Crise do coronavírus vira prova de fogo para fintechs brasileiras

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Foto: Shutterstock

A crise generalizada causada pela pandemia de coronavírus também marca uma prova de fogo para as fintechs. A incerteza sobre a extensão e duração desse cenário deixam a situação ainda mais complicada para o setor, no Brasil e no exterior.

As projeções internacionais não são nada animadoras. A OIT (Organização Internacional do Trabalho), ligada às Nações Unidas, estima que a pandemia deve eliminar cerca de 25 milhões de empregos em todo o mundo — o equivalente à população da Austrália.

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Para comparação, a agência da ONU lembra que a crise mundial de 2008-2009 acabou com 22 milhões de postos de trabalho.

Efeito dominó

Estabelecimentos que não são essenciais fecham as portas no esforço de conter a disseminação do vírus. No entanto, têm como efeito colateral a pisada no freio sobre a atividade econômica —menos dinheiro em circulação, menos empregos, menores salários, risco maior de inadimplência, entre outras consequências.

Esse efeito dominó também afeta fintechs de todos os tipos, especialmente as de crédito. A pancada é potencializada pela própria dinâmica de consolidação das fintechs, com estruturas enxutas e necessidade de investimentos e parcerias para obter escala em seus negócios.

Projeções estimam em torno de 500 o número de fintechs no Brasil.

Uma pesquisa divulgada em janeiro pela consultoria PwC e pela ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs) aponta que mais da metade (58%) das fintechs ouvidas não alcançou o ponto de equilíbrio — o chamado “breakeven” — e ainda dão prejuízo. Um patamar que seria alcançado em um espaço entre três e cinco anos.

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Por essa dinâmica, a expectativa para as fintechs recém-nascidas ou com pouco tempo de mercado não é das mais otimistas.

“Tem fintechs que acabaram de nascer justamente em meio a esse contexto. Isso já vai ser suficiente para não vingarem. Quem conseguiu captar investimento antes poderá segurar as pontas”, observa Bruno Diniz, professor de fintechs da FGV (Fundação Getulio Vargas) e autor do livro “O Fenômeno Fintech” (ed. Alta Books).

“Vamos obviamente ver um movimento de quebra de startups, não só no setor de fintechs. E vai haver um enxugamento de operações”, complementa o especialista.

Estratégia de sobrevivência

Empresas do setor com maior estrutura e mais tempo de mercado também vão sofrer, mas possuem mais condições de enfrentar a incerteza atual. Mecanismos de gestão e realocação de recursos captados inicialmente para escalar negócios podem ajudar nessa tarefa, pelo menos por algum tempo.

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“As que já captaram investimentos vão tentar segurar, reter clientes. É um plano de guerra: entrar no bunker e se segurar, fortalecer posição”, exemplifica Diniz.

A dica de gestão de Diniz coincide com a orientação da ABFintechs a seus cerca de 360 afiliados — segundo a entidade, esse número representa 80% das empresas do segmento no país.

“A orientação é que os empreendedores que lideram as empresas associadas façam uma gestão consciente dos gastos da sua companhia e tentem preservar ao máximo o seu caixa. E que não desconsiderem a possibilidade de este cenário se prolongar por mais tempo do que o imaginado”, afirma Diego Perez, diretor da ABFintechs.

Oportunidade na crise?

O consultor de fintechs e bancos Luiz Gustavo Nugnes acredita que a atual crise pode abrir uma janela de oportunidades para as startups —incluindo as fintechs — que conseguirem identificar um problema e bolar uma saída para ele.

“Podem pivotar, se reinventar, mas as fintechs têm condições de se reinventar em meio a essa crise e de achar soluções onde há problemas”.

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Nugnes também concorda que fintechs em fase inicial deverão perecer, especialmente por conta da escassez de fontes de investimento para escalar o negócio.

“É uma época em que todos os investimentos sumiram. Essas pequenas fintechs que estão tentando captar agora provavelmente não vão conseguir.

Perez também acredita na capacidade de reinvenção das fintechs para lidar com cenários de crise, encontrando oportunidades.

“Existe um espaço enorme para as fintechs desenvolverem novos modelos de negócios para solucionar esses problemas. A questão é: a resolução desses problemas virá num curto ou médio prazo?” 

Já Diniz pondera que, na atual situação econômica, essa característica de reinvenção não é uma garantia de sucesso.

“Os tempos de hoje subvertem qualquer lógica fundamental sob a qual a empresa foi concebida. Esse é um cenário pessimista ‘plus'”.

‘Limbo’ e acenos do governo

Até o começo da crise, as fintechs eram consideradas pelo BC peças importantes para elevar a concorrência e reduzir o custo do crédito. No entanto, reportagem do jornal Folha de S. Paulo da última quinta-feira (26) observou que as fintechs tinham ficado de fora dos planos de aumento de crédito na economia.

Só do BC, por exemplo, veio uma injeção de R$ 1,2 trilhão para ampliar linhas de crédito (a pessoas físicas e empresas), facilitar renegociação de dívidas e concessão de subsídios a determinados setores, entre outros objetivos. Um montante acessível, basicamente, por grandes bancos.

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Em um primeiro aceno ao setor, o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizou também na última quinta-feira que as fintechs de crédito com licença para operar como Sociedades de Crédito Direto (SCD) possam emitir cartões de crédito.

A ideia é que as fintechs que se encaixam nesse formato se tornem canal de realização de políticas públicas, por meio da capilaridade que as plataformas eletrônicas possuem.

Primeiro passo suficiente?

O anúncio do CMN voltado às fintechs de crédito é considerado positivo por Perez. No entanto, ele aponta que a medida tem pouco efeito para o plano emergencial atual.

“Medidas direcionadas exclusivamente às fintechs poderiam ser uma alternativa de o recurso emergencial não ficar represado em grandes bancos que possuem processos mais lentos e burocráticos no momento de liberar o recurso para quem precisa”, defende o diretor da ABFintechs.

Já Diniz elogia as medidas econômicas anunciadas até o momento, mas sugere que a reação do próprio setor de fintechs em sua defesa é fundamental.

“Existe apreensão, todo mundo está tenso. A classe empresarial de fintechs não deve ficar, e não está, de braços cruzados em relação a tudo isso. Se uma situação como essa se arrastar por mais de 3 meses o cenário vai ficar muito sombrio. Alguns movimentos espontâneos estão acontecendo e pleitos dessas empresas estão sendo reunidos pelas associações representativas do segmento para serem encaminhados ao governo e aos reguladores”.


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