São poucos os jogos blockchain que sobrevivem por muito tempo no crescente mercado que vende o modelo play-to-earn como uma forma fácil de ganhar dinheiro.
A vida útil desses projetos é curta: geralmente surgem com um jogo simples criado na Binance Smart Chain, uma criptomoeda nativa, e a promessa de ter economia sólida o suficiente para segurar o preço do token — ou seja, a recompensa dos jogadores — lá em cima.
Embora alguns possam ter sucesso nas suas primeiras semanas, a falta de novos jogadores dispostos a manter o mercado do jogo girando faz o preço do token desabar uma hora ou outra, matando a rentabilidade do projeto.
Em muitos casos, esses jogos não passam de esquemas de pump e dump em que seus criadores, na maioria das vezes anônimos, prometem coisas que o jogo não consegue entregar só para fazer o preço do ativo subir por um curto espaço de tempo.
Veja abaixo uma lista dos “promissores” jogos que viram seus tokens evaporarem, deixando milhares de jogadores no prejuízo.
CryptoMines
O CryptoMines era um jogo criado na Binance Smart Chain que permitia que jogadores usassem a criptomoeda ETERNAL para criar NFTs de naves espaciais e enviá-las em missões que lhe geram recompensas, também distribuídas na forma do token ETERNAL.
A criptomoeda chegou a bater um topo histórico de US$ 801 no dia 25 de novembro. Sem forças para manter o bom desempenho, a cotação começou a desabar e um mês após o recorde, o ETERNAL valia só US$ 1,90 — uma queda de 99,7%.
Quando as quedas se intensificaram no começo de dezembro, a equipe do jogo fez uma publicação para explicar o que havia acontecido:
“Um efeito de bola de neve fez com que as pessoas pudessem fazer dumps de ETERNAL quando ele subisse até certo ponto, e assim começou o efeito de queda amplificado por esses traders e pelo medo coletivo”, diz um trecho da nota que classifica a queda como “devastadora”, tão grande quanto o crescimento do jogo.
Os desenvolvedores também assumiram a culpa ao afirmar que a economia que criaram era falha por permitir que uma superpopulação de NFTs se formasse, chegando ao ponto em que os investidores não precisariam mais continuar investindo no jogo.
Como consequência, a falta de novos jogadores comprando NFTs fez com que o pool que pagava as recompensas fosse esvaziado e todo o esquema desmoronasse à la pirâmide financeira.
A equipe do CryptoMines propôs à comunidade criar o Cryptomines Reborn, uma versão “renascida” do jogo que colocaria no mercado um novo token.
Se de fato sair do papel, a chance é que o jogo tenha pouca adesão da comunidade que suspeita que foram os próprios desenvolvedores do CryptoMines que fizeram o dump que causou a desvalorização do ETERNAL, uma vez que eles eram os maiores detentores do token.
CryptoCars, CryptoPlanes e CryptoGuards
Os desenvolvedores do CryptoCity não perderam tempo e lançaram logo três jogos do mesmo universo: CryptoCars, CryptoPlanes e CryptoGuards.
Os jogos são praticamente a mesma coisa e mudam apenas de temática. O CryptoCars, por exemplo, é um jogo de corrida de carros. Já o CryptoPlanes é a mesma coisa, só que com aviões.
Nesses jogos, o usuário compra carros em forma de NFT para participar de corridas e ganhar os tokens nativos como recompensa.
As partidas são automáticas, ou seja, o jogador não precisa ter qualquer habilidade ‘especial’ para se destacar, mas sim carros com classificações melhores, já que quanto melhor — e mais caro — o carro, maior a chance de vitória.
As recompensas geradas pelos jogos atualmente são ínfimas dado o desempenho das moedas nativas nas últimas semanas. CCAR, do CryptoCars, está valendo apenas R$ 0,06, uma cotação 99% inferior ao seu topo histórico de R$ 10,16 alcançado em novembro, segundo o CoinGecko.
O cenário é igualmente ruim para o CPAN do CryptoPlanes e o CGAR do CryptoGuards, cotados a R$ 0,09 e R$ 0,11, respectivamente. Ambos também valem 99% menos do que seus recordes de preços.
Os jogos do universo do CryptoCity se tornaram muito populares e altamente divulgados por influenciadores digitais.
