Na manhã de segunda-feira (28), em meio à invasão russa à Ucrânia, Avery, um entusiasta da Dogecoin de 40 e poucos anos e residente do estado americano do Colorado, sabia do que o esforço bélico precisava.
Ele foi até seu apartamento e ligou duas máquinas de mineração L3 da Antminer ao endereço público ucraniano e começou a enviar ao país um fluxo estável da criptomoeda Dogecoin (DOGE).
“Vou enviar cerca de 40 DOGEs por dia”, disse ele, calculando que isso resultaria em US$ 50 por mês. “Vou direcionar meus ganhos a eles até segunda ordem.”
Dogecoin? Para uma nação que resiste a uma invasão? Essa deve ser outra piada da moeda de meme mais valiosa do mundo, não é?
Na verdade, não.
O DOGE do endereço público de Avery foi enviado no mesmo dia em que Mykhailo Fedorov, vice-primeiro ministro da Ucrânia, após já ter solicitado doações em Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH), agora pedia seriamente por doações na moeda de cachorrinho que não deixa de surpreender, criada, em 2015, como uma piada.
“Dogecoin excedeu o valor do rublo russo”, tuitou Fedorov na quarta-feira (2).
“Começamos a aceitar doações na moeda de meme. Agora, até memes podem apoiar nosso exército e salvar vidas [do ataque] de invasores russos. Donos de $DOGE no mundo, Elon Musk, Billy Markus [criador da dogecoin]… Vamos nessa.”
Ele concluiu com um link de uma “carteira oficial de $DOGE”: DS76K9uJJzQjCFvAbpPGtFerp1qkJoeLwL.
Neste momento, esse endereço já recebeu mais de 677 mil DOGE (ou US$ 85 mil). Embora não seja exatamente uma fortuna e dogecoin ainda seja uma moeda de meme, as doações parecem ser de boa-fé, esta não é uma oportunidade cínica de investimento.
Na verdade, o valor de mercado do DOGE caiu para US$ 0,12 desde o anúncio de Fedorov.
Ainda não se sabe como tudo isso aconteceu. Dois grandes desenvolvedores principais do projeto Dogecoin, que pediram para não serem identificados, se negaram a esclarecer se algum grande envolvido em Dogecoin tinha se envolvido também na política.
Enquanto isso, holders do token ou participantes do fórum do Reddit r/dogecoin especulam que quem atraiu a atenção de Fedorov foi o defensor de Dogecoin Elon Musk, que também afirmou ter fornecido à Ucrânia acesso à internet por meio de seus recém-lançados terminais Starlink.
Ou talvez o vice-ministro ucraniano tenha apenas descoberto, da forma correta, que clubes de investimento cripto que adoram atenção podem ser facilmente convencidos a doarem à sua causa.
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Independente disso, holders de DOGE parecem estar doando prontamente. O usuário Matt Wallace tuitou:
AGORA o governo da Ucrânia está aceitando Dogecoin e acabei de contribuir com uma grande quantia!
Se você quiser ajudar, por favor, retuíte isso e, depois, sinta-se livre para acessar meu retuíte recente para obter o endereço oficial de $DOGE.
Para Avery, doar DOGE para um esforço bélico é um ato de profunda significância geopolítica. “Com DOGE, podemos transacionar sem governos, sem taxas e irmos direto à fonte”, disse.
Ele continuou expondo a importância de destronar o dólar como a moeda de reserva mundial ao usar moedas descentralizadas que podem ser transferidas sem problemas.
“Espero que ucranianos usem bitcoin/doge para comprar comida e tentem ficar fora do caminho da máquina de guerra”, acrescentou.
Para outros, isso é ainda mais simples.
“Greg”, um anônimo investidor cripto com muitos seguidores internacionais, disse ao Decrypt que havia doado 420 DOGE (equivalentes a US$ 53 atualmente). Ele disse que o benefício de usar DOGE é o envio barato.
“Doei 420 dogecoins e havia uma taxa de 1 DOGE, pois saiu da minha conta na Coinbase”, explicou.
Mas por que ele enviou uma “memecoin” em vez de, digamos, dólares ou uma moeda menos volátil?
“Escolhi DOGE porque é o que eu mais tenho e é fácil de enviar”, respondeu.
É claro que Greg faz parte de uma tendência maior. Muitos donos de dogecoin apostaram muito na moeda que, em 2021, teve ganhos de 3.100%. Não têm mais o que doar. “Tenho mais DOGE do que fiduciárias ou BTC”, disse “vision_b”, outro doador. “É minha moeda de preferência.”
Ele não estava brincando.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.
