Divulgador da D9 Club tem mansão de R$ 100 milhões apreendida pela PF

Empresário Kaze Fuziyama foi divulgador da pirâmide financeira D9 Clube e dono da controversa companhia de mineração Mining Express
Kaze Fuziyama na piscina - reprodução-instagram

(Foto: Reprodução/Instagram)

A Polícia Federal apreendeu no dia 29 de janeiro uma mansão avaliada em R$ 100 milhões de Kaze Fuziyama, empresário que foi divulgador da pirâmide financeira D9 Club e o dono da suposta companhia de mineração Mining Express. A ação foi batizada de Operação Fortuito 2 e teve como foco a rede de bens e dinheiro de Fuziyama. 

Foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão nas cidades do Rio de Janeiro (Barra da Tijuca e Campo Grande), Armação dos Búzios/RJ, Uberaba/MG e São José dos Campos/SP.

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Segundo a PF, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 300 milhões em bens que pertencem à organização criminosa investigada. Nesse contexto, diversos imóveis foram sequestrados, incluindo a mansão cujo valor supera os R$ 100 milhões. 

A Polícia Federal afirma que a operação foi um desdobramento da prisão em flagrante de uma mulher por posse ilegal de arma de fogo, ocorrida em maio de 2024.

Os investigados poderão responder pelos seguintes crimes: organização criminosa; lavagem de dinheiro; evasão de divisas; emitir valores imobiliários sem registro, laudo ou autorização; gestão fraudulenta; e operar instituição financeira sem autorização. Se somadas, as penas máximas superam os 50 anos de reclusão.

Kaze Fuziyama e a D9 Club

Fuziyama nega envolvimento com a empresa D9 Club, que deu um prejuízo de R$ 200 milhões aos investidores, e seu nome completo, Carlos José Souza Fuziyama, não consta em nenhum processo na justiça, conforme apurou o Portal do Bitcoin. Apesar disso, um vídeo antigo no Youtube mostra Fuziyama recebendo um ‘cheque’ de US$ 22 mil como recompensa por sua atuação como divulgador da pirâmide.

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Após a D9 Club, Fuziyama submergiu por algum tempo até reaparecer com a abertura da Mining Express, sua própria empresa de mineração em nuvem, com sede na Ucrânia — um suposto investimento de US$ 100 milhões, como indicam reportagens da imprensa local. Fuziyama alega que sua fortuna é oriunda de compras de criptomoedas em fases de lançamento, as chamadas Ofertas Iniciais de Moedas (ICO).

Apesar das alegações, autoridades da Ucrânia sentiram cheiro de fraude e vasculharam de ponta a ponta os negócios de Fuziyama — foram duas visitas da polícia em oito meses no prédio que fica na cidade de Kropivnitskiy, relatou o site HB.

Segundo a publicação, um processo foi aberto para apurar “fraude” e os equipamentos encontrados no local foram apreendidos.

Quem é Kaze Fuziyama

Mas quem é, afinal, o empresário que, entre outras aventuras, também já se encontrou com Changpeng “CZ” Zhao, fundador da Binance, maior corretora mundial de criptomoedas?

Em dezembro de 2020, Fuziyama contou um pouco de sua infância, do primeiro emprego e sua trajetória no mundo cripto em uma entrevista ao influenciador Anderson Dias. O local que se encontraram foi exatamenente na suposta sede da Mining Express, na Ucrânia, quando Dias fazia uma de suas viagens.

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Filho de um japonês com uma brasileira, o empresário de 40 anos disse que foi para o Japão com a família quando tinha seis anos de idade e lá passaram por dificuldades financeiras. Ele diz que aos 14 anos já ajudava nas despesas da casa trabalhando em uma pedreira. Adulto, conseguiu um emprego na Honda.

