Ainda que o mercado cripto esteja sentindo os rescaldos da última crise sistêmica, já é possível enxergar os acontecimentos de um panorama mais amplo. Uma vez que é possível que uma empresa use o dinheiro investido de seus clientes sem nenhuma precaução legal, outros escândalos como os que envolveram a FTX, uma das maiores empresas do mercado, têm espaço para acontecer.
No Brasil, aproximamos-nos cada vez mais da aprovação de um marco regulatório. Isso representará um grande avanço, no que diz respeito ao combate das crises que o mercado enfrentou em 2022.
Ainda estão na memória e são feridas que não cicatrizaram os colapsos de LUNA e de Celsius. São imbróglios que prejudicam a construção da indústria de forma sustentável e impactam negativamente na percepção dos clientes (institucionais e de varejo) sobre os criptoativos.
A comunidade cripto, como um todo, têm grande preocupação com proteção de dados e autonomia sobre seus próprios ativos. Fazer due diligence é uma questão extremamente valorizada e requisito para investir com segurança. Apesar deste pontos ainda existem falhas uma vez que ainda é possível que certos players atuem em todas as funções.
Como é no caso das exchanges, muitas servem não apenas como bolsa, mas como corretora, câmara de compensação e custodiante. Não há freios e contrapesos.
A regulamentação possibilitará alcançar pontos fortes do mercado financeiro tradicional. Dentro dele existem responsabilidades rigorosamente separadas entre as linhas de negócios (comercialização, financiamento e custódia, por exemplo) e as fortalecem com um sistema mais robusto e confiável. Eles são obrigados a manter reservas de capital suficientes e estão sujeitos a supervisão e auditorias.
Compliance ainda é um assunto que divide o mercado, mas apenas um conjunto de regras pode se fazer cumprir as normas que geram segurança. Além disso, questões de seguro são essenciais uma vez que garantem que o cliente não sairá lesado mesmo em casos de falência.
Além de uma regulamentação abrangente, é importante que as regras sigam em evolução conforme o desenvolvimento do mercado. Para o caso em questão, um bom primeiro passo seria um requisito regulatório de que as exchanges mantenham os fundos dos clientes com um custodiante independente e regulamentado.
Assim se encaixam empresas de custódia que operam com várias. Essas entidades têm a responsabilidade fiduciária de proteger os fundos dos clientes, que são segregados, sem risco de falência e nunca re-hipotecados.
Em suma, custodiantes regulados, maior separação dos papéis e melhor segregação entre negociação, financiamento e custódia podem ser considerados bons meios para precaução do abalo de uma crise sistêmica.
Sobre a autora
Juliana Walenkamp é diretora de vendas institucionais da BitGo