A maior história no setor de Finanças Descentralizadas (ou DeFi, na abreviatura em inglês) desta semana (e, talvez, dos dois últimos anos) foi a revelação de que 0xSifu, cofundador do projeto DeFi Wonderland, alegadamente é um fraudador em série com ligação à infame corretora canadense de criptomoedas QuadrigaCX.
Wonderland é uma bifurcação (ou “fork”) da OlympusDAO e desenvolvida no Avalanche, com um mecanismo similar de “bonding” (um usuário pode vender ativos a um protocolo em troca de seu token nativo) e rendimentos anuais (ou APYs) exorbitantes por staking.
Mas se você não ouviu falar sobre nada disso, não se preocupe. Aqui vai um resumo sobre tudo o que aconteceu até agora. Essa história é bem complexa e, sem dúvidas, ainda não chegou ao fim.
Em 27 de janeiro, um usuário do Twitter chamado Zach declarou que 0xSifu era, na verdade, Michael Patryn, cofundador da QuadrigaCX.
Patryn passou 18 meses na prisão por fraude de crédito e tem ligações com uma organização criminosa chamada ShadowCrew, segundo artigos do jornal canadense The Globe and Mail.
A história da Quadriga era bem estranha, mesmo para os padrões do setor cripto. Gerald Cotton, o outro fundador da Quadriga, morreu durante sua lua de mel na Índia e, aparentemente, era o único que tinha acesso às chaves privadas da corretora.
Sem acesso a essas chaves, US$ 190 milhões em ativos estavam basicamente congelados.
Para ajudar a avançar com o processo, um tribunal canadense escolheu a empresa de contabilidade Ernst & Young para encontrar uma resolução.
Em seguida, a empresa revelou que as carteiras frias (ou “cold wallets”), com armazenamento off-line, que alegadamente continham os fundos estavam, na verdade, vazias.
É uma história longa e complicada, repleta de controvérsias e estranhezas.
É um contexto relevante pois, antes de Zack expor 0xSifu na semana passada, parece que ninguém fazia ideia de que 0xSifu e Patryn são a mesma pessoa, incluindo outras pessoas responsáveis pelo Wonderland.
Quando descoberto e confirmado por Daniele Sestagalli, cofundador do Wonderland, outros desenvolvedores, incluindo 0xMaki, fundador do SushiSwap, vieram a público dizer que suspeitavam que 0xSifu “estava no limite”.
Os acontecimentos causaram pânico no setor, gerando um grande golpe à Frog Nation, o grupo de projetos supervisionados por Sestagalli, que são intrinsecamente ligados a Patryn.
Além disso, 0xSifu estava sob comando das enormes posses do tesouro do Wonderland e é claro que investidores no projeto não estavam felizes com isso por conta do passado de 0xSifu.
Tokens do Wonderland e de projetos associados, como Popsicle Finance e Abracadabra, despencaram.
Para quem está de fora, pode ter sido difícil de simpatizar com investidores que alocaram dinheiro em um projeto chamado “Abracadabra”. No entanto, para quem estava dentro, foi algo brutal.
A situação é comparável aos níveis de medo na época do colapso dos Lehman Brothers.
Wonderland realizou uma votação para remover 0xSifu de sua posição como tesoureiro e, em seguida, outra para suspender o projeto completamente. Diversas outras propostas parecidas surgiram na plataforma de votação Snapshot e tiveram resultados conflitantes.
E quando a votação “oficial” foi concluída e a comunidade votou para seguir em frente, Sestagalli anunciou, em 30 de janeiro, que o projeto seria encerrado.
14 horas depois, muito havia acontecido nos bastidores para que Sestagalli mudasse de ideia. Ele tuitou que “muitas pessoas o contataram para ajudar o Wonderland a avançar mais forte do que nunca”.
Logo em seguida, Sestagalli disse à comunidade Wonderland no Discord que a “DAO será gerenciada diretamente por mim. Esse circo precisa acabar agora e precisamos reunir propostas sérias e estruturas para avançarmos”.
E nesse pé que as coisas estão: Wonderland vive.
0xSifu/Patryn começou a mover blocos de 100 ETH no mixer de privacidade Tornado Cash em 1º de fevereiro.
Já o CEO do Wintermute, um formador de mercado DeFi, informou que a carteira ligada a 0xSifu/Patryn sinaliza um “baixo risco” quando analisada por um serviço comercial como o da Chainalysis ou Elliptic.
Isso significa que, a partir de uma perspectiva de “conheça seu cliente” ou “antilavagem de dinheiro” (KYC/AML), esses serviços de análise não consideram que essa carteira específica está fazendo algo duvidoso.
É uma situação bem confusa, mas não é a primeira que acontece no setor DeFi nem será a última.
A situação levanta perguntas sobre suas personalidades DeFi preferidas (os humanos por trás de seus nomes de usuário no Discord e avatares no Twitter) e que têm o poder das populares organizações “descentralizadas”.
Na quarta-feira (2), o próprio 0xSifu/Patryn perguntou: “Quando começamos a exigir verificações de antecedentes nas DeFi?”.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.