E se as milhas aéreas fossem tokenizadas? | Opinião 

Em analogia com o caso da 123 Milhas, a autora analisa como seria o funcionamento de um programa de milhagem tokenizado via blockchain
Mulher olha feliz para painel de voos em aeroporto

Shutterstock

E a CPI das Pirâmides Financeiras, criada originalmente para investigar crimes envolvendo operações criminosas com criptoativos, bateu à porta da 123 Milhas, empresa de venda de passagens aéreas emitidas por meio de milhas. Ontem mesmo, a companhia, que acumula dívidas de mais de R$ 2,3 bilhões e milhares de consumidores prejudicados, entrou com pedido de recuperação judicial

Não vamos discutir aqui se as atividades da 123 Milhas e de outras empresas do tipo são ilegais, até porque o imbróglio é grande.

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O regulamento da maior parte das emissoras de pontos proíbe a venda, pois entendem que as milhas premiam a fidelidade dos clientes; os órgãos de defesa do consumidor entendem que a prática é válida, pois os pontos só são concedidos por meio de compras, portanto uma relação de consumo. Para piorar, não existe regulamentação sobre o comércio de milhas no país.

Nos últimos tempos, a tokenização de ativos – os tais ativos da vida real (RWA, na sigla em inglês) vem abrindo os horizontes para uma série de indústrias, e não posso deixar de pensar que a tokenização das milhas aéreas poderia se converter num belíssimo negócio.

Funcionaria assim: os programas de milhagem concedem pontos a seus clientes e também os comercializam em marketplaces ou exchanges (chame como quiser);

Os detentores de milhas podem ir a esse marketplace para comprar milhas que faltam para completar o bilhete aéreo, vender seus pontos excedentes, transferir para amigos e familiares, ou até mesmo programar aquisições periódicas para ir comprando a passagem “a prestação”, como se fosse uma poupança.

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Vantagens para todos: para os programas de fidelidade, mais controle sobre a concessão de milhas, incentivos para mais transações e proteção de dados; para os clientes, liberdade total para fazer o que desejar com seus pontos e possibilidade de planejamento das próximas viagens. E um jeito de fazer uma grana extra. 

Penso ainda na possibilidade de troca direta de pontos de companhias aéreas por seus detentores – nada mais frustrante do que ter apenas milhas de Tapete Voador Air e o destino dos meus sonhos só é operado pela Disco Voador Linhas Aéreas e “morrer” com aquele monte de pontos que você será obrigado a trocar por uma air fryer. Expectativa: Paris; Realidade: frango a passarinho.

Esse futuro está mais perto do que imaginamos. Contratos, investimentos, compra e venda de imóveis, propriedade de obras de arte, produção de vinhos… tudo está sendo registrado na blockchain, essa tecnologia que, daqui a pouco, você nem vai mais questionar como funciona. Só terá a tranquilidade de saber que funciona perfeitamente.

E você? Se pudesse, tokenizaria o que para facilitar sua vida?

Até mais. 

Sobre a autora

Patricia Nakamura é gerente de Comunicação Corporativa do MB. Teve passagens por B3, Valor, UOL e Bloomberg. Aprendeu a duras penas que pessoas de Humanas também precisam saber fazer conta.