Investidores de criptomoedas reagem nesta quinta-feira (9) a mais um colapso na indústria e à perspectiva de menor liquidez para apostas em ativos de risco.
Em meio à pressão regulatória, o banco cripto Silvergate anunciou que vai encerrar as operações, enquanto o gigante JPMorgan decidiu cortar laços com a corretora cripto Gemini. Outro destaque é o processo envolvendo Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, cujos advogados pediram para adiar seu julgamento, marcado para outubro.
O alerta de juros mais altos do presidente do banco central dos EUA, Jerome Powell, também aumenta as incertezas.
O Bitcoin (BTC) recua 1,5% nas últimas 24 horas, para US$ 21.660,88, segundo dados do Coingecko. Em reais, a maior criptomoeda tem queda de 2,1%, negociada a R$ 112.372,01, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
O Ethereum (ETH) registra baixa de 1,3%, cotado a US$ 1.532,31.
As altcoins operam entre perdas e ganhos, entre elas BNB (+0,5%), XRP (+3,2%), Cardano (-2,5%), Polygon (-7%), Dogecoin (-2,1%), Solana (-4,6%), Polkadot (-1,7%), Shiba Inu (-0,1%) e Avalanche (-3,4%).
Bitcoin hoje
As incertezas no cenário macro e no espaço cripto pesam sobre o Bitcoin, que chegou a cair abaixo de US$ 21,6 mil na quarta-feira (8), para o menor nível em três semanas, mostram dados do CoinDesk.
Nesta quinta, as bolsas europeias começaram o dia em baixa, enquanto os índices futuros dos EUA operam com estabilidade. Na Ásia, o desempenho foi misto no primeiro dia da reunião de política monetária do Banco do Japão.
O presidente do Federal Reserve falou pelo segundo dia no Congresso, desta vez no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara. Apesar de ter repetido a mensagem de que talvez tenha que subir os juros além do esperado, disse que ainda não decidiu o que vai fazer na reunião dos dias 21 e 22 deste mês.
Especialistas ouvidos pelo Decrypt apontam que, no geral, o clima é de cautela entre investidores de criptomoedas.
A narrativa que se consolidou nos últimos dois anos é que, como um ativo de “risco”, o Bitcoin segue as bolsas dos EUA, que entraram em um ciclo de baixa desde que o Fed iniciou sua agressiva campanha de aperto monetário para combater a inflação.
Mas a pressão de reguladores nos EUA e o recente colapso do Silvergate também abalam a confiança dos investidores.
O trader Ryan Scott disse ao Decrypt que “as criptomoedas mostram um desempenho estranhamente inferior às ações, e isso provavelmente se deve ao FUD [sigla em inglês de medo, incerteza e dúvida]” em torno de questões regulatórias sobre a Binance e a relação do setor bancário com empresas de criptoativos.
Exemplo disso foi a decisão do JPMorgan Chase de parar de oferecer serviços bancários à exchange cripto Gemini, dos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, segundo o CoinDesk, que cita uma pessoa com conhecimento do assunto.
No início de 2020, o JPMorgan aceitou como clientes tanto a Gemini e quanto a exchange Coinbase, que tem capital aberto, de acordo com o Wall Street Journal.
O relacionamento bancário da Coinbase com o JPMorgan permanece intacto, confirmou um porta-voz da exchange com sede em São Francisco.
Silvergate fecha as portas
Em meio à crescente desconfiança de clientes, reguladores e parceiros comerciais, o Silvergate Bank anunciou que irá “liquidar voluntariamente” seus ativos e encerrar as operações, segundo comunicado divulgado na quarta-feira (8) por sua holding Silvergate Capital Corp.
O Silvergate contratou a Centerview Partners como consultora financeira, o escritório de advocacia Cravath, Swaine and Moore e a Strategic Risk Associates para “assistência na gestão de transição”.
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O banco de La Jolla, Califórnia, especializado em clientes da indústria cripto, disse que todos os depósitos serão reembolsados integralmente.
“À luz dos recentes eventos regulatórios e da indústria, o Silvergate acredita que a descontinuidade ordenada das operações do banco e uma liquidação voluntária do banco é o melhor caminho a seguir”, afirmou a empresa em comunicado.