O youtuber brasileiro Peter Jordan, do canal Ei Nerd, foi um dos que venderam a falsa promessa do jogo. Com mais de 670 mil visualizações, o título do seu vídeo não era nada modesto e dizia “jogo de carrinho pagando 28.362 reais por mês, melhor que Axie Infintiy”.
Usuários do grupo do Facebook Jogos NFT Brasil notaram que o youtuber apagou o vídeo na mesma semana em que os preços desabaram e os sites dos jogos do CryptoCity ficaram fora do ar, aumentando o temor da comunidade sobre um possível rug pull.
BNB Heroes
Em janeiro, o BNB Heroes entrou para a lista de jogos fraudulentos que foram lançados com o único objetivo de enriquecer os próprios criadores, sem entregar nada do prometido para a comunidade.
A empresa de segurança PeckShield reportou que uma grande quantidade de BNBH foi despejada no mercado pelo próprio endereço-mãe da criptomoeda.
O dump teve um efeito imediato no token, que viu sua cotação desabar em poucos minutos para R$ 0,02. Dois meses antes, a moeda chegava a valer R$26.
O BNB Heroes era um jogo de cartas colecionáveis em forma de NFT que chamou atenção no seu lançamento em novembro ao se promover como o primeiro jogo play-to-earn a recompensar os jogadores diretamente com Binance Coin (BNB), a criptomoeda nativa da Binance.
Zodiacs
ZDC, a criptomoeda usada para recompensar os usuários do jogo play-to-earn Zodiacs, foi outra que perdeu praticamente todo o seu valor nas últimas semanas.
O Zodiacs se descreve no seu white paper como um “jogo para apaixonados por corridas” que permite o jogador comprar NFTs de carros inspirados nos 12 signos do zodíaco para participar de corridas, de forma semelhante ao CryptoCars.
Em pouco tempo, o ZDC entrou em queda livre causada pelo desequilíbrio da economia do jogo que sucumbiu com a falta de novos jogadores.
A moeda bateu um preço recorde de R$ 1,04 em dezembro, mas atualmente vale 97% menos, negociada a R$ 0,02.
Em meio a queda brusca, a equipe por trás do Zodiacs resolveu lançar uma segunda versão do game, com um novo token e contrato inteligente criado do zero.
O novo token (ZDCv2) até chegou a bater um recorde de R$ 0,06 após seu lançamento, mas não conseguiu escapar do mesmo destino do seu antecessor e atualmente vale R$ 0,01.
Plant vs Undead
O Plant vs Undead surgiu com a ambição de ser um Plants vs Zombies só que com tokens não fungíveis (NFT). A ideia é que os jogadores pudessem cultivar plantas e utilizá-las para batalhar contra criaturas “mortas-vivas” nos modos PvE e PvP.
Os indícios que o jogo poderia estar morrendo foram notados lá em setembro de 2021 pelo Portal do Bitcoin, quando a criptomoeda nativa PVU batia sua pior cotação na época, de US$ 2,66. Desde então, a situação não parou de piorar.
Cinco meses depois, o preço do token não passa de US$ 0,07 e o restante da comunidade que ainda acreditava na recuperação do jogo, perde as esperanças de ver o ativo voltar a se aproximar do seu preço recorde.
Dados do CoinGecko desta terça-feira (15) mostram que a cotação do PVU é 99,7% inferior à sua máxima histórica de US$ 25, alcançada em agosto do ano passado.
De lá para cá, a criptomoeda entrou em queda livre mesmo com os desenvolvedores do projeto trazendo novidades ao jogo. No início do ano, o Plant vs Undead lançou o Farm 3.0, atualização vendida como a grande salvação que iria tirar o jogo do fracasso.
A nova versão criou mais uma forma dos jogadores ganharem PVU ao implementar a modalidade de fazenda. Mais uma vez, a promessa não foi cumprida e a nova atualização não gerou qualquer efeito positivo no preço do PVU. Pelo contrário, o token desvalorizou 36% nos últimos 30 dias.
No panorama geral, a economia do Plant vs Undead parece ter sido prejudicada por uma superpopulação de NFTs. No atual estado que o jogo se encontra, parece que nem mesmo os próprios criadores estão confiantes que o Plant vs Undead voltará a ter o sucesso do passado, uma vez que já trabalham em um novo jogo chamado Draft Survival.