Após três meses em uma persistente baixa, o mercado de bitcoins (BTC) subiu bastante, conforme investidores estão mantendo a marca dos US$ 40 mil.
No entanto, com diversos ventos macro e de mercado contrários acontecendo, a questão é se este é o fundo ou apenas um fundo local em uma baixa de prazo mais longo.
Na newsletter desta semana, a Glassnode avalia o apoio implícito que definiu as recentes baixas de preço, bem como os diversos mecanismos que estão direcionando o mercado para cima.
Preços oscilam entre inúmeros níveis fundamentais que, historicamente, sinalizaram subvaloração ou um preço “de valor justo”.
Também discute se o “short squeeze” (quando o preço aumenta muito rápido) discutido na semana passada aconteceu e os padrões de gastos de holders a curto prazo em resposta à alta de mercado.
A Glassnode também fornece alguns comentários sobre o recente gasto de 96,4 mil BTC associados ao hack em 2016 à Bitfinex e como isso foi detectado em diversas métricas em blockchain.
Suporte fundamental
Ao longo de 2021 e 2022, a variação de preço entre US$ 30 mil e US$ 40 mil comprovou ser um nível de suporte para os “touros” de bitcoin.
Em 2021, essa faixa foi defendida após uma queda de mais de 50% entre maio e julho, fornecendo suporte na correção de setembro e, novamente, foi uma fonte de suporte de oferta em janeiro e fevereiro deste ano.
A métrica de distribuição de preço realizado de transações não gastas (ou URPD, na sigla em inglês) mostra a distribuição de preços realizados para o atual conjunto de transações não gastas (ou UTXO) de bitcoin.
Aqui, é possível perceber que 2,351 milhões em BTC (12,41% do fornecimento) foram transacionados entre US$ 36,2 mil e US$ 41,2 mil.
Mesmo que essas moedas sejam distribuídas a valores realizados mais baixos, o mercado continua com um “fornecimento pesado”, pois mais de 25% do fornecimento em circulação foi transacionado pela última vez a preços mais altos.
Conforme o mercado estimula uma alta, um mecanismo que o direciona pode ser o “squeezing” de atrasadas entradas de posições de venda, conforme discutido na edição da semana passada.
Inspecionar os gráficos de dominação de liquidações de posições de compra mostra que posições de venda estiveram na defensiva essa semana, com uma pequena inclinação a liquidações de venda.
No entanto, a magnitude dessa métrica continua um pouco fraca, indicando que é improvável que a alta de preço esteja sendo movida por um “short squeeze”.
Isso é bastante confirmado pela variação de um dia nas posições abertas de futuros, onde não há o característico evento de desalavancagem, no qual um enorme volume de contratos abertos são forçados a serem encerrados.
Porém, posições abertas de futuros continuam elevadas a aproximadamente 1,91% da capitalização de mercado do bitcoin (cerca de US$ 15 bilhões).
Isso pode indicar que a probabilidade de um “short squeeze” é menor do que anteriormente estimado ou que tal evento continua possível de acontecer caso o mercado continue subindo, atingindo agrupamentos de níveis de vendas “stop-loss”/liquidação.
Analisando os mercados à vista (ou “spot”)/em blockchain, é possível ver que a rede Bitcoin teve um impulso de novas entidades líquidas na última semana, atingindo um crescimento líquido de 18,5 mil entidades por dia.
Ao longo de 2021, grandes impulsos de entidades líquidas aconteceram próximos de períodos de volatilidade, como as correções de mercado de alta no primeiro e segundo trimestres e durante a liquidação de +50% em maio.
Junho a dezembro de 2021 foi um período de tranquila acumulação com uma linha de base estável de 12,5 mil entidades líquidas entrando para a rede diariamente.
Assim, as recentes altas em janeiro e fevereiro podem sugerir uma tentativa de transição fora da acumulação dominada por HODLers ou, pelo menos, um interesse renovado no bitcoin após ser negociado a preços de entrada mais atrativos.
Impulso a curto prazo começa a subir
Pela primeira vez desde o fim de novembro de 2021, holders a curto prazo (ou STHs) tiveram um dia rentável, conforme o lucro (ou SOPR) desses holders ultrapassa 1,0.
