A blockchain Terra e seu token nativo LUNA passaram por um crescimento inigualável por conta da rápida adesão da stablecoin UST.
Apenas em 2021, a capitalização de mercado da LUNA passou por um crescimento de 14.000% e o fornecimento de UST ultrapassou US$ 10 bilhões.
A atualização Columbus-5 da Terra, implementada em setembro de 2021, é a responsável pelo recente crescimento no fornecimento de UST.
Columbus-5 foi iniciada com o objetivo principal de simplificar o design econômico da Terra e melhorar a captura de valor de holders de LUNA com base no crescimento da UST.
A atualização possibilitou isso ao diminuir o fornecimento líquido de LUNA por meio de um aumento na queima de tokens, staking e de um aumento no fornecimento de UST ao expandir sua prevalência de cross-chain.
Uma maior distribuição de UST entre blockchains também melhorou a segurança do ativo ao remover o risco de dependência de um pequeno número de protocolos. Antes de se aprofundar nos detalhes específicos da Columbus-5, é essencial explicar o que é Terra.
Aspectos básicos sobre Terra
Terra é um protocolo proof of stake (PoS) que cria stablecoins algorítmicas e descentralizadas. Embora Terra possa criar stablecoins que rastreiam qualquer moeda fiduciária, UST é seu principal caso de uso.
Terra mantém o lastro da UST no dólar americano por meio de uma política monetária elástica e possível por seu modelo duplo de tokens: UST-LUNA. Quando o valor de uma unidade de UST está acima do lastro em dólar, usuários são incentivados a queimar LUNA e emitir UST.
Quando o valor de uma unidade de UST está abaixo do lastro em dólar, usuários são incentivados a queimar UST e emitir LUNA.
Durante épocas de contração da UST, a valorização da LUNA diminui e, durante épocas de expansão, aumenta. LUNA é a contraparte variável da UST. Ao modular o fornecimento, a valoração da LUNA aumenta conforme a demanda por UST aumenta.
Holders de LUNA garantem a segurança da rede ao fazer “bonding” (processo em que um usuário pode vender ativos a um protocolo em troca de seu token nativo) de seus tokens LUNA a um validador da rede.
Ao manter LUNA em staking, as recompensas vêm de três fontes: gas, taxas de estabilidade de mercado e taxas de conversão. Usuários podem fazer o staking de LUNA a um validador da rede por meio do Anchor Protocol em troca de bLUNA, uma representação tokenizada de LUNA em bonding que pode ser negociada livremente ou usada como garantia em outros protocolos da rede Terra.
Já “unbonding” de tokens LUNA, ou seja, o caminho reverso, pode demorar até 21 dias — período em que recompensas não são acumuladas.
A atualização Columbus-5
Mudanças econômicas
O processo de “seigniorage” acontece quando LUNA é convertida para emitir novas USTs.
Antes de TIP43 e Columbus-5, quando UST era emitida, o protocolo Terra queimava uma porção de LUNA ganha e o restante seria direcionado para o financiamento de diversos projetos de comunidade.
Por conta do rápido ritmo de geração de “seigniorage”, o pool da comunidade e o pool de recompensas do oráculo da Terra ficaram superfinanciados.
Em uma tentativa de consertar isso e maximizar o acúmulo de valor para holders de LUNA, Columbus-5 implementou a queima de todos os fundos do pool da comunidade e direcionou 100% de todos os “seigniorages” futuros para a queima.
Quase 89 milhões de LUNA foram queimados do pool da comunidade. US$ 1 bilhão em LUNA queimado e convertido para UST foi usado para impulsionar Ozone, um protocolo de seguros algorítmico e baseado em declarações da Terra.
Ozone, em seguida, foi assumido por Risk Harbor, um protocolo automatizado de gestão de risco para finanças descentralizadas (DeFi).
Aumentar a queima de forma radical fez com que LUNA se tornasse um ativo deflacionário e melhorou sua captura de valor com base no crescimento da UST.
