Empresas petrolíferas russas estão usando USDT, Bitcoin e Ethereum para driblar sanções ocidentais e facilitar o comércio internacional, de acordo com quatro fontes anônimas com conhecimento do assunto.
Falando à Reuters, as fontes relataram que empresas russas de petróleo têm usado essas três criptomoedas para converter yuan chinês e rúpias indianas em rublos.
Andrew Fierman, chefe de Inteligência de Segurança Nacional da empresa de análise de blockchain Chainalysis, disse ao Decrypt que as criptomoedas “têm e continuarão a desempenhar um papel na facilitação da evasão de sanções” pela Rússia, citando a “falta geral de acesso ao ecossistema financeiro tradicional, devido às extensas e abrangentes sanções” impostas ao país.
As criptomoedas estão se tornando uma parte crescente, embora ainda pequena, do comércio internacional de petróleo e gás da Rússia, cujas receitas aumentaram 26% em 2024, atingindo US$ 108 bilhões. Segundo uma fonte citada pela Reuters, um comerciante russo de petróleo vende atualmente para a China o equivalente a “dezenas de milhões de dólares por mês”.
O comércio de petróleo da Rússia facilitado por criptomoedas geralmente funciona assim: um comprador de petróleo envia yuan ou rúpias para um intermediário, que converte os pagamentos em criptomoedas e as envia para a Rússia, onde são vendidas por rublos.
A maior parte do comércio internacional de petróleo da Rússia ainda opera com moedas fiduciárias, sendo que o uso do dirham dos Emirados Árabes Unidos tem se tornado cada vez mais frequente devido às sanções.
Segundo uma fonte citada pela Reuters, as empresas petrolíferas russas podem continuar usando criptomoedas mesmo após o fim das sanções, devido à rapidez e conveniência que oferecem.
Fierman disse ao Decrypt que o impulso para o uso de criptomoedas vem do topo do sistema político russo, com a Duma Estatal introduzindo “legislação no final do ano passado permitindo pagamentos transfronteiriços” liquidados com criptomoedas.
“No entanto, isso não significa que a Rússia deixará de usar métodos mais tradicionais para driblar sanções, incluindo o uso de empresas de fachada e laranjas”, acrescentou.
Na verdade, a movimentação em direção ao uso transfronteiriço de criptomoedas começou um pouco antes do último inverno, já que o Banco Central da Rússia aconselhou empresas, em julho de 2024, a utilizarem ativos digitais e outros meios de pagamento alternativos para realizar comércio internacional.
“A nova tecnologia financeira cria oportunidades para esquemas que não existiam antes”, disse Elvira Nabiullina, governadora do Banco Central da Rússia, em uma conferência financeira em São Petersburgo na época. Ela explicou: “Por isso, suavizamos nossa posição sobre o uso de criptomoedas em pagamentos internacionais, permitindo o uso de ativos digitais nesses pagamentos.”
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Essa declaração foi seguida pela aprovação da legislação mencionada, que legalizou o uso de criptomoedas para o comércio transfronteiriço e também permitiu que o Banco Central da Rússia transferisse dinheiro para o exterior usando moedas virtuais privadas.
Falando em julho, Nabiullina afirmou que os pagamentos internacionais em criptomoedas começariam no outono.
“Já estamos discutindo as condições do experimento com ministérios, agências e empresas, e esperamos que os primeiros pagamentos ocorram até o final deste ano”, disse ela.
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A adoção das criptomoedas pela Rússia não está isenta de desafios e vulnerabilidades, segundo Fierman.
“As entidades russas que buscam driblar as sanções correm o risco de interrupção por parte das autoridades, como visto recentemente com a apreensão dos domínios e servidores da Garantex, além do congelamento de mais de US$ 26 milhões em fundos”, disse ele ao Decrypt.
Fierman também mencionou que a Agência Nacional de Crimes do Reino Unido desmantelou uma rede russa de lavagem de dinheiro avaliada em bilhões de dólares, em dezembro, resultando em mais de 80 prisões e na apreensão de mais de US$ 25 milhões em criptomoedas e dinheiro.
Além disso, o uso de criptomoedas pode ser altamente rastreável, e a legislação está acompanhando o aumento do uso de criptoativos para evasão de sanções e lavagem de dinheiro.
Fierman explicou: “À medida que a regulamentação continua a fortalecer os requisitos de combate à lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo (AML/CFT), as exchanges de criptomoedas convencionais continuarão a proteger suas plataformas contra a evasão de sanções, tornando mais difícil realizar operações em larga escala.”
Como exemplo, Fierman citou o fato de que a União Europeia proibiu a oferta de carteiras, contas e serviços de custódia de criptomoedas para a Rússia ou cidadãos russos, enquanto os Estados Unidos impuseram dezenas de sanções nos últimos meses contra entidades russas envolvidas no uso de criptomoedas.
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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