Fuziyama diz que passou a ter olhos para empreendedorismo depois que leu o livro “O Segredo” — best seller da escritora Rhonda Byrne – como forma de “mudar de cenário”. Depois, sem revelar datas, afirma que foi para a área de marketing multinível — estratégia usada pela maioria das pirâmides financeiras —, onde atuou por seis anos, e então começou a acumular dinheiro.

“Investi no lugar certo e isso rendeu mais dinheiro, que hoje resultou nesse investimento que vocês estão vendo”, disse no vídeo, se referindo à Mining Express. Ele também afirmou que ganhou US$ 50 milhões investindo em Dogecoin (DOGE) e que investiu no Bitcoin quando a moeda ainda valia US$ 80 — o que significa que ele teria feito o investimento por volta de 2013.

Aliás, a história contada por Fuziyama é uma das poucas que se tem sobre sua vida. Alguns sites já publicaram matérias sobre seus empreendimentos com conotação de propaganda. Sites locais da Ucrânia, na época em que a empresa de mineração virou assunto, o classificavam como “empresário brasileiro misterioso”.

O que aconteceu com a Mining Express

Sobre os negócios de Fuziyama na Ucrânia, o site local You Control aponta que ele não consta mais como pessoa jurídica no país desde novembro de 2021 e que não deixou dívidas de impostos. Não se tem informação se ainda há algum equipamento ou móveis no prédio da Mining Express.

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A mineradora, registrada na Ucrânia em 2018, prometia lucros diários aos investidores. No Brasil, a empresa virou alvo da CVM em 2020, quando passou a oferecer mineração em nuvem a brasileiros.

A entidade entendeu que havia indícios de contrato de investimento coletivo, produto de mercado financeiro que necessita de autorização da autarquia para operar.

Encontro com CZ e homenagem no Rio

No Instagram, onde acumula mais de dois milhões de seguidores, Fuziyama ostentava uma vida de luxo, posando em jatinhos particulares, em festas e viajando pelo mundo.

Há também registros seus ao lado de grandes nomes do mercado cripto, como o ex-CEO da Binance. O encontro de Kaze Fuziyama com Changpeng “CZ” Zhao, aconteceu em um evento da Fantom em um hotel em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, “restrito para 50 pessoas”.

Reprodução / Instagram

“Poder conversar com eles e ter dicas de perto foi a melhor parte!”, escreveu sobre a foto tirada em outubro de 2021.

No dia 12 de setembro de 2022, Fuziyama esteve presente na Câmara Municipal do Rio de Janeiro para receber uma homenagem.

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Intitulada “Honraria de Cruz ao Mérito do Empreendedor Juscelino Kubitschek”, uma medalha e um diploma foram oferecidos para Fuziyama pela “Academia Brasileira de Honrarias ao Mérito” (ABRAHM), braço do ‘Centro de Integração Cultural e Empresarial de São Paulo’ (Cicesp), entidade não governamental com sede no centro da cidade de São Paulo.

Kaze Fuziyama
Kaze Fuziyama (ao centro) recebe homenagem na Câmara Municipal do Rio de Janeiro

Depois disso, Fuziyama também apareceu como um dos patrocinadores de um evento de desafio de rappers chamado ‘Batalha da Aldeia’.

Histórico de pirâmides

Além da D9 Club, Kaze Fuziyama também promoveu a One Thor Brasil. Em 2015, o Ministério Público do Mato Grosso apontou que o negócio tinha indícios de ser uma pirâmide financeira.

No Reclame Aqui e em redes sociais também foram registrados diversos relatos sobre a falta de pagamento para os revendedores. A empresa atuava com diversos produtos, de colchões a celulares.

Na época, quando procurada para comentar a relação com as empresas D9 Club e One Thor, a assessoria de Fuziyama afirmou que ele “não possui qualquer relação com as empresas D9 CLUB e ONE THOR e, sobretudo, jamais teve seu nome vinculado a qualquer demanda judicial e extrajudicial. Esclarece ainda, que todas as suas atividades sempre foram desenvolvidas pautadas na lei, na ética e nos bons costumes”.