Embora projetos da comunidade não recebam mais financiamento do processo de “seigniorage”, outros programas liderados pela comunidade surgiram para financiar novos iniciativas.
Conforme destacado no artigo “Dinâmicas de preço entre UST/LUNA”, escrito por Murray Rudd, aumentos na demanda de UST simultaneamente resultam na expansão da curva de demanda da LUNA e na contração da curva de oferta da LUNA.
Dado que a curva de demanda por LUNA é menos elástica a níveis mais baixos de oferta, uma alta demanda por UST a níveis mais baixos de fornecimento de LUNA possui um impacto exponencialmente maior no preço da LUNA.
Conforme o fornecimento de LUNA diminui, a verdadeira quantia de LUNA necessária na queima para emitir UST também diminui.
Se a adesão de UST continuar a crescer ao longo do tempo, é possível que o fornecimento de LUNA se torne basicamente fixo a um baixo nível no futuro. A queima de 100% de “seigniorage” irá acelerar drasticamente a redução da oferta total de LUNA ao longo do tempo.
Desenvolvimentos de oráculo
Votos de validadores de oráculos são fundamentais para manter a emissão de UST a preços corretos.
Antes de Columbus-5, votos de oráculos tinham a capacidade de serem removidos da “mempool” (base de dados composto por transações pendentes) durante períodos de alta demanda de rede.
Essa exata situação aconteceu durante a queda de mercado em maio de 2021, quando um fluxo de outras transações encurralou votações para fora dos blocos.
Após a Columbus-5, votos dos oráculos recebem prioridade na mempool para que nunca sejam removidas de blocos durante épocas de altas no tráfego da rede.
Antes de 100% de “seigniorages” serem queimados, uma porção deles era alocada a validadores para encorajar a votação em oráculos.
Para compensar validadores pela perda de recompensas de “seigniorages”, Columbus-5 paga taxas de conversão a validadores que, caso contrário, seriam queimadas.
Essa mudança resultou em maiores retornos para o staking de LUNA e aumentou drasticamente a quantidade de LUNA em staking.
Avanços cross-chain: Inter-Blockchain Communication (ou IBC)
Terra é uma blockchain desenvolvida com kit de desenvolvimento de software (SDK) da Cosmos e utiliza o consenso Tendermint.
Todas as blockchains desenvolvidas com o SDK da Cosmos vêm nativamente com Inter-Blockchain Communication (IBC), um protocolo padronizado de comunicação entre blockchains compatíveis com IBC.
A Columbus-5 ativou a funcionalidade do IBC na Terra, permitindo a transferência contínua de ativos e dados entre a Terra e outras blockchains da rede IBC, como Cosmos Hub, Secret Network, Akash, Thorchain e muitos outras.
Antes da integração do IBC à Terra, o IBC não tinha uma stablecoin altamente líquida.
A integração permitiu que a liquidez da UST fluísse para outras blockchains da rede IBC e, conforme sugerido, UST se tornou o par dominante de stablecoin na Osmosis, a corretora descentralizada (DEX) mais liquida da Cosmos.
Conforme o ecossistema Cosmos continua crescendo, a UST poderá acompanhar o aumento de popularidade.
A crescente demanda por UST em outras blockchains conectadas vai continuar fomentando os efeitos de rede da UST e melhorar a distribuição de liquidez da stablecoin.
Embora a dominância entre blockchains da UST esteja aumentando, grande parte do fornecimento pendente de UST continua bastante concentrado em um número pequeno de protocolos, como Anchor.
Conforme a distribuição de UST aumenta, é reduzida a reflexividade decrescente do seu lastro e risco associados à sua dependência de um número pequeno de protocolos.
Outros desenvolvimentos
Segunda versão (V2) do Wormhole
Leia Também
Embora IBC conecte Terra a blockchains de aplicações específicas na Cosmos, Wormhole conecta Terra a redes como Solana e Ethereum.
