Javier Biosco-Reprodução
Foto: Reprodução

Um trader espanhol chamado Javier Biosca, de 50 anos de idade, acusado de montar uma pirâmide financeira com criptomoedas que atingiu milhares de pessoas, morreu no último dia 22, na cidade espanhola de Estepona, Espanha. O golpe pode ter deixado um prejuízo próximo à casa de 1 bilhão de euros.

O caso está sendo investigado pelas autoridades como suicídio, pois Biosca teria se jogado da janela do quinto andar de um hotel local, segundo o site do jornal El País no último dia 27.

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O caso, contudo é misterioso. Outras reportagens revelam uma série de conflitos recentes que podem abrir  brecha para outras interpretações sobre a morte do trader – como assassinato ordenado por credores ou máfias para as quais ele devia dinheiro.

Biosca tinha histórico de prisão, ameaças e sumiço de dinheiro e bens de clientes, além de ostentar luxos na internet desde que passou a enganar pessoas com a empresa Algorithms Group, em 2019.

Biosca, que deixou mulher e filho, foi descrito pelo El País como “um guru da criptomoedas perseguido por máfias internacionais” que morreu “sem deixar vestígios de supostamente possuir um avião particular, mansões e carros de luxo”.

“Quando ele foi enterrado nesta sexta-feira [25/11] na cidade turística de Estepona, apenas um pequeno grupo de parentes compareceu ao funeral. Além da esposa e do filho, compareceram apenas a mãe e um punhado de amigos. Dado o estado do corpo, o caixão foi mantido fechado”, ressalta o jornal.

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Segundo a publicação, de março de 2019 até o outono espanhol de 2020, Biosca foi o maior golpista de criptomoedas do país, enganando inclusive a alta classe, como advogados, tabeliães e empresários. Mas ele também não hesitou na hora de pegar dinheiro de “perigosos mafiosos russos e romenos” que investiram, cada um, cerca de R$ 270 mil (50 mil euros) no negócio, mais tarde desmascarado como fraudulento.

A pirâmide financeira da Algorithms

Antes do golpe — e de se apresentar como trader de criptomoedas -, o espanhol nascido em Barcelona trabalhava como designer de web. Descobriu então o Bitcoin, passou a investir na moeda e criou um programa de computador que lhe permitia realizar milhares de operações de compra e venda de moedas simultaneamente — os infames robôs de investimentos.

As primeiras vítimas de Biosca foram seus próprios amigos. Segundo relata o jornal, 19 pessoas acreditaram logo de cara que os negócios da Algorithms lhes trariam retornos semanais de até 25% sobre investimentos em Bitcoin (BTC) — que na época era cotado em US$ 10 mil, Ethereum (ETH) e Litecoin (LTC). 

O negócio foi ampliado com a contratação de pessoas com experiência em marketing e relações públicas, atraindo, assim, os mais endinheirados. Nos primeiros meses, os funcionários de Biosca recebiam em dia e clientes viam suas carteiras crescerem.

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Biosca passou então a ganhar muito dinheiro e mudou-se com a família para uma mansão em Marbella, cujo aluguel era na casa dos US$ 15 mil mensais. Comprou também vários carros de luxo e passou a promover festas para seus ricos clientes.

Veio então a queda do preço das criptomoedas de até 50% neste ano. O negócio fraudulento começou a ruir, à medida que BTC, ETH e LTC despencaram. Para se segurar, Biosca baixou os ganhos para até 8%. Mesmo assim, os salários da equipe começaram a atrasar.

Prisão e morte

Em março de 2021, vários clientes apresentaram queixa na Justiça. Conforme relata o El País, o juiz Santiago Pedraz emitiu um mandado de busca e apreensão contra a Biosca por fraude, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e organização criminosa.

O Tribunal Nacional o acusou de fraude de 815 milhões de euros (cerca de US$ 848 milhões). Ele foi preso quatro meses depois, na cidade de Nerja, e ficou detido por oito meses, “enquanto as máfias mais perigosas a quem ele devia dinheiro já estavam em seu encalço”, relata a publicação.

Biosca deixou a prisão um mês antes de sua morte, depois que uma empresa chamada Secret Tours ter pago a fiança estipulada em 1 milhão de euros. A saída aumentou as tensões entre os familiares, que tinham que enfrentar um grande número de credores em meio a suspensões de passaportes determinados pela Justiça.

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Meses antes de ser libertado, Biosca havia dito a um juiz que, se fosse colocado em liberdade, poderia consertar a situação dos investidores em três ou quatro semanas, período que findou com sua morte. O mesmo juiz já havia negado em março — e pela terceira vez — pedido de liberdade feito pelo Ministério Público, segundo informações do site Confilegal

Porém, de acordo com dois amigos próximos a Biosca, o fiador era na verdade um grupo de pessoas enganadas. “Ao perceberem que ele não conseguiria o dinheiro, retiraram a fiança e o Tribunal Nacional ordenou o retorno de Biosca à prisão”.

“Ele tinha pavor da ideia de voltar para a cadeia ou de levar um tiro na rua”, explicou ao jornal uma pessoa próxima a Biosca.

Para a advogada Emilia Ceballos, o dinheiro do esquema ainda pode estar nas mãos da esposa e filho de Biosca, pois eram eles que cuidavam das senhas de acesso, além de um outro nome envolvido, Luis Monje, que Ceballos afirma que está sob investigação. Por sua vez, Monje alega que é simplesmente mais uma vítima que perdeu 1,5 milhão de euros.

Procurada para comentar o assunto, a polícia confirmou ao El País que Monje não estava em Estepona no dia da morte de Biosca. “Eles apontam, no entanto, que, horas antes do suicídio de Biosca, Monje se encontrou com criminosos locais”.

Portanto, o que aconteceu no dia 22 às 11h15 na varanda do hotel Ona Valle Romano da rua Flaminio, como relata o Voz Populi, ainda segue como um grande mistério.

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