Trata-se de um indicador de que moedas que foram gastas e mais novas do que 155 dias realizaram lucros de forma agregada essa semana.
Isso acontece depois de mais de dois meses de perdas realizadas todos dias conforme holders a curto prazo, que haviam comprado na alta, se livraram de suas moedas a preços mais baixos.
Um padrão similar de lucro por holders a curto prazo pode ser visto em dois exemplos desde março de 2020. Após um longo período de perdas, o mercado conseguiu irromper em uma tendência de alta, conforme houve um novo teste de 1,0 no lucro desses holders para confirmá-la.
Caso esse lucro suba novamente, indica que uma rentabilidade renovada e influxos de demanda estão absorvendo moedas. Por outro lado, uma queda abaixo de 1,0 seria um indicador de baixa e sugere que há demanda insuficiente para suportar a pressão de venda de holders a curto prazo.
Também podemos ver uma divergência de alta bem drástica acontecendo no oscilador de Gradiente Realizado de Mercado (ou MRG) de 14 dias.
Essa métrica modela o grau de ímpeto na precificação de mercado relativa a influxos naturais de capital, capturados na capitalização realizada. A interpretação geral é a seguinte:
– auges altos/baixos e sucessivos indicam um crescente ímpeto de alta/baixa, respectivamente;
– irrupções acima/abaixo de 0 indicam que uma nova tendência de alta/baixa está acontecendo, com uma duração antecipada de oscilação de aproximadamente 14 dias.
Enquanto a alta de mercado entre março e abril de 2021 demonstrou uma divergência de baixa (uma queda no ímpeto de mercado com altas maiores no preço), o atual período reflete uma divergência de alta.
Com cada novo conjunto de preços baixos, existe um ímpeto sendo reduzido e o MRG de 14 dias agora irrompeu de forma convincente acima de 0.
O MRG de 28 dias demonstra uma estrutura similar de mercado, fornecendo confluência e magnitude ao argumento de que, pelo menos, uma baixa de mercado está sendo definida.
Essa ascensão segue uma tendência de baixa de três meses bem persistente, que fez o perfil de retorno mensal do bitcoin chegar a território negativo.
O gráfico abaixo mostra os rendimentos em bitcoin (em porcentagem) ao longo de um período de 30 dias, conforme retornos negativos de -30% historicamente sinalizaram condições de sobrevenda.
Rendimentos mensais só estiveram ruins assim durante cinco períodos nos últimos cinco anos:
– as correções entre janeiro de abril de 2018, que deram início ao mercado de baixa;
– o evento de capitulação no mercado de baixa em novembro de 2018;
– a enorme liquidação de mercado em março de 2020 quando a covid-19 bloqueou economias globais;
– o evento de liquidação e desalavancagem em maio de 2021;
– o desempenho anual em 2022.
Estimativas de valor justo do bitcoin
Houve muitas abordagens e modelos propostos para avaliar o bitcoin nos últimos anos e a avaliação de qualquer conjunto deve ser acompanhada pela confluência entre inúmeras métricas e indicadores.
Uma das ferramentas mais simples, mas ainda muito poderosas para essa avaliação é o Múltiplo de Mayer, calculado como uma proporção entre preço e a média móvel de 200 dias.
A média móvel de 200 dias é amplamente observada como um indicador de alta/baixa a longo prazo na análise técnica e tais desvios podem indicar um grau de subavaliação relacionada a uma média de longo prazo.
O Múltiplo de Mayer foi negociado abaixo de 0,8 essa semana, representando um desconto de mais de 20% relativo à média móvel de 200 dias.
O nível de preço que representa um Múltiplo de Mayer de 0,8 é US$ 39,1 mil, um nível ao qual o mercado agora voltou (calculado como 0,8 x média móvel de 200 dias).
Assim como a métrica de retornos mensais, exemplos anteriores da negociação do Múltiplo de Mayer abaixo de 0,8 geralmente se correlacionam com drásticas quedas em mercados de baixa e, principalmente, durante amplos eventos de capitulação no mercado (como em janeiro de 2015, novembro de 2018 e março de 2020).