Atualmente, embora muitas das pontes (“bridges”) entre blockchains sacrifiquem um grau de descentralização a favor da conveniência, Wormhole afirma reter os benefícios de ambas.
Wormhole opera como uma rede descentralizada de oráculos que retransmite mensagens entre blockchains, dependendo do consenso das blockchains conectadas para aceitar mudanças de estado entre elas.
Neste momento, US$ 625 milhões em UST foram movimentados a outras blockchains integradas ao Wormhole.
Recentemente, o Wormhole sofreu a maior invasão já registrada no setor DeFi, em que mais de US$ 326 milhões em ether foram roubados da ponte. Desde então, Jump Capital arcou com todo prejuízo, recompensando todos os usuários do Wormhole.
Apesar desse contratempo, Wormhole continua sendo uma das maiores pontes entre blockchains, com mais de US$ 3 bilhões bloqueados.
O crescimento do ecossistema Terra
Muitos projetos foram lançados na Terra após a Columbus-5, apresentando novos casos de uso e utilidade à blockchain.
Recentes lançamentos de projeto, como Astroport, rapidamente alavancaram a liquidez e fizeram Terra se tornar a segunda maior blockchain, atrás do Ethereum, com um valor total bloqueado (TVL) de mais de US$ 26 bilhões, ou quase 7% do TVL de todas as blockchains.
Além de novos projetos, uma crescente gestão de risco na Ozone também poderá impulsionar o TVL de projetos existentes na Terra. Em 2022, Ozone foi lançada com proteção específica no Anchor e, em breve, irá lançar integrações com Mirror e Orion.
Programas de incentivo
Para impulsionar a adesão de UST em outras blockchains, holders de LUNA aprovaram, em novembro de 2021, uma decisão de governança para aplicar US$ 3 milhões de UST (convertida em LUNA) do pool da comunidade para pools de liquidez de diversos protocolos entre grandes redes de primeira camada.
Mais recentemente, holders de LUNA votaram para implementar outro programa de “liquidity mining” (processo em que holders emprestam ativos para uma corretora descentralizada em troca de recompensas) para implementar US$ 2 milhões de LUNA a diversos protocolos na Solana, Oasis e NEAR.
Apesar do crescimento recente entre stablecoins descentralizadas, stablecoins centralizadas ainda dominam a liquidez geral.
Por conta disso, Terra alinhou seus interesses com as stablecoins descentralizadas MIM e FRAX para fortalecer a participação de mercado das stablecoins descentralizadas.
Já que grande parte da liquidez de stablecoins no Ethereum está no Curve, holders de LUNA recentemente votaram para implementar uma grande quantia de capital para incentivar a liquidez de UST no Curve.
Esses incentivos incluem a aplicação de US$ 12 milhões em LUNA para incentivos no protocolo Convex, US$ 250 milhões em UST para “farmar” CVX/CRV no pool USTw-3CRV do Curve e outros US$ 2 milhões em LUNA para incentivos no Tokemak.
Competição
DAI e stablecoins centralizadas
Embora DAI seja tecnicamente uma stablecoin descentralizada, USDC compõem grande parte de sua garantia, fazendo com que DAI seja bastante centralizada em comparação à UST.
Até UST ter ultrapassado DAI em 18 de novembro de 2021, DAI era a maior stablecoin descentralizada por capitalização de mercado. Agora, a oferta de UST é 17% maior do que a de DAI, pois continua crescendo a um ritmo mais rápido do que suas adversárias centralizadas.
Conforme demonstrado no recente período de crescimento da UST, programas de incentivo podem acelerar drasticamente a adesão de uma moeda.
Apesar de UST estar longe de destronar USDC ou USDT, a combinação de recentes preocupações regulatórias com stablecoins centralizadas e a colaboração entre UST, MIM e FRAX para impulsionar a liquidez de stablecoins descentralizadas no Curve, pode mudar essa narrativa mais rápido do que outros podem perceber.