O colapso do Silvergate veio na esteira do escrutínio de reguladores e uma investigação criminal da unidade de fraude do Departamento de Justiça dos EUA sobre negociações com a exchange cripto FTX e seu braço de trading, a Alameda Research.
Os depósitos da instituição caíram de US$ 11,9 bilhões em 30 de setembro do ano passado para US$ 3,8 bilhões, de acordo com comunicado em 5 de janeiro.
Mais recentemente, o banco fechou sua plataforma Silvergate Exchange Network (SEN) usada por instituições para fazer transferências a exchanges cripto.
“Hoje estamos vendo o que pode acontecer quando um banco depende demais de um setor volátil e arriscado como o de criptomoedas”, disse o senador Sherrod Brown, presidente do Comitê de Bancos, Habitação e Assuntos Urbanos do Senado, em comunicado. “Quando os bancos se envolvem com criptomoedas, isso espalha o risco pelo sistema financeiro e serão os contribuintes e consumidores que pagarão o preço.”
No começo do mês, o Silvergate alertou que estava avaliando se seria possível continuar no mercado e adiou a divulgação de seu balanço anual. A última falência de um banco nos EUA foi em 2020, segundo o site da agência FDIC, que listou quatro instituições falidas durante o primeiro ano da pandemia. Como o Silvergate foi liquidado voluntariamente, o regulador não o registra em sua contagem oficial, de acordo com a Bloomberg.
Exposição ao Silvergate
Após a notícia, empresas do setor se apressaram em se distanciar do criptobanco falido.
O CEO da Binance, Changpeng “CZ” Zhao, tuitou que a exchange não possui ativos perdidos no Silvergate, enquanto a Coinbase disse que “não possui clientes ou dinheiro corporativo no Silvergate”. O presidente da OKX, Hong Fang, afirmou que os “fundos corporativos e de clientes” da corretora estão seguros.
A empresa de infraestrutura cripto Paxos disse em comunicado que a empresa “praticamente não tem exposição ao Silvergate”.
A mineradora de Bitcoin Marathon Digital encerrou sua linha de crédito com o banco, reduzindo sua dívida em US$ 50 milhões.
No anúncio da quarta-feira, o Silvergate disse que está “considerando a melhor forma de resolver as demandas e preservar o valor residual de seus ativos, incluindo sua tecnologia proprietária e ativos fiscais”.
As ações do Silvergate deram um mergulho de 40% após o banco contar a novidade ao mercado e eram negociadas a US$ 2,30 no after-market em Nova York. O preço da ação superou US$ 220 em novembro de 2021, mostram dados da Bloomberg.
O investidor Marc Cohodes, que já vinha apostando na queda das ações do Silvergate desde o ano passado, mais uma vez acertou ao publicar na última sexta-feira (3) uma foto dos escritórios do banco vazios e prever a quebra da instituição financeira nesta semana.
Outros destaques das criptomoedas
A startup Estar, que faz parte do sandbox regulatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), deve lançar na segunda quinzena de março sua primeira listagem de tokens de participação societária em empresas via crowdfunding, conforme o Valor. Segundo o CEO da Estar, Pedro Rodrigues, o projeto tem por objetivo solucionar um problema comum das empresas que são financiadas por crowdfunding,
A Coinbase apresentou um novo serviço que, segundo a exchange, vai tornar a tecnologia web3 mais acessível para empresas e consumidores, simplificando as carteiras digitais. Chamado de “Wallet as a Service”, o serviço é um conjunto de ferramentas de desenvolvedores que permite às empresas incorporarem carteiras digitais personalizadas diretamente em seus aplicativos.
O objetivo é tornar a configuração de uma carteira tão fácil quanto criar um nome de usuário e senha, disse a Coinbase, evitando a natureza técnica da maioria das carteiras digitais independentes atualmente.
A Matchday, uma startup de jogos na web3 focada em futebol, captou US$ 21 milhões em financiamento inicial para desenvolver um conjunto de jogos – com a empresa de capital de risco da estrela Lionel Messi a bordo, informou o Decrypt. A empresa Play Time de Messi participou da rodada da startup, que contou com outros investidores como Courtside Ventures, Greylock, HackVC, Capricorn Investment Group e Horizons Ventures.
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