CPI das Pirâmides: Deputados defendem que casa do dono da Grow Up seja usada para ressarcir vítimas

Gleidson assumiu ter dívidas com clientes da Grow Up, mas não quis precisar os valores que deve, nem o número exato de credores
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Dono da Grow Up Club, Gleidson Costa, na CPI das Pirâmides Financeiras (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Depois de ser conduzido coercitivamente pelo Polícia Federal para Brasília na terça-feira (3), Gleidson da Costa Gonçalves prestou depoimento na CPI das Pirâmides Financeiras sobre as operações da sua empresa Grow Up Club, suspeita de dar um golpe em investidores brasileiros, principalmente da cidade Campos dos Goytacazes (RJ).

Protegido por um Habeas Corpus que dava o direito de ficar calado nas perguntas que poderiam lhe incriminar, Gleidson na maior parte do tempo não quis responder aos deputados. Quando o fazia, dava respostas confusas, por vezes divergentes para perguntas iguais.

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O dono da Grow Up assumiu ter dívidas com clientes da empresa, mas não quis precisar os valores que deve, nem o número exato de credores. Gleidson também se negou a explicar por que a Grow Up bloqueou os saques em dezembro do ano passado.

As respostas sem objetividade incomodaram os deputados que explicaram que, apesar do HC, o deponente não poderia deixar de responder certas perguntas básicas.

“Eu vou lhe dar a oportunidade de responder de novo a pergunta. Caso contrário, se o senhor decidir por não responder, esta CPI vai representar contra o senhor junto ao Ministério Público, porque o senhor decidiu ficar em silêncio em uma pergunta que não é incriminatória. Então, de novo, vou lhe fazer a pergunta: quantos clientes a Grow Up tinha?”, disse em certo momento o deputado Caio Vianna (PSD/RJ), responsável pela convocação de Gleidson.

Depois de afirmar que não tinha certeza da quantidade, Gleidson voltou atrás e forneceu um número: “presumo que seja de 300 a 320 clientes”. Em outro momento, comentou de uma ordem que recebeu de uma dívida de R$ 10 mil, mas não soube explicar ao que isso se referia.

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Conforme mostrou reportagem do Portal do Bitcoin, um grupo de cerca de 300 pessoas passaram a acusar a Grow Up de ter aplicado um golpe ao deixar de pagar os rendimentos prometidos nos investimentos em criptomoedas. Cerca de 14 clientes que perderam R$ 1,5 milhão investindo com Gleidson, fizeram um boletim de ocorrência coletivo acusando o executivo de estelionato.

CPI - Pirâmides Financeiras - Tomada de depoimentos e votação de requerimentos (parte 2) - 03/10/23

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Os bens de Gleidson

Uma das poucas questões que Gleidson foi mais objetivo foi sobre possuir uma dívida de quatro prestações não pagas de sua casa financiada em Campos dos Goytacazes (RJ), que segundo ele, são parcelas de cerca de R$ 10 mil.

Apesar disso, ele não foi preciso sobre o valor do imóvel, dizendo em certo momento que custou R$ 1,4 milhão e depois que seria entre R$ 1,6 milhão e R$ 1,7 milhão, explicando que o valor inicial seria o do financiamento apenas.

Gleidson também afirmou que não tem outros bens além da casa, mas que já teve vários automóveis, como uma Land Rover, Porsche e Mercedes. Gleidson disse que atualmente não possui aplicações financeiras, nem criptomoedas.

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O deputado Caio Vianna questionou Gleidson sobre uma suposta carteira controlada por ele e que hoje armazena o equivalente a R$ 28,6 milhões em TRON. O depoente não soube confirmar se a carteira era dele ou não, mas admitiu que já transacionou TRON na Binance.

No final do depoimento, Vianna sugeriu que o imóvel de Gleidson seja bloqueado pela Justiça: “Parece que isso tudo desapareceu por conta do entendimento de que a pirâmide estava acabando. Então, a gente precisa bloquear a casa dele para que sirva para pagar pelo menos algumas pessoas.”

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Supostos “treinamentos”

Em diversos pontos da sessão, o dono da Grow Up falou sobre o que chamou de “treinamentos” que deu para clientes envolvendo diversas estratégias para ganhar no mercado financeiro, como hedge (proteção), análise técnica, entre outras. Ele chegou a afirmar que ganhou pouco mais de R$ 2 milhões em dois anos com esses treinamentos.

Mais tarde, o presidente da CPI, deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade/RJ), questionou Gleidson como que “um rapaz de sucesso, de repente, a vida mudou o papel?”.

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“Uma pergunta que eu tento me responder todos os dias”, disse ele. “Eu não posso agregar a culpa dos negócios às pessoas que estavam ao meu redor, mas eu não consigo dar um nome.”

Colote nos clientes

Desde o início do depoimento, Gleidson alegou que a Grow Up nunca ofereceu consórcio para investidores. Porém, já na reta final da sessão, o deputado Caio Vianna apresentou um documento da empresa que se iniciava com “Consórcio de rentabilidade Grow Up” e que explicava como funcionava o serviço que prometia gerar rendimentos sobre as criptomoedas dos usuários, bloqueadas por um ano no consórcio em questão.

No final do documento, um trecho dizia: “A Grow Up se responsabiliza pelo capital investido, com garantia do pagamento integral do investimento mais rentabilidade.”

Gleidson então alegou que, embora fosse o líder da Grow Up, a criação do consórcio não foi ideia dele e disse que haviam outros sócios com poder para tomar tal decisão. “Eu não tinha nenhum poder ou visualização de pessoas ou valor [investido no consórcio]. A ideia do consórcio não foi minha. Ela foi aprovada dentro de uma reunião do conselho da empresa, onde todos tinham o mesmo voto”, disse.

Gleidson se comprometeu a ressarcir os clientes da Grow Up, mas não explicou como faria isso, já que admitiu estar endividado, supostamente sem conseguir pagar o financiamento da própria casa.

“Como é que o senhor pretende retornar se o senhor diz que não está em posse de nada? Para onde foi o dinheiro dos clientes? O senhor investia em criptomoedas? Se o senhor investia em criptomoedas, o que aconteceu com o dinheiro dos clientes?”, pressionou o deputado Vianna.

“Eu vou me reservar ao direito de permanecer calado”, devolveu Gleidson.