A pandemia agravou a crise econômica no Líbano, a pior desde o final da Guerra Civil Libanesa (1975-1990), e tem gerados protestos violentos nas ruas contra a classe política e contra o sistema financeiro. Por meio da hashtag #LebanonProtests é possível ter uma ideia da intensidade das manifestações.
A noite de quinta-feira (11) e a madrugada de sexta (12) foram marcadas por protestos violentos tanto na capital do país, Beirute, como em outras cidades libanesas. Bancos privados e até uma agência do Banco Central libanês foram vandalizadas.
Em Trípoli, segunda maior cidade libanesa, embates entre forças de segurança e manifestantes deixaram 41 pessoas, de acordo com dados da Cruz Vermelha local divulgados pela rede de televisão Al Jazeera.
“Estou realmente chateado, só isso. Se os políticos pensam que podem queimar nossos corações assim, o fogo também os atingirá”, disse à emissora árabe o engenheiro de computação Ali Qassem, 26, que está desempregado.
Na manhã de sexta-feira era possível ver nas ruas os resultados dos protestos em Beirute e outras cidades. Ainda era possível ver focos de incêndio e vias públicas bloqueadas, além de pedras espalhadas por toda a parte.
Uma das reivindicações dos manifestantes é pela saída do atual governador do Banco Central, Riad Salamé, acusado de favorecer o endividamento do Estado em prol dos políticos e dos bancos.
Economia em derretimento
A moeda local, a libra libanesa sofre forte desvalorização e está cotada a 5.000 libras por dólar no mercado paralelo. A cotação oficial por 23 anos foi de 1.507 libras por dólar, mas experimentou uma disparada nos últimos meses, chegando à casa de 4.000 libras por dólar. No mercado paralelo, no entanto, há relatos de até 7.000 libras libanesas para cada dólar.
Em resposta, o Banco Central libanês anunciou a injeção de mais dólares na economia, para tentar frear a desvalorização da libra libanesa. As duas moedas são usadas amplamente no comércio local.
Para piorar a situação, os bancos têm imposto restrições a transferências e saques, o que gera ainda mais irritação junto à população — uma espécie de “Plano Collor” libanês, em alusão à fracassada medida econômica que castigou os brasileiros no início dos anos 1990.
Nesse contexto, empresas fecham as portas e o desemprego já atinge 35% da população, segundo a agência AFP — ou seja, um em cada três cidadãos libaneses não tem trabalho. Além disso, segundo o Banco Mundial, 45% dos libaneses vivem abaixo da linha de pobreza.
Tudo isso é agravado pelas medidas de restrição social adotadas em razão da pandemia de coronavírus, deixando a economia ainda mais combalida. O país busca ainda um empréstimo junto ao FMI (Fundo Monetário Internacional), mas a entidade rejeitou a proposta de acordo do governo, considerada branda demais com o setor público.
No início de março, o Líbano anunciou o primeiro calote de sua história. De acordo com a agência Reuters, trata-se de US$ 1,2 bilhão em eurobônus.
Também segundo a Reuters, o PIB (Produto Interno Bruto) do Líbano experimentou uma queda de 6,9% em 2019. Para este ano a previsão é ainda mais sombria, de 13,8%.
Governo pressionado
Nas ruas, o descrédito da população em relação à economia se soma à raiva contra o atual governo, do primeiro-ministro Hassan Diab.
O detalhe é que Diab sucedeu a Saad Hariri em janeiro, que foi obrigado a renunciar um mês antes devido à pressão das manifestações que sacudiam o país desde outubro passado.
A crise econômica se soma ao já conturbado cenário político libanês, cuja divisão de poder leva em conta os diferentes setores que compõem a sociedade local — cristãos, drusos e muçulmanos (sunitas e xiitas).
Uma das forças políticas do Líbano, o grupo radical xiita Hezbollah, se juntou aos manifestantes na reivindicação pela mudança na chefia do Banco Central libanês. O fato do grupo contar com armas é um componente a mais na já volátil situação local.
Com a situação de quase colapso econômico no Líbano, o guru do mercado financeiro Nassim Nicholas Taleb — que é libanês — sugeriu a compra de criptomoedas como alternativa.
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