A análise fundamentalista busca analisar os fundamentos de um ativo para determinar o seu valor. No mercado de ações, se analisa fluxo de caixa, receita líquida, margem e outros valores contábeis.
No entanto, esse tipo de análise ainda é incipiente no mercado de Bitcoin. Isso acontece porque estamos em um segmento completamente novo.
Além disso, estamos em um processo de descoberta de preços e melhores métricas para calcular o valor justo do Bitcoin, ou seja, seu valuation.
No entanto, já é possível contar com indicadores fundamentalistas, que determinam se o preço do Bitcoin está caro ou barato de acordo com os fundamentos observados.
Quais são os fundamentos do Bitcoin até o momento?
Diferente do mercado de ações, que já possui fundamentos mais claros e bem definidos, o Bitcoin ainda está em processo de descoberta. Investidores e analistas criam hipóteses e modelos para testá-las, resultando em um indicador fundamentalista.
O progresso até o momento tem sido notável. O mercado chegou a um consenso em relação aos fundamentos preliminares do Bitcoin: escassez, descentralização e segurança.
Com base nisso, esse texto irá apresentar três indicadores fundamentalistas para refinar sua análise e tomada de decisão.
Stock-to-flow
A taxa de escassez é uma relação que obtemos quando dividimos o estoque total do ativo (21 milhões de Bitcoin) pela produção anual (mineração).
Ela nos diz quantos anos são necessários, na taxa de produção (mineração) atual, para produzir o que está no estoque atual. Ou seja, ela nos diz o quanto aquele ativo é escasso em relação ao tempo de produção.
Por exemplo, quantos anos o Bitcoin levará para alcançar aproximadamente 18 milhões de unidades (estoque atual) a uma taxa de 12,5 Bitcoins criados a cada 10 minutos (mineração)?
Essa métrica já é utilizada no mercado de metais preciosos, especialmente para Ouro, Prata, Aço e Paládio. Nos últimos anos, ela também foi desenvolvida para o Bitcoin, através de um pesquisador conhecido como Plan B.
A principal hipótese desse modelo é que o halving é um grande influenciador na escassez do Bitcoin, o que faz com que o valor de cada unidade de Bitcoin aumente ao longo do tempo, porque sua escassez aumentará.
O halving é um evento programado para diminuir a emissão de Bitcoins pela metade a cada 4 anos. Hoje são minerados 12,5 Bitcoins a cada 10 minutos, em 2020 esse número cairá para 6,25.
Portanto, o modelo do Stock-to-flow acredita que o preço do Bitcoin é altamente correlacionado com a sua escassez.
Como o Bitcoin é praticamente fixo a 21 milhões, um halving aumentaria a taxa de escassez do ativo, o que leva a um aumento de preço, provocado por um choque de diminuição de oferta.
O gráfico abaixo mostra essa relação. A escala colorida é uma “temperatura” em relação à distância de tempo para o próximo halving.
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Ela vai ficando mais azul conforme a distância vai diminuindo, ou vermelha conforme a distância for aumentando. O melhor momento para compra é quando a escala de cor do preço está “azul” e abaixo da linha azul.NVT-s (Valuation da Rede em relação ao Valor Transacionado)
O NVT-s é mais um indicador fundamentalista do Bitcoin. A hipótese dele é que podemos medir o valor da rede em relação ao número de transações dentro da blockchain do Bitcoin.
A hipótese é básica: se o número de transações está muito abaixo do valor da rede, o Bitcoin estará sobrevalorizado. Por outro lado, se há bastante valor sendo transacionado dentro da rede com um mercado em baixa, ele indicará uma subvalorização.
O NVT-s foi elaborado pelo analista Willy Woo em fevereiro de 2018. Esse indicador é uma tentativa de emular o indicador (Preço/Lucro) no mercado de criptomoedas.
Você pode utilizá-lo observando a pontuação e a área destacada em vermelho. Se estiver marcando acima de 105 pontos, quer dizer que o preço do Bitcoin está muito caro em relação ao seu fundamento de transações na rede.
Abaixo de 40 pontos, quer dizer que ele está sobrevalorizado. No entanto, é preciso tomar cuidado, nunca devemos basear nossa análise em um único indicador. É preciso observar todo o contexto no momento e procurar por mais variáveis que corroborem uma decisão.
O NVT-s pode ser um bom indicador para capturar fundos e topos do Bitcoin, embora não seja tão bom para ser utilizado no trading de curto prazo. Ainda assim, é uma excelente ferramenta para dispor em momentos de análise.
1+ HODL Waves
Entre os indicadores de fundamentos, o HODL Waves é o meu favorito, porque ele é um indicador que mostra o comportamento do mercado em relação ao preço com a análise de endereços de Bitcoins que se moveram pela última vez.
As razões que tornam o HODL Waves um bom indicador é a análise do fator psicológico do mercado. Ou seja, ele analisa o comportamento das pessoas que estão com Bitcoins e como elas se agem em diferentes fases dos ciclos de valorização do mercado.
Por exemplo, podemos ver os investidores vendendo suas moedas à medida que o preço sobe em direção a um novo ciclo de alta. Por outro lado, é possível ver novos entrantes vendendo seus Bitcoins caso o preço tenha uma queda acentuada.
O gráfico acima representa Bitcoins que não se moveram por 1 ano. Se a linha amarela estiver se movimentando para cima e, ao mesmo tempo o preço está caindo, significa que investidores mais experientes estão acumulando mais Bitcoins.
A hipótese é que esse comportamento ilustra o começo de um novo ciclo de alta, porque o mercado está acumulando mais Bitcoins enquanto o preço encontra o seu fundo.
Cuidados no uso do indicador
Os indicadores acima são os melhores disponíveis até o momento. Contudo, é preciso utilizá-los em conjunto de outras ferramentas: análise de mercado, indicadores técnicos e contexto econômico/político mundial.
Tanto NVT-s e o HODL Waves foram feitos a partir de dados da própria rede do Bitcoin, que pode ser utilizada para fornecer insights em relação ao comportamento do mercado. Por outro lado, o Stock-to-flow é baseado na hipótese de escassez.
Estes são os primeiros indicadores fundamentalistas de Bitcoin. Portanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido em sua descoberta de preço e valor. A tendência é o surgimento de novos indicadores e o aperfeiçoamento do que já existente.
*Texto escrito por Lucas Bassotto e publicado originalmente pelo site Investificar.