“Eu acho que você diria que eu faço parte da comunidade cética sobre cripto”, disse o economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel, abrindo um debate com o criador e CEO da corretora Binance, Changpeng “CZ” Zhao, produzido para um novo curso da plataforma educacional MasterClass.
Krugman talvez seja modesto a respeito de sua posição sobre criptomoedas e blockchain. Na semana passada, ele escreveu uma coluna no New York Times na qual diz que o hype sobre os criptoativos é uma “tragédia” que resultou em “desperdícios em uma escala épica.”
“Nossa conversa sempre chega no ponto que não podemos enxergar qual problema os criptoativos estão resolvendo, o que eles realmente estão fazendo que ainda não estamos fazendo, ou como a criptoeconomia pode—na medida em que há um problema—resolvê-lo melhor do que outros métodos mais convencionais”, disse ele.
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CZ respondeu apontando que o conceito original do Bitcoin e das criptomoedas era fornecer uma nova maneira de transferir valor, da mesma forma que a internet é uma nova maneira de compartilhar informações.
“O Bitcoin, especificamente, é uma forma melhor de dinheiro —corrige alguns dos problemas que temos com o dinheiro hoje quanto à oferta limitada, não ser fácil de usar, não ter muita liberdade e não ter taxas muito baixas”, disse Zhao. “Isso também vale se pensarmos em comércio global, transferências internacionais, remessas, micropagamentos e outros sistemas”.
“Para ser sincero com você, o primeiro caso de uso do Bitcoin foi imaginado para o setor de pagamentos, mas não decolou da forma que planejaram. Mas os outros casos de uso deram certo, no geral”, continuou ele.
CZ apontou para a capacidade da criptoeconomia de levantar milhões de dólares em financiamento e fluxos de renda, usando como exemplos dinheiro para artistas que criam Tokens Não Fungíveis (NFTs).
“É uma captação de recursos global; é muito mais fácil para os empresários arrecadar dinheiro de forma global”, disse ele. “Usando criptomoedas, um empresário respeitado pode levantar US$ 10 a US$ 20 milhões em questão de dias.”
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Transferências de recursos
Ao longo da conversa, Krugman se manteve cético.
“Estou um pouco confuso—não está claro por que a blockchain, por si só, facilita a arrecadação de fundos”, disse Krugman, observando que a ideia só parece boa hoje por causa da popularidade dos criptoativos atualmente.
“Acho que a principal grande diferença é o fator transfronteiriço e transnacional dessa tecnologia”, disse Zhao, citando a dificuldade de fazer pagamentos transfronteiriços com bancos tradicionais. “A blockchain oferece isso, e acho que essa é a principal razão.”
O CEO da Binance apontou para as diferenças globais nas oportunidades econômicas, citando a economia vibrante dos EUA em relação à China, Vietnã e países africanos.
“É muito difícil para alguém fora dos EUA transferir dinheiro para lá por causa das taxas internacionais bancárias como o Swift”, disse Zhao.
“Mas [isso não é] não uma questão tecnológica, mas uma questão regulatória”, respondeu Krugman. “Isso não seria então apenas uma forma de contornar as regulamentações que, por qualquer que seja o motivo, os governos acharam apropriado implementar?”
Embora as regulamentações façam parte da questão, Zhao acredita que é mais uma questão de legado e do alto custo de enviar dinheiro de um país para outro.
“Não há nada regulatório que nos proíba de investir em um projeto, para uma pessoa em Dubai investir em um projeto na África do Sul”, disse. “Mas a mecânica desse investimento é muito complexa para os serviços financeiros tradicionais.”
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Zhao disse que, como a tecnologia está tornando o mundo menor, os empreendedores podem acessar um pool de liquidez global usando a tecnologia blockchain.
“Por que não simplesmente reformar as regras bancárias?” Krugman perguntou, comparando a questão com telefones celulares e como duas operadoras dos EUA podem ter políticas diferentes para as mesmas regiões.
Criptomoedas ficando velhas
Krugman também questionou quanto tempo a adoção do Bitcoin levou em comparação com inovações como a internet, dizendo que o argumento de que os criptoativos são novos está ficando velho.
“Se você quiser comparar a criptoeconomia com a internet em 1995, em 2008, estávamos todos vivendo na internet”, disse Krugman. O Bitcoin foi criado em 2009, há 13 anos.
Zhao reconheceu que Krugman fez um bom argumento, mas observou que a coisa que agora conhecemos como internet foi desenvolvida na década de 1960, com a rede de agências de projetos de Pesquisa Avançada dos EUA ou Arpanet, seguida pelo uso de e-mail pelos militares dos EUA na década de 1980.
“A questão parece ser com governos e regulamentações, e não com a tecnologia”, respondeu Krugman, observando que ele se tornaria um adepto dos criptoativos se pudesse agilizar sua passagem pelo departamento de imigração quando ele viaja para a Europa.
Apontando para a facilidade com que os viajantes que usam o Global Entry podem entrar nos Estados Unidos, ele acrescentou: “o problema é que eles não são transferíveis e a blockchain não ajudará nisso.”
Evolução das regulações
Muitos entusiastas de cripto apontam para a crise financeira de 2008 como o motivo pelo qual o Bitcoin e a indústria que ele gerou são necessários. Mas muitos questionaram o quão prático é esperar que o cidadão comum compreenda a tecnologia e suas implicações financeiras.
“O que é interessante é que, depois de 2008 e de todos esses desastres, não respondemos com educação, respondemos com mais regulamentação, respondemos com [a legislação] Dodd-Frank, com coisas que basicamente tentaram colocar mais do sistema financeiro sob a égide de regulamentações prudenciais”, disse Krugman.
“A lição de tudo isso não seria esperar que os alunos do ensino médio fossem capazes de entender todas essas coisas que você está me contando?” ele perguntou.
“Não é tão preto no branco assim”, respondeu Zhao. “Eu acho que, do ponto de vista regulatório, é importante que as regulamentações continuem evoluindo com novas tecnologias, novas indústrias, para proteger os consumidores, eu acho que isso é necessário.”
Zhao acrescentou que, ao mesmo tempo, as pessoas precisam aprender a se proteger.
“Nenhuma solução é perfeita. Não estou dizendo que a educação resolverá todos os problemas, [mas] ajuda a melhorar um pouco a situação”, disse Zhao.
Krugman disse que haverá uma expansão gradual da rede regulatória, acrescentando que acredita que a maioria das criptomoedas é usada para evasão fiscal e regulatória. Mesmo assim, ele acha que as criptomoedas sobreviverão, “mas elas serão indistinguíveis das finanças tradicionais.”
Fundada em 2004, a MasterClass, é uma plataforma americana de assinatura de aulas on-line que oferece tutoriais e palestras pré-gravadas por especialistas em vários campos do conhecimento. A MasterClass “Crypto and the Blockchain” também apresenta sessões lideradas pela Presidente e COO da Coinbase, Emilie Choi, e Chris Dixon, sócio geral da Andreessen Horowitz.
*Traduzido por Gustavo Martins com autorização do Decrypt.
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