As vendas de NFTs do novo metaverso do Bored Ape Yacht Club, o Otherside, foram um sucesso financeiro, com lucros superiores a US$ 560 milhões durante o final de semana. Mas, do ponto de vista técnico, a rede do Ethereum sofreu para lidar com tanta demanda.
Depois dos problemas, a Yuga Labs, empresa por trás do Bored Ape e do metaverso Otherside, pensa em criar a sua própria blockchain para tentar se livrar das taxas de gas do Ethereum, após a rede ficar totalmente congestionada no sábado (30).
Naquele dia, milhares de investidores tentaram agarrar um dos 55 mil NFTs de terreno virtual do Otherside que foram lançados ao mercado.
Cada um foi vendido por um preço fixo de 305 ApeCoin (APE), cerca de US$ 5,8 mil na cotação no dia. Dessa forma, a Yuga Labs lucrou por volta de US$ 319 milhões com essa emissão nesse dia.
No entanto, esses NFTs saíram muito mais caros do que parece. Embora os usuários estivessem pagando um preço fixo pelo NFT, eles precisaram desembolsar muito mais dinheiro para pagar o gas, a taxas cobradas na rede Ethereum.
Como a demanda pelos NFTs era muito grande, usuários que queriam garantir a compra, ofereciam taxas maiores para que mineradores priorizassem suas transações e as incluíssem na blockchain mais rápido, aumentando as chances de que a aquisição fosse realizada.
Isso fez com que as taxas do Ethereum chegassem a níveis nunca antes vistos. Na noite de sábado, o preço médio do gas do Ethereum chegou a ficar 200 vezes acima do preço normal.
“Este foi o maior lançamento de NFTs da história por vários múltiplos, e ainda assim o gas usado durante a criação dos NFTs mostra que a demanda superou em muito as expectativas mais loucas de qualquer um. A escala desse lançamento foi tão grande que o Etherscan quebrou”, escreveu a Yuga Labs no Twitter.
De acordo com a empresa, o evento de ontem foi um sinal de que seus projetos não podem mais depender do Ethereum no futuro.
“Parece bastante claro que a ApeCoin precisará migrar para sua própria cadeia para escalar adequadamente. Gostaríamos de encorajar a DAO a começar a pensar nessa direção”, escreveu a Yuga Labs.
Rede própria do Bored Ape é a solução?
Alguns outros projetos que foram construídos na rede do Ethereum já passaram por problemas parecidos no passado. O popular jogo play-to-earn Axie Infinity foi um deles, e criou a sua própria rede Ronin, que funciona na segunda camada do Ethereum.
O problema é que muitas dessas redes paralelas acabam sacrificando a segurança da blockchain principal por transações mais baratas e rápidas. Talvez o melhor exemplo disso tenha sido o hack que a própriarede do Axie Infinity sofreu em março e que lhe gerou um prejuízo de US$ 622 milhões em criptomoedas.
Parte da comunidade cripto não parece estar confiante nos avanços da Yuga Labs em lançar sua própria rede.
Em tom de piada, o desenvolvedor @zengjiajun_eth compartilhou o tuíte da empresa com a legenda “Não podemos otimizar o contrato, mas podemos lançar nossa própria rede!” e foi respondido por Vitalik Buterin, o criador do Ethereum.
Na visão de Buterin, otimizar o contrato não ajudaria a Yuga Labs a baixar as taxas de gas cobradas pela rede.
“Independentemente dos detalhes do contrato, a taxa de transação aumenta até o preço listado + taxa de transação = preço de mercado. Se o uso de gas por compra diminuísse 2x, o preço de equilíbrio do gas teria sido > 12.000 gwei em vez de 6.000”, escreveu o desenvolvedor.
Buterin também contrariou um usuário que argumentou que pessoas, incluindo ele, falam sobre o quanto as transações serão mais baratas em sidechains quando a mesma lógica de demanda se aplica. Porém, para Buterin, a lógica por trás da otimização de um contrato e uma rede de segunda camada, são diferentes.
“Não é a mesma lógica em tudo. Em um caso, a demanda sobe para igualar a oferta porque há uma corrida, no outro não. Como por que uma tecnologia melhor faz com que os carros consumam menos energia, mas não os mineradores PoW”, finalizou.