Imagem da matéria: Iene em alta no Japão ameaça Bitcoin com possível mudança do Banco Central
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A disparada do iene e os maiores rendimentos dos títulos japoneses em 30 anos estão lançando alertas nos mercados globais — e o Bitcoin pode não sair ileso.

Nesta semana, o rendimento dos títulos de 30 anos do Japão saltou para 2,345%, o maior nível desde 1994, enquanto o iene se valorizou para cerca de 153 em relação ao dólar norte-americano.

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Analistas do Goldman Sachs liderados pelo ex-economista-chefe do Banco do Japão (BOJ), Akira Otani, acreditam que a instituição pode estar se aproximando de uma mudança de política, impulsionada pela valorização do iene.

Se o iene continuar se fortalecendo em direção a 130 por dólar, o banco central poderia pausar os aumentos de juros e reduzir sua previsão de inflação para 2026. Por outro lado, um iene mais fraco, além de 160, poderia forçar uma política mais rígida, segundo o relatório divulgado pelos analistas na segunda-feira.

De qualquer forma, os mercados globais acompanham de perto — e as criptomoedas podem ser um dos primeiros ativos a sentir os impactos.

“Grande mudança” para ativos de risco

O Bitcoin, que se beneficia de ambientes com excesso de liquidez, enfrenta o risco de uma rotação de capital à medida que os rendimentos japoneses aumentam.

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Retornos mais altos em renda fixa e políticas monetárias mais restritivas tendem a atrair dinheiro institucional para longe de ativos especulativos — especialmente aqueles como o Bitcoin, que dependem fortemente das condições de liquidez.

“As tendências macroeconômicas no Japão, sinalizadas pela atual disparada nos rendimentos dos títulos de 30 anos, indicam uma grande mudança chegando para os ativos de risco”, afirmou Agne Linge, chefe de crescimento do banco descentralizado WeFi, ao Decrypt.

Além da rotação institucional, Linge alertou para uma consequência mais estrutural: “O carry trade com iene prospera quando os investidores tomam emprestado em iene a uma taxa mais baixa… Com o rendimento dos títulos disparando, a necessidade de recorrer ao iene para investir em outros ativos é limitada.”

Outros analistas apontam que a recente estabilidade do Bitcoin, sendo negociado próximo de US$ 85.600, pode não se sustentar caso o Japão endureça ainda mais sua política monetária.

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Aravanan Pandian, CEO e fundador da corretora de criptoativos KoinBX, disse que a política historicamente frouxa do BOJ tem sido um dos pilares do apetite global por risco — e isso pode estar mudando.

“Se o BOJ encerrar ou apertar drasticamente seu controle da curva de juros (YCC), pode haver uma repatriação significativa de capital, especialmente dos criptoativos”, afirmou. “Historicamente, um sentimento de aversão ao risco é indicado por um iene mais forte, o que tende a reduzir a exposição a ativos especulativos nos portfólios.”

O controle da curva de juros (YCC) é uma ferramenta de política monetária em que o banco central busca controlar taxas de juros de longo prazo por meio da compra ou venda de títulos públicos.

Pandian também afirmou que uma mudança de política no Japão pode ter repercussões muito além do setor de criptoativos, podendo “desencadear uma reavaliação mais ampla sobre a autonomia dos bancos centrais e a sustentabilidade da dívida global”.

Ainda assim, nem todos veem um cenário negativo para os ativos digitais. O Federal Reserve dos EUA enfrenta crescente pressão para cortar juros, em meio à desaceleração dos indicadores de inflação como o CPI e o PPI, o que pode suavizar o tom mais agressivo do Japão.

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Durante uma entrevista ao Decrypt, Marcin Kazmierczak, cofundador e COO da oracle modular RedStone, apontou um precedente histórico de 2016 — quando o Banco do Japão fez sua última mudança para uma política mais rígida — como um momento comparável: “O Bitcoin inicialmente caiu 15%, mas se recuperou fortemente dentro de seis meses”, disse ele.

Queda temporária?

Embora analistas do Goldman Sachs tenham alertado que um iene mais forte pode levar à fuga de capital dos ativos digitais, Kazmierczak argumentou que o mercado cripto está hoje muito mais robusto do que em ciclos anteriores.

Leia também: Bitcoin se mostra menos volátil que S&P 500

“O limite de 21 milhões de moedas do Bitcoin continua posicionando o ativo de maneira única diante dessas mudanças nas políticas monetárias”, acrescentou, sugerindo que a queda atual pode ser “temporária em vez de estrutural”.

Enquanto a trajetória da política japonesa está em destaque, sinais da economia dos EUA também impactam o sentimento dos investidores. O Bitcoin apresentou alta na segunda-feira, à medida que os investidores assimilavam expectativas de inflação em alta e riscos de recessão.

Uma pesquisa do Fed mostrou que os consumidores esperam uma inflação de 3,6% no próximo ano, com 44% prevendo aumento no desemprego — o maior nível de preocupação desde abril de 2020.

Atualmente, o Bitcoin está sendo negociado por cerca de US$ 85.210, com alta de 0,6% nas últimas 24 horas e valorização de 8,2% na semana, segundo dados do CoinGecko.

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Na MYRIAD, o mercado de previsões descentralizado lançado pela empresa-mãe da Decrypt, DASTAN, os participantes estavam cautelosamente otimistas nesta terça-feira, com 55% prevendo que o Bitcoin se manterá acima dos US$ 85 mil até quarta-feira.

* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.

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