Outra métrica que reflete um “valor justo” é a Proporção de Valor Realizado e Vivacidade (ou RTLR), proposta para estimar o “valor justo” do bitcoin conforme precificado pelo grupo de HODlers.
Durante épocas de forte dormência de moedas, a Vivacidade cai e o preço realizado é amplificado quando a Vivacidade está localizada no denominador (e vice-versa).
Essa métrica forneceu suporte no fim de 2020 antes do principal impulso do mercado de alta e, novamente, entre junho e julho de 2021.
O mercado foi negociado abaixo desse nível na última semana mas, desde então, recuperou o nível de RTLR de US$ 39.958, razoavelmente consistente com o nível de suporte com um Múltiplo de Mayer de 0,8.
O hack à carteira da Bitfinex em 2016
Na última semana, diversas métricas em blockchain detectaram um gasto enorme de 94.643 BTCs associados a carteiras do hack de 2016 à Bitfinex, com um valor de mercado de US$ 3,67 bilhões.
Dado o grande tamanho (tanto em volume de moedas, valor em dólar, lucro realizado e vida útil destruída), esse é um interessante estudo de caso ao avaliar como anômalos eventos em blockchain afetam a interpretação de métricas.
No fornecimento revivido de mais de cinco anos, é possível ver que esse gasto é o maior gasto nos últimos cinco anos na história do Bitcoin, ofuscando a alta anterior de 71.825 BTC em janeiro de 2019, quando os preços eram de US$ 3.629.
“Dias de moeda” destruídos (ou CDD) também atingiram recordes de vários anos com um total de 195 milhões de dias de moeda destruídos, dos quais 190 milhões (ou 97%) estão associados às carteiras da Bitfinex.
Conforme debatido acima, uma decrescente métrica de Vivacidade indica que, dentre todo o fornecimento de moedas, um volume maior de moedas está dormente e acumulando vida útil (dias de moeda) em comparação àquelas sendo gastas, destruindo dias de moeda.
Isso é comum em períodos de acumulação por HODLers e, geralmente, é um sinônimo de mercados de baixa.
A Vivacidade está em uma tendência de baixa definida, com a exceção notável de um aumento vertical essa semana em resposta ao gasto da Bitfinex, que aumentou essa métrica macro de grande escala em 0,38% naquele dia.
Uma métrica de vida útil que pode ser implementada para remover anomalias como essa, em que um pequeno número de carteiras gasta moedas muito velhas/em altas quantias, é a Vida Útil Média de Gastos (ou ASOL).
ASOL mede a vida útil média de moedas gastas em uma base de UTXO, ignorando completamente o volume de moedas (medido pelo CDD e pela Dormência, por exemplo).
ASOL não respondeu de acordo à carteira da Bitfinex e está rompendo a baixas registradas em junho de 2021. Altas na ASOL são típicas quando existe uma ampla distribuição de moedas mais antigas, geralmente em mercados de alta.
Como contraste, tendências de baixa, como a que está acontecendo agora, sugerem que HODLing é o comportamento preferível, consistente com a grande tendência de baixa macro na Vivacidade.
Conforme os preços de bitcoin oscilam de baixas de vários meses, a Glassnode investiu os possíveis mecanismos direcionadores e avaliou o suporte fornecido por investidores na faixa entre US$ 30 mil e US$ 40 mil.
As baixas de mercado de US$ 33,5 mil registradas na semana passada foram associadas à subavaliação história entre diversas métricas, incluindo o Múltiplo de Mayer, RTLR e o perfil de retorno mensal.
O mercado continua com um fornecimento pesado na distribuição, pois mais de 25% de todos os bitcoins têm prejuízos não realizados.
No entanto, existe um grau razoável de impulso por trás dessa alta, conforme holders a curto prazo voltam a ter rentabilidade e os osciladores MRG a curto prazo ficam positivos.
Agora, deve0se observar se holders a longo prazo e moedas mais antigas saem da liquidez e se a alta pode ser suportada por uma demanda renovada, que está em falta desde a grande liquidação em maio de 2021.
Sobre o autor
A Glassnode é a maior provedora de dados e inteligência de blockchain que gera métricas e ferramentas on-chain para quem realmente quer entender o mercado de criptomoedas.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização da Glassnode.