MIM
Neste momento, MIM é mais uma companheira do que adversária. No entanto, é a segunda maior stablecoin realmente descentralizada, seguida de UST.
Embora muitos tipos de ativos geradores de rendimento sirvam de garantia para MIM, UST é a maior garantia de MIM por meio de sua estratégia Degenbox. Isso contribui para uma quantia significativa de depósitos no protocolo Anchor da Terra.
Abracadabra, assim como Terra, também alocou um capital considerável para incentivar o crescimento de UST e MIM no Curve ao comprometer milhões de dólares de emissões de SPELL para incentivos UST-MIM no Votium.
MIM e Abracadabra também fazem parte de um ecossistema maior de projetos conhecido como “Frog Nation” (SPELL, TIME, ICE e SUSHI), liderados pelo desenvolvedor Daniele Sestagalli.
Além do Abracadabra, Wonderland também contribuiu à adesão de UST ao implementar sua recente estratégia de “yield farming” para UST.
Apesar de stablecoins descentralizadas, como MIM, poderem se tornar adversárias da UST a longo prazo se seus fornecimentos começarem a ultrapassar os de stablecoins centralizadas, como USDC e USDT, por enquanto, seu crescimento é simbiótico.
O futuro da Terra
Em 14 de janeiro de 2022, Terra reduziu sua taxa para zero. Stakers de LUNA recebem recompensas por meio de uma combinação de taxas de conversão em blockchain e renda pelas taxas da rede.
A taxa é um impeditivo para desenvolvedores com restrições de capital que querem implementar contratos na blockchain. Terra visa inspirar novos desenvolvedores a criarem na blockchain e promover a inovação ao reduzir a taxa.
Outras propostas recém-aprovadas envolvem a iniciativa contínua de levar a liquidez de UST para fora do ecossistema Terra, fomentando-a ainda mais como uma stablecoin de cadeia cruzada. Este plano inclui a alocação de:
1. US$ 60 milhões em UST para financiar pools do MarketXYZ, Themis e Rari Fuse;
2. US$ 1,7 milhão em UST para permitir “bonds” e incentivos para a OlympusDAO e InvictusDAO;
3. US$ 18 milhões em UST para aumentar incentivos do Votium;
4. US$ 50 milhões para “farmar” TOKE;
5. US$ 1,4 milhão em incentivos para protocolos promissores na Avalanche, Fantom e Moonbeam;
6. US$ 15 milhões para fortalecer a liquidez na ZigZag Exchange, integrando UST na zkSync e StarkNet.
Embora grande parte das recentes propostas de governança visem melhorar a dominância da UST entre blockchains, a mais recente proposta da Terra foi focada no mercado.
Após a aprovação de que US$ 40 milhões do pool da comunidade sejam usados em uma parceria de esportes, Do Kwon, fundador e CEO da Terra, anunciou que a rede iria firmar uma parceria com o Washington Nationals, time americano de beisebol.
Como parte do acordo, UST será um método de pagamento aceito no estádio Nationals Park.
Conclusão
A atualização Columbus-5 da Terra impulsionou UST e a tornou a maior stablecoin descentralizada do mercado, criando um enorme valor para holders de LUNA.
A atualização definiu o caminho para que a adesão de UST continue crescendo em outras blockchains IBC e grandes redes de primeira camada.
O fornecimento de LUNA também vai passar por mais contrações no futuro após as melhorias de queima e staking implementadas na Columbus-5.
Mais recentemente, participantes da Terra definiram iniciativas agressivas que tentam fomentar o crescimento da oferta de UST ao aumentar sua dominância entre blockchains e casos de uso reais.
Se essas iniciativas tiverem sucesso, holders de LUNA irão acumular bastante valor como um resultado direto das mudanças implementadas na Columbus-5.
*Traduzido e editado por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Messari Hub.