de 64%. O Ether (ETH) é cotado atualmente a US$ 1.550, com uma capitalização de mercado de US$ 186 bilhões.

Grande ponto de interrogação

O uso intenso de USDT no Brasil é apontado por Fabrício Tota, diretor de novos negócios do MB (Mercado Bitcoin), como o grande ponto de interrogação do mercado cripto brasileiro atual. Se inicialmente era uma busca mais individual por dolarização de poupanças, agora parece ser o caso de uso para envios de imensas remessas de dinheiro para o exterior.

Publicidade

“Já de uns bons anos para cá conseguimos enxergar nos volumes reportados para a Receita um volume muito grande, muito significativo mesmo, de USDT que não está nas exchanges locais. O que leva a crer que esse volume está nas principais mesas de OTC [sigla para over the counter, que se refere a negociação de ativos de forma direta entre as partes] e que atendem um outro tipo de demanda. Não de exposição, mas potencialmente de remessas internacionais”, afirma Tota. 

O executivo aponta que “existe muita especulação sobre o que seria esse volume de USDT” e que as possibilidades de uso são conhecidas. “Mas não vemos grandes companhias mostrando seus casos de uso de stablecoin para remessa internacional”, diz.

Tota ressalta que o altíssimo volume preocupa do ponto de vista de infraestrutura do mercado, já que não se sabe se essas operações e participantes têm um nível adequado de Know Your Customer (KYC, sigla em inglês para “conheça seu cliente”) e prevenção à lavagem de dinheiro.

“Onde está esse volume, quem faz esse volume, como faz esse volume?”, questiona o diretor do MB.

Mercado brasileiro encolheu um quarto

No ano de 2022, a Receita Federal recebeu declarações de um volume total de R$ 154,4 bilhões em transações com criptomoedas. Esse número mostra o impacto trazido pela crise – um período que se tornou conhecido como inverno cripto – para o setor no Brasil: em 2021, o valor havia sido de R$ 204 bilhões, o que significa uma queda de 24% entre os períodos.

Publicidade

Os volumes negociados a cada mês mostram como a queda no preço do bitcoin e das demais criptomoedas impactou o mercado: o melhor mês de 2022 foi junho, com R$ 13,9 bilhões reportados ao governo. Trata-se de um valor próximo ao do pior mês de 2021, setembro, com R$ 12,8 bilhões. O auge de 2021 foi atingido em maio, com R$ 25 bilhões.

Em novembro de 2021, o BTC atingiu o seu recorde de preço ao atingir a cotação de US$ 69 mil. Em 2022 foi caindo até chegar no piso de US$ 15.742 no dia 9 de novembro, quando a FTX implodiu. A queda do pico para o pior momento de 2022 foi de 78%, conforme dados do Coingecko.

Tipos de declaração sobre criptoativos para Receita

Os dados da Receita Federal começaram a ser catalogados no final de 2019. O ano de 2020 teve um total de R$ 91 bilhões declarados em transações com criptomoedas.

Existem três tipos de declarações de criptoativos feitas por contribuintes no Brasil. A principal é o conjunto de informações entregues pelas corretoras com sede no Brasil. Nesse caso todo os valores são informados, independente do tamanho.

Os outros dois tipos são informações entregues por pessoas jurídicas e físicas que utilizam de exchanges sem sede no Brasil e informações de compras e vendas feitas diretamente entre pessoas (p2p), sem intermediários. Já nessas situações, a informação deve ser prestada sempre que o valor mensal ultrapassar R$ 30 mil.

Publicidade
VOCÊ PODE GOSTAR
Moedas douradas à frente de bandeira do Brasil

Fundos de criptomoedas têm semana negativa, mas Brasil registra entrada de R$ 15 milhões

Brasil segue momento positivo para fundos de criptomoedas, enquanto produtos ao redor do mundo têm semana negativa com queda dos preços
Miniaturas de homens em cima de moeda de Bitcoin gigante fazendo medição pela metade

Halving do Bitcoin mostra que a criptomoeda ainda tem espaço para subir, afirma Bitfinex

O preço do Bitcoin caiu essa semana, mas a Bitfinex afirma que o comportamento de grandes investidores é similar a 2020 — antes da grande corrida de alta
Imagem da matéria: Machado Meyer Advogados entra para associação ABcripto

Machado Meyer Advogados entra para associação ABcripto

O escritório ingressa na associação para dar ainda mais relevância à assessoria jurídica na formatação de transações financeiras para o desenvolvimento do ecossistema cripto no país
Celular com o logo da OpenSea e imagens NFT

CEO do OpenSea fala sobre o futuro do mercado de NFTs mais popular do mercado

Devin Finzer falou sobre Bitcoin Ordinals, o lançamento de um token e o suporte para NFTs ERC721-C, um passo em direção ao OpenSea 2.0