A Educação financeira está morta? Refiro-me aos esforços feitos há décadas para que as pessoas usassem o crédito com parcimônia. Ao mesmo tempo em que o mercado era inundado por um volume de crédito sem precedentes, Banco Central, CVM e alguns abnegados tentavam reparar os estragos trazidos pela inadimplência crescente e descontrolada.
Algumas medidas já ajudariam muito, como separar o limite do cheque especial do total disponível na conta corrente ou explicar ao consumidor que o pagamento mínimo da fatura do cartão não era o único valor a ser pago.
As coisas então foram se ajeitando. Os bancos e associações começaram a produzir conteúdos, e o momento de crédito fácil foi substituído por um período insistente de estagnação econômica. O saldo foi a existência de milhões de famílias inadimplentes e com o ‘nome sujo’.
Muitas delas simplesmente desistiram de acertar suas contas com os credores. E era comum a seguinte frase: “Para que pagar a dívida se depois de cinco anos ela irá caducar?”. E assim muitas fizeram e fazem até hoje.
Passamos para uma terceira fase, inflação controlada e Selic em queda acentuada. Os holofotes da educação financeira passaram do crédito para os produtos de investimentos. Mas como ensinar a usar os produtos financeiros que eram uma sopa de letrinhas de difícil entendimento?
Além disso, para a maioria da população, investir era sinônimo de poupança — sim a centenária caderneta de poupança que não vinha mais com a caderneta.
A população começou a se aventurar para o Tesouro Direto, fundos, ações e tinha que confiar nas recomendações feitas pelo seu gerente de conta. Às vezes dava certo, em outras…
Então, a educação financeira ficou mais complexa. Agora era preciso tirar o consumidor da inadimplência, ensiná-lo a fazer o orçamento e ajudá-lo a se transformar em investidor. Tudo junto e misturado.
Estamos agora na quarta fase. O mundo cripto. Uma rede descentralizada possibilitou a existência de novos e criativos produtos financeiros, sem intermediários e muitas vezes, sem regulação.
Ao mesmo tempo em que as possibilidades se multiplicaram, a volatilidade dos ativos foi ao espaço. “Piramideiros do Novo Egito” surgiram, oferecendo ganhos de 50% ao mês e muitos incautos caíram na armadilha e queimaram suas reservas.
No momento atual, final de 2021, a sociedade demanda uma ‘Nova Educação Financeira’, que ajude o consumidor a poupar e diversificar sua carteira de investimentos. Existe espaço para renda fixa e variável. E a criptoeconomia possui produtos para os dois tipos, nos seus tokens e criptomoedas.
Essa nova educação financeira precisará abordar as redes descentralizadas e criptografadas e produzir conteúdos para uma população diversificada e empenhada em explorar os novos caminhos do sistema financeiro.
A educação financeira para o mundo cripto irá ajudar o consumidor a escapar das armadilhas, pirâmides e “pegadinhas” de algum agente comercial de plantão. O grande desafio será ajudar o cidadão a sair das dívidas e se tornar um criptoinvestidor, mas com consciência e equilíbrio.
Se apertar muito, a corda se rompe, se deixar frouxa, ela não emite som. Então, bora pro caminho do meio. O caminho da Nova Economia “on chain”.
Sobre o autor
Fábio Moraes é professor e consultor em transformação digital, cultura e banking, especialista em educação corporativa, financeira e criptoeconomia. É CEO da Blockchain Academy