A indústria das criptomoedas aguardava com ansiedade a primeira semana de Donald Trump em seu novo mandato como presidente dos Estados Unidos. O resultado parece ser positivo na visão dos especialistas, mas não sem polêmicas: o Republicano assinou a ordem executiva para impulsionar o setor, mas lançou uma memecoin que fez grande parte do mercado revirar os olhos.
Dias antes de sua posse, o presidente lançou sua memecoin oficial, chamada TRUMP, que rapidamente foi até a estratosfera e agora já tem uma capitalização de mercado de mais de US$ 5 bilhões. Mas a jogada, altamente lucrativa para alguns, desapontou aqueles que esperava mais seriedade para o setor cripto.
As críticas é de que, uma pessoa na posição de poder em que se encontra Donald Trump, lançar um ativo sem utilidade que não a intensa especulação financeira, não só não ajudaria a combater os estigmas do setor; na verdade, piora em muito o conceito que a sociedade em geral tem do mercado cripto.
Mas a má notícia não chegou a causar sequer um arranhão no caso de amor entre o presidente dos Estados Unidos e a indústria. Logo no dia de sua posse, 20 de janeiro, o Bitcoin renovou sua máxima histórica ao bater US$ 108.786.
Três dias depois, Trump assinou a ordem executiva tão esperada pelo mercado cripto. O text prevê a criação de um conselho para criptomoedas na Casa Branca, estabelece conceitos como de que os cidadãos do país são livres para operar em redes blockchain sem nenhuma censura do governo, barra a criação de uma CBDC e fomenta a stablecoin para fortalecer o dólar.
Porém, mais que tudo isso, era aguardada a ordem que daria início a uma criação de uma reserva estratégica de criptomoedas por parte do governo. Neste campo, os sentimentos estão um pouco turvos.
A ordem usa o termo “stockpile” e não “reserve”. Na tradução ao português, a palavra “reserva” caberia em ambos os casos, mas, o uso da palavra “stockpile” foi interpretado por alguns como algo que pode significar apenas “segurar” as criptomoedas que o Estado já possui, e não sair comprando ativamente mais.
Menos do que se esperava, mas não é pouco
Rony Szuster, analista do Mercado Bitcoin (MB), concorda que houve uma decepção com a questão da reserva estratégica. “O mercado estava esperando que ele já anunciasse a criação da reserva, o que não ocorreu imediatamente, ele só anunciou a criação do comitê para estudo da possibilidade de se fazer a reserva”, afirma.
Porém, o especialista entende que no médio a longo prazo “muito provavelmente a reserva vai sair e isso pode impulsionar outros países a fazerem o mesmo”.
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Beto Fernandes, analista da Foxbit, também afirma que a ordem de Trump não foi o que o mercado esperava, mas que o prognóstico é otimista. “Um dos responsáveis pelo grupo de regulamentação criado na ordem executiva até sinalizou que a reserva de Bitcoin pode se tornar uma realidade. Mas ficou bem claro que este é um passo muito mais à frente e que precisará ser discutido de forma mais profunda”, explica.
A nomenclatura da reserva na ordem de Trump deixou decepcionada parte da indústria, mas Ana de Mattos, analista da Ripio, aponta que o que já está na mesa não é pouca coisa. “O uso do termo ‘stockpile’ em vez de ‘reserve’ sugere uma abordagem mais cautelosa. No entanto, a criação de um ‘estoque’ é mais estratégico do que parece. O governo dos EUA mantém bilhões de dólares em criptomoedas – saldo derivado de apreensões legais.”
Episódio da memecoin
Sobre a memecoin, os especialistas no geral apontam que a medida mais atrapalha do que ajuda. “Foi claramente uma tentativa de aproveitar o hype da subida dele ao poder e lucrar com isso”, afirma Rony Szuster. O analista do MB entende que o episódio não chega a tirar a legitimidade do setor, mas que Trump “passou um pouco da linha”.
Ana da Mattos lembra que os objetivos dessa moeda ainda não estão claros e que seus impactos concretos ainda não estão definidos. “É algo que, neste momento, parece estar mais alinhado a interesses pessoais ou políticos do que ao avanço tecnológico.”
“Do limão, uma limonada”, é como Beto Fernandes vê essa situação. Em princípio, ressalta que os problemas são evidentes: “Não vejo a memecoin do Trump em si como um problema, mas a forma como isso foi feito. Uma coisa é a memecoin ser desenvolvida pela brincadeira e, consequentemente, se valorizar. Outra é quando há essa sensação de que uma pessoa usou da sua influência para tentar ‘manipular’ o mercado.”
Mas Fernandes lembra que a memecoin TRUMP pode significar um amadurecimento maior no grande espectro das novas tecnologias. “Gosto de destacar das memecoins é a sua ‘sinalização’ da Web3. Hoje, a gente manda memes pelo WhatsApp e Instagram. Na Web3, esses memes podem ser as memecoins. Então, em vez de enviar um reels, eu envio uma criptomoeda – que quase sempre é extremamente barata – para dar risada com meu amigo daquela situação.”
O especialista lembra que a Web3 é muito maior do que memecoins, mas que “este é um primeiro passo do que podemos ter como relações futuras entre usuários”.
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