Enquanto o casal de criadores da Braiscompany segue como fugitivos da Polícia Federal acusados de montar um esquema bilionário de pirâmide financeira com criptomoedas, a dupla acumula inúmeros processos na Justiça brasileira, alguns abertos por seus próprios familiares.
É o caso de Flávia Farias Campos, que entrou com um processo trabalhista para cobrar R$ 232,7 mil da própria irmã, Fabrícia Campos, e de seu cunhado, Antônio Neto Ais. No processo, divulgado pelo site local Paraíba Já, Flávia se diz lesada pelo fechamento da Braiscompany, empresa que ficou às moscas e deixou os funcionários em situação de incerteza após os donos fugirem do país.
Flávia trabalhava ao lado da irmã, como chefe do setor financeiro (CFO) da Braiscompany. Apesar do cargo de liderança, agora ela diz ser tão vítima do esquema quanto os outros milhares de investidores que confiaram nas promessas de altos retornos gerados no suposto trade de criptomoedas.
Em audiência do processo que aconteceu na segunda-feira (15) na 3ª Vara do Trabalho de Campina Grande, Flávia deu a entender que seus direitos trabalhistas foram desrespeitados pela Braiscompany, pedindo um ressarcimento total de R$ 232.731.
Na ocasião, Flávia explicou qual era sua participação nas operações da Braiscompany. Segundo ela, seu papel era cuidar das contas da empresa, sendo responsável por pagar as despesas que iam de produtos de limpeza a material de escritório até a fiscalização dos repasses dos rendimentos mensais para os clientes que mantinham contrato com o grupo.
“Em relação aos clientes, os pagamentos eram feitos sempre em criptomoedas através da Binance, cabendo à Reclamante [Flávia] fazer a conferência dos créditos dos clientes e encaminhar o relatório para a equipe de tecnologia efetuar o pagamento”, diz um trecho da ata da audiência vista pela reportagem.
Flávia argumenta que não controlava as contas ligadas a Braiscompany na Binance, algo que apenas Fabrícia (dona da empresa junto com Antônio Ais), Douglas e Eliabe (integrantes do setor de tecnologia) tinham acesso direto. Ela admitiu acessar, no entanto, a conta que a empresa mantinha junto ao banco Bradesco.
Durante a audiência, Flávia se isentou da responsabilidade do que aconteceu com a empresa e afirmou que nunca fez captação de clientes. Pelo contrário, diz que tinha aberto mais de 20 contratos de investimento na Braiscompany, mas não revelou o suposto valor aportado.
Desde que a Braiscompany se revelou uma pirâmide financeira e parou de pagar os clientes, Flávia colocou o Instagram no modo privado. Alguns vídeos onde ela aparece exaltando a empresa e o trabalho da irmã ainda estão públicos no Facebook oficial da Braiscompany.
“Atualmente estou à frente da gerencia financeira da empresa. Ser líder para mim é sempre cuidar como se você fosse o dono. Quando você tem a visão do dono, cuida como se fosse seu, você se torna um bom líder. Fabrícia é um grande exemplo de líder, porque consegue permear por vários setores sendo uma boa líder em todos”, disse Flávia em um vídeo publicado em março de 2022.
Processo contra Braiscompany
O processo trabalhista foi aberto por Flávia Campos no 15 de março. Uma audiência inicial aconteceu de maneira virtual logo depois no dia 10 de abril. Na audiência, Flávia esteve presente com sua defesa, mas nenhum representante da Braiscompany compareceu, de tal forma que não houve conciliação dada a ausência da parte ré.
Na ocasião, o juiz do trabalho responsável pelo caso, Adriano Mesquita Dantas, autorizou a liberação dos valores depositados na conta vinculada da Flávia Campos, informando que “a presente ata tem força de ALVARÁ perante a Caixa Econômica Federal para fins de liberação do FGTS em favor do Reclamante FLAVIA FARIAS CAMPOS, suprindo a inexistência do TRCT, dos recolhimentos rescisórios do FGTS e do carimbo de baixa da CTPS, relativo ao vínculo com a BRAISCOMPANY SOLUCOES DIGITAIS E TREINAMENTOS LTDA.”
Posteriormente, no dia 26 de abril, o juiz Dantas atualizou o processo com o contexto de que a Braiscomapny encerrou suas atividades por força de operação da Polícia Federal e indicou que a sede da empresa estava desocupada e que seus representantes legais estavam foragidos.
Por esse motivo e, para evitar futura alegação de nulidade processual, o juiz transformou o julgamento do caso em diligência e determinou a reabertura da instrução processual, marcando uma nova audiência para o dia 15 de maio, realizada no início desta semana. Novamente, a Braiscompany como ré não compareceu e os autos foram concluídos para julgamento.
Procurada pela reportagem, Flávia não respondeu até a publicação desta reportagem.
Braiscompany acumula processos na Justiça
A irmã de Fabrícia Campos não é a única ex-funcionária que recorreu à Justiça para tentar recuperar o dinheiro perdido na Braiscompany.
No final de março, a Justiça do Trabalho determinou o bloqueio imediato de valores existentes em nome da Braiscompany, para garantir que um trabalhador da empresa recebesse os valores depositados a título de FGTS, pagamento de verbas rescisórias e que assim fosse capaz de começar o processamento do seguro desemprego.
Na prática, o empregado não foi demitido. Mas devido ao sumiço dos donos da empresa – que estão foragidos da Polícia Federal —, pedido de prisão contra eles e a interrupção do pagamento de salários, o magistrado fixou a rescisão indireta do contrato de trabalho do funcionário.
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