Mineração ilegal de criptomoedas é “ferramenta poderosa” para o crime, diz ONU

Novo relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime aborda como criptoativos estão sendo usados pelo crime organizado transnacional
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Imagem: Greenpeace/Benjamin Von Wong

As Nações Unidas soaram o alarme sobre uma nova fase do crime organizado global, onde fazendas de mineração de criptomoedas operam em fábricas controladas por milícias, stablecoins lavam bilhões de dólares e o Telegram abriga mercados clandestinos.

Um novo relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) revela que grupos criminosos transnacionais do Leste e Sudeste Asiático estão expandindo rapidamente suas operações pelo mundo, utilizando a mineração ilegal de criptomoedas como uma “ferramenta poderosa” para lavar bilhões em receitas ilícitas.

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O relatório, intitulado “Inflection Point: Global Implications of Scam Centres, Underground Banking and Illicit Online Marketplaces in Southeast Asia”, documenta como esses grupos se infiltram em regiões com fiscalização fraca — de Zâmbia e Nigéria até Tonga e o Oriente Médio.

Esses grupos estão diversificando suas atividades além de golpes e tráfico, construindo ecossistemas online completos que incluem corretoras de criptomoedas não licenciadas, ferramentas de mensagens criptografadas e stablecoins, para sustentar uma economia de fraudes em escala industrial, segundo os autores do relatório.

“Estamos vendo uma expansão global dos grupos de crime organizado do Leste e Sudeste Asiático”, disse Benedikt Hofmann, representante regional interino do UNODC, em comunicado.

“Isso se espalha como um câncer”, acrescentou Hofmann. “As autoridades combatem em uma área, mas as raízes nunca desaparecem — apenas migram.”

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O relatório aponta a Huione Guarantee, recentemente rebatizada como Haowang, como um dos principais centros dessa economia subterrânea.

Com mais de 970 mil usuários e US$ 24 bilhões em transações com criptomoedas desde 2021, a plataforma com sede no Camboja teria se tornado um balcão único para ferramentas de lavagem de dinheiro, identidades falsas e serviços de golpes, muitos agora oferecidos no Telegram diante do aumento da repressão.

A plataforma também lançou sua própria stablecoin, blockchain, corretora de criptomoedas e produtos de apostas online, todos projetados para “contornar os controles governamentais”, segundo os autores do relatório.

“A convergência entre a aceleração e a profissionalização dessas operações, por um lado, e sua expansão geográfica para novas regiões, por outro, representa uma nova intensidade nesse setor — algo para o qual os governos precisam estar preparados”, afirmou Hofmann.

Alguns vendedores da Huione agora miram jurisdições como Nigéria, Namíbia e Angola, demonstrando o alcance global crescente da plataforma.

Mineração de criptomoedas fora da rede

A mineração de criptomoedas é especialmente valiosa para esses grupos porque evita amplamente a fiscalização contra lavagem de dinheiro, segundo o UNODC.

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Ao roubar eletricidade e operar fora da rede, essas quadrilhas conseguem gerar ativos digitais aparentemente limpos a um custo mínimo e com pouca rastreabilidade.

Em regiões como a Líbia, onde os custos de eletricidade estão entre os mais baixos do mundo, essas operações chegaram a causar apagões em cidades inteiras, segundo autoridades líbias citadas no relatório.

As descobertas recentes se somam aos alertas já apresentados em um relatório do UNODC publicado em 2024, que destacou a crescente convergência entre criptomoedas, crimes cibernéticos e inteligência artificial no Sudeste Asiático.

Esse relatório alertava que grupos de crime organizado estavam “explorando vulnerabilidades” por toda a região, com operações que superam rapidamente a capacidade de resposta dos governos.

Só em 2023, os norte-americanos perderam US$ 5,6 bilhões em golpes relacionados a criptomoedas, sendo US$ 4,4 bilhões atribuídos a esquemas do tipo “abate de porcos”, rastreados até o Sudeste Asiático.

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Enquanto isso, países do Leste e Sudeste Asiático registraram perdas estimadas em US$ 37 bilhões com fraudes cibernéticas, a maior parte envolvendo ferramentas de lavagem com criptomoedas, segundo o relatório mais recente.

Fazendas de mineração cripto causam caos regional

Em março, autoridades tailandesas descobriram 63 máquinas de mineração de criptomoedas operando ilegalmente em prédios abandonados na província de Pathum Thani. A operação, controlada remotamente, resultou em um roubo de energia superior a US$ 300 mil.

Na vizinha Malásia, a explosão de uma casa em fevereiro levou as autoridades a descobrirem uma instalação de mineração clandestina, apenas uma entre muitas encontradas no esforço contínuo de repressão do país.

Enquanto isso, o Irã enfrentou apagões recorrentes em Teerã e outras províncias no final de 2024, com suspeitas de que a mineração não autorizada de criptomoedas estaria contribuindo para a sobrecarga da rede elétrica.

Para lidar com o problema, a ONU pediu ação multilateral urgente, incluindo a necessidade de “monitorar e investigar ameaças” como as fraudes habilitadas por criptomoedas, fortalecer os marcos legais para “recuperação de ativos e investigação” e viabilizar a coordenação transfronteiriça por meio da “troca oportuna de informações”.

